quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

70 anos: Renato Rabelo é homenageado por camaradas e amigos



28 de Fevereiro de 2012 - 13h36

A celebração dos 70 anos do aniversário do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, na noite desta segunda-feira (27), em São Paulo, foi marcada pela demonstração de admiração e respeito de lideranças políticas, dirigentes de diversas frentes do movimento social brasileiro, amigos, familiares e militantes do PCdoB. Os 70 anos de vida de Renato refletem também os 50 anos de luta e dedicação pela construção de uma sociedade mais igualitária e humana.


Gisella Gutarra Sedano
aniversário Renato Ao lado da esposa Conceição Rabelo (Conchita) e dos netos, Renato Rabelo agradece as saudações e as homenagens
A festividade, organizada pela direção nacional do Partido, foi uma homenagem à trajetória política e pessoal de Renato que se une na luta pelo socialismo, pela democracia e na construção de um novo projeto político para o povo brasileiro. “O Renato é uma pessoa que se destaca e vem de uma geração que lutou pela democracia e legou ao país esses momentos importantes que estamos vivendo. Ele engrandece o nosso Partido e nos orgulhamos de tê-lo como líder da nossa corrente de pensamento à qual ele vem dando contribuições importantíssimas”, afirmou o secretário nacional de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino.
 
Haroldo Lima, membro do Comitê Central e da Comissão Política do PCdoB, falou em nome dos companheiros de Partido, amigos e familiares de Renato. Ele relatou um pouco da história política do dirigente comunista e lembrou a eleição de Renato à presidência da União dos Estudantes da Bahia, o período em que esteve na clandestinidade, o trabalho ao lado de João Amazonas e o papel de articulação que Renato protagonizou na Frente Brasil Popular – que levou Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

“No curso desse processo o Renato tem se revelado uma pessoa com muita combatividade, firmeza de princípios e muita flexibilidade tática. É uma pessoa muito hábil – do ponto de vista político – e muito fiel. O Renato é muito fraternal com todas as pessoas que convivem com ele, dentro e fora do Partido e em sua própria família”, afirmou.

Para o senador cearense Inácio Arruda, as comemorações pelos 70 anos recebem tom político em função da liderança nacional de Renato. “Ele é uma figura respeitadíssima em função do grau de amplitude com que ele faz política até hoje, conduzindo o nosso Partido e fazendo política sem distinção. Temos um grande grau de elevação do que é fazer política. Renato é reconhecido pela firmeza nas opiniões que defende e na flexibilidade para ouvir aliados, amigos e até os adversários. É assim que ele também nos ajuda a construir o Brasil”.

O ministro do Esporte Aldo Rebelo ressaltou que a trajetória de Renato é um exemplo para todos os comunistas do Brasil. “O Renato é para o PCdoB a expressão mais elevada do compromisso com os interesses dos trabalhadores e do povo e de abnegação e defesa do Partido e dos interesses partidários”. Em nome da bancada comunista, a líder do PCdoB na Câmara, Luciana Santos, falou do carinho e da admiração dos parlamentares do Partido. A vice-presidente do Partido ressaltou que Renato é o “timoneiro das causas dos comunistas, do dia a dia e dos desafios do país”.

Em seu discurso, Renato Rabelo agradeceu a homenagem e falou do simbolismo e da grande emoção de dividir aquele momento com seus familiares e companheiros. Ele ressaltou que o Partido representou em sua vida a maior universidade, que lhe ensinou a compreensão da ética, do que é tratar o povo e o ser humano. O dirigente nacional falou da importância dos 90 anos do Partido e de seu esforço para honrar os grandes líderes e mártires do PCdoB que deram suas vidas pela causa comunista.

Lideranças nacionais

Lideranças de diversos partidos ressaltaram o grande poder articulador, a firmeza na defesa dos ideais comunistas e o papel histórico que o dirigente do PCdoB protagonizou na construção da Frente Brasil Popular – que representa, a partir da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ascensão das forças populares no Brasil. Politicamente, o dirigente nacional dos comunistas brasileiros é reconhecido por sua habilidade de formulação estratégica e tática.

A presidente Dilma Rousseff enviou uma mensagem reforçando os laços e o compromisso do dirigente comunista na construção do atual projeto político do país e desejando votos de longa vida a Renato. Em entrevista ao Vermelho, o vice-presidente da República, Michel Temer, destacou a capacidade de agregação. “Tenho mantido vários encontros com ele e vejo, em primeiro lugar, a sua capacidade intelectual de formular políticas para o Brasil. Por isso é muito agradável, cívica e politicamente, encontrar com o Renato”. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza, falou do papel que o dirigente comunista representa na política brasileira. “O Rabelo é um grande companheiro, uma pessoa que contribui para o pensamento político, ideológico, social e econômico do movimento de esquerda do Brasil e tenho aprendido muito com ele. Renato é uma figura importante pra todos nós da esquerda no Brasil”.

