sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Losurdo: "Luta de classes continua no centro das questões atuais"


A Câmara Municipal de São Paulo recebeu nesta quinta-feira (3) o filósofo e historiador marxista-leninista italiano Domenico Losurdo que apresentou a conferência “Dimensões e Perspectivas da Luta de Classes”. A atividade também marcou a posse do professor de filosofia e pesquisador João Quartim Moraes na seção paulista da Fundação Maurício Grabois (FMG). 

Por Mariana Viel, da Redação do Vermelho





















O evento, que reuniu intelectuais, militantes de partidos de esquerda, estudantes e representantes de movimentos sociais, foi realizado pela FMG, em parceria com o Portal Vermelho, a RevistaPrincípios, a União da Juventude Socialista (UJS), o Instituto de Estudos Contemporâneos e Cooperação Internacional (IeCint) e o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. 

O filósofo italiano iniciou sua palestra refutando a tese de que a construção do Estado de bem-estar social na Europa teria superado o conceito de luta de classes desenvolvido por Karl Marx. Prova disso são os impactos profundos da crise capitalista no velho continente que, desde 2008, tem elevado o desemprego, reduzido direitos dos trabalhadores e restringido o acesso à saúde e à educação pública. “O estado de bem-estar social na Europa está desmoronando”, afirmou.

Losurdo afirmou a necessidade de compreensão conjunta de três formas de luta de classes: a dos trabalhadores, a da emancipação das mulheres e a resistência das nações colonizadas. “Marx e Engels uniram essas três formas em um gigantesco movimento de emancipação.”

Historicamente, a tentativa dos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial para escravizar os povos eslavos e da Ex-União Soviética e colonizar a Europa Oriental transformou a Batalha de Stalingrado em uma das maiores lutas de classe do século 20. 

Na Ásia, a resistência da China contra o imperialismo japonês e suas pretensões escravistas. Ele disse, nessa ocasião, a liderança e formulação das teses de Mao Tsé-Tung contra a exploração japonesa. “As lutas de classes dos povos oprimidos no mundo revelaram a eficácia do comunismo em diversos processos de emancipação nacional”, enfatizou. 

Emancipação política e econômica
Ainda tratando as lutas de classes nacionais, Losurdo lembrou que além da conquista da independência política, as nações em processo de descolonização devem conquistar sua independência econômica, ou continuarão escravas. A revolução colonial deve, dessa maneira, passar da fase política militar para a econômica. E definiu como um dos fatores essenciais da luta de classes da atualidade o esforço dos países em desenvolvimento para consolidar suas economias e romper o monopólio ocidental da tecnologia. 

Para Losurdo, as três formas de luta de classes continuam no centro das questões da atualidade. Ele lembrou que é preciso voltar a atenção para a questão do Oriente Médio, onde o governo dos Estados Unidos apoia militar e financeiramente forças reacionárias, e a luta contra a colonização clássica da Palestina. “Em minha visão, a luta contra o colonialismo está ficando cada vez mais forte e é uma luta de longo prazo.”

Segundo ele, não há dúvidas de que o Ocidente está perdendo o monopólio tecnológico. Apesar da crise do ponto de vista econômico, os EUA ainda detêm a superioridade militar – mantendo bases em todos os cantos do mundo. “A Europa parece hoje uma constelação de bases militares”. Para Losurdo, é preciso “retomar a luta dos trabalhadores, das mulheres, dos povos e da defesa da paz e radicalizá-las”.

O filósofo marxista ressaltou ainda a importância comercial e política do Brics e elogiou o recente discurso da presidenta Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas. Segundo ele, atitudes como a da mandatária brasileira devem ser exaltadas e encorajadas. 

Seção paulista da Fundação Maurício Grabois















Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente nacional da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, afirmou que há uma grande expectativa em torno do lançamento da seção paulista da FMG. 

“O estado de São Paulo não é apenas um polo econômico, industrial e financeiro do país, mas aqui se localizam grandes universidades, centros de pesquisa e uma grande produção cultural e intelectual. Acredito que a seção paulista da Fundação pode aglutinar um conjunto de intelectuais, pesquisadores e artistas e desempenhar um agenda importante de seminários, debates e elaboração de pesquisas no estado”.

Para João Quartim Moraes, empossado presidente da FMG em São Paulo, o fato de a conferência de Domenico Losurdo coincidir com o lançamento oficial da seção paulista da Fundação evidencia que as ambições são altas. 

Segundo ele, a FMG pretende atuar em “todas as frentes e aparelhos culturais – como universidades e centros de pesquisa – e participar do movimento cultural, da luta de ideias e por valores socialistas”.

Confira abaixo a lista completa da direção da seção paulista da FMG:


1. João Quartim de Moraes – Professor de Filosofia, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, membro da Editoria da Revista Crítica Marxista.

2. André Bezerra – Advogado e eletrotécnico, secretário de Formação e Propaganda do Comitê Estadual de São Paulo do PCdoB, membro da Comissão Nacional de Formação e Propaganda e do Comitê Central.

3. Elder Vieira - escritor, servidor público federal, Chefe da Representação do Ministério do Esporte no Estado de São Paulo.

4. Fernando Garcia de Faria – historiador, coordenador do Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois.

5. Jeosafá Fernandez Gonçalves – doutor em Letras pela USP, é professor e autor de diversos livros e coordenador do Fórum Mudar São Paulo.

6. José Carlos Ruy - jornalista, da equipe do portal Vermelho, editor de A Classe Operária.

7. José Ricardo Figueiredo – engenheiro, professor da Unicamp; autor do livro “Modos de ver a produção do Brasil”.

8. Mariana Venturini – graduada em filosofia, assessora da Secretaria Nacional da Mulher, professora da seção paulista e integrante do núcleo de ensino e pesquisa em filosofia da Escola Nacional do PCdoB. 

9. Mazé Leite – artista plástica, pesquisadora de história da arte, integra movimentos pela democratização da cultura.

10. Pedro Scuro – sociólogo, PhD (Universidade de Leeds, Inglaterra); consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; membro da Comissão Científica da Sociedade Internacional de Criminologia.

11. Rosana Miranda – professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Especialista em Renovação e projetos urbanos em centros históricos pelo Instituto de Estudos de Habitação e Desenvolvimento Urbano em Rotterdam, na Holanda.

12. Rovilson Britto – jornalista, professor da FAPCOM e dirigente do comitê estadual de São Paulo do PCdoB.

 

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