José Dirceu falou da importância das relações entre o PT e o PCdoB. “Temos uma caminhada comum que já vem de décadas – desde o João Amazonas. Sempre trabalhei muito pela amizade entre o PT e o PCdoB e se o Lula foi presidente, se hoje temos a Dilma presidente e se o Brasil mudou é porque o PCdoB esteve conosco. Esta é uma noite de alegria e reconhecimento pela liderança e pelo papel do nosso amigo Renato Rabelo na presidência do PCdoB e na luta comum”.

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, lembrou que apesar de visões diferentes, ambos os partidos mantêm relações duradouras da época da luta contra a ditadura militar e a redemocratização do país. “Nossas relações com o PCdoB são de longa data. Ele é um dos grandes quadros do comunismo brasileiro e trabalhamos com muito empenho na construção da Frente Brasil Popular. Nós, os comunistas e socialistas, somos antes de mais nada humanistas e defendemos a liberdade”.

O vereador e pré-candidato do PCdoB à Prefeitura de São Paulo, Netinho de Paula, também prestou votos de felicidades a Renato. Também marcaram presença o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o pré-candidato do PT à Prefeitura paulistana, o ex-ministro Fernando Haddad, e o ex-governador José Serra.

Kassab ressaltou a “carreira e o espírito público” de Renato. Já José Serra disse que mantém uma relação indireta com dirigente comunista desde os anos 1960 – durante a fundação da Ação Popular – e que “independentemente de diferenças políticas”, mantém um grande respeito por Renato.


Por Mariana Viel

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Deputados discutem nesta terça Plano Nacional de Educação

27 de Fevereiro de 2012 - 16h11

Sob pressão dos movimentos sociais brasileiros, que prometem endurecer a campanha pela destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Educação, a comissão especial da Câmara que discute o Plano Nacional de Educação (PNE), o documento com as metas para o setor nos próximos dez anos, se reúne nesta terça-feira (28), a partir de 14 horas, para definir o cronograma de trabalhos para o período.

Por Najla Passos*


O relator da matéria, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), ainda não conseguiu concluir a nova versão do seu substitutivo à proposta do governo que, ao ser apresentado, em dezembro do ano passado, gerou críticas dos mais diferentes setores da sociedade e recebeu mais de 450 novas propostas de emendas. “Eu estive trabalhando no texto junto com a assessoria da Câmara, antes do carnaval, e estimo que em 15 dias a nova proposta de substitutivo esteja pronta para ser votada”, afirma.

Segundo ele, a meta da Casa é aprovar a matéria até abril, para que possa ser enviada ao Senado antes que as duas casas paralisem suas atividades por causa das eleições municipais. “Como a matéria é polêmica, minha estimativa é que sofra alterações no Senado e volte à Câmara, para nova discussão. Se tudo correr como previsto, conseguiremos aprová-la até o final deste ano”, acrescenta Vanhoni.

O projeto do governo foi enviado à Câmara em dezembro de 2010. A expectativa dos movimentos sociais era que fosse aprovado ainda no ano passado, já que fixa as metas para o período 2011-2020. Entretanto, o projeto não saiu sequer do âmbito da comissão especial.

O principal ponto de polêmica ainda é o percentual do PIB que deverá ser destinado à Educação. Na proposta original, o governo propunha que chegasse a 7% do PIB até 2020. No seu substitutivo, o relator conseguiu ampliar esse percentual para 7,5% dos investimentos diretos, após muita negociação com a equipe econômica do governo.

Mas os movimentos sociais brasileiros insistem em 10%, a meta definida pela sociedade civil desde a elaboração do primeiro PNE após a promulgação da Constituição de 1988, vetada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesta segunda-feira (27), o governo investe 5% das riquezas produzidas no país em Educação.

Vanhoni já antecipa que o percentual não será revisto no novo substitutivo. Ele afirma estar convicto de que a ampliação para 7,5% do PIB será suficiente para cumprir as 20 metas estipuladas no plano. “A discussão em torno apenas de percentual do PIB é muito abstrata. É preciso ver como nós propomos aplicar esses 7,5%”, alerta ele.

A proposta da sociedade civil organizada, chancelada pela Conferência Nacional de Educação de 2010, defende o investimento mínimo de 10% do PIB com base em estudos de demanda e necessidade de melhorias na qualidade do ensino ofertado. No caso da educação infantil, por exemplo, prevê oferta de creche pública para todas as mais de 11 milhões de crianças brasileiras de 0 a 3 anos.

Hoje, o governo atende apenas 1,8 milhões de crianças nesta faixa etária e propõe ampliar a oferta de creche, em 10 anos, para 50% do total, ou seja, 6 milhões de crianças. “Há famílias que preferem cuidar dos seus filhos em casa e colocá-los em creches particulares. Não temos uma noção exata da demanda e, por isso, acreditamos que atender 50% das crianças já será um grande salto”, justifica o deputado.

As diferenças entre os projetos da sociedade civil e o substitutivo do relator também estão nos valores destinados ao cumprimento das metas. No caso das crianças de 0 a 3 anos, os movimentos defendem a aplicação de R$ 6,8 mil anuais por criança. O substitutivo fixa R$ 3,5 mil. “Hoje, o governo emprega R$ 2,2 mil, o que é pouco para atender a demanda necessária. Mas, com base nas consultas que fizemos, acreditamos que R$ 3,5 mil é suficiente”.

Uma segunda diferença gritante está justamente na outra ponta. Hoje, o Brasil possui menos de 7 milhões de jovens no ensino superior, 70% deles em instituições privadas. Propõe, em dez anos, aumentar para 12 milhões de jovens, 40% em universidades públicas presenciais. Os movimentos querem 70% dos jovens em universidades públicas, e todos eles cursando ensino presencial.

“O custo anual de um aluno em ensino presencial é de R$ 15 mil, enquanto no ensino à distância é de R$ 3 mil. A proposta do governo é criar 100 mil vagas públicas por ano. Portanto, com os 7,5% do PIB, o desafio de saldar a dívida histórica que temos com a juventude brasileira já irá avançar muito”, acrescenta.

*Najla Passos é jornalista.

Fonte: Carta Maior


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Google vai divulgar dados de usuários; aprenda a se proteger

25 de Fevereiro de 2012 - 10h15

A nova política de privacidade do Google entra em vigor em todo o mundo em 1º de março, mas já desperta polêmica entre os internautas. No final de janeiro, a companhia anunciou que iria juntar os dados coletados dos usuários em todos os serviços que oferece, entre eles email, redes sociais e YouTube, para criar uma experiência “simples e intuitiva”.


A ação visa eliminar os obstáculos que a gigante da internet enfrenta para usar informações de um usuário do Gmail para o YouTube, por exemplo. Segundo a empresa, suas mais de 70 políticas diferentes, ou termos de uso assinados pelos internautas, vão ser compactadas em uma principal e 12 outras.

A mudança deve ajudar os anunciantes a encontrarem potenciais clientes e a personalizar as buscas dos usuários, seguindo, por exemplo, informações enviadas em emails.

A Microsoft lançou anúncios dizendo que seus serviços preservam os usuários e reguladores da União Europeia protestaram contra a política, além de pedirem mais tempo antes de sua aplicação para analisar se a privacidade dos usuários estaria devidamente protegida.

O Centro para Democracia Digital dos Estados Unidos também apresentou uma reclamação a Federal Trade Commission (FTC), na qual solicita que o Google seja processado para eliminar a nova politica de privacidade e multado. Caso isso ocorra, a FTC pode impor multas de mais de 16 mil dólares por dia para cada violação.

Mas ainda há tempo para aqueles que quiserem manter seus passos na internet em segredo –antes que o Google construa um perfil permanente que pode incluir informações pessoais como idade, sexo, localização e até mesmo sexualidade – antes da mudança.

Até 29 de fevereiro, é possível apagar o histórico de navegação, que vai limitar a extensão dos tópicos acompanhados pelo Google, que pode incluir os seus “segredos virtuais”.

Veja os três passos abaixo:

1 – Acesse a homepage do Google e faça o login em sua conta de email. Após isso, clique em cima do login na home para habilitar um menu. Entre na opção “Configurações de Conta”.

2 – Encontre a sessão “Serviços” e o link “Veja, ative ou desative o Histórico da web”. Clique em “Acessar Histórico da Web”.

3 – Na próxima página, clique na aba “Remover todo o histórico da Web”.

Desabilitar o histórico não evita que o Google use os dados para fins internos, mas a empresa irá torna-los anônimo em 18 meses. Além disso, a busca personalizada é desativada.

Mesmo que o usuário não esteja logado em seu email, o Google pode traçar o seu perfil pelo IP do computador. Logo, a forma mais segura de limpar um histórico pessoal é logando-se a sua conta.

Publicado na Carta Capital

Morte na Antartica e atraso na ciência brasileira

25 de Fevereiro de 2012 - 19h50

Confirmada a morte de dois militares em incêndio na Antartica


O ministro da Defesa, Celso Amorim, confirmou neste sábado (25) a morte dos dois militares brasileiros que haviam desaparecido durante incêndio na Estação Comandante Ferraz, na Antártica: o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha. Eles participavam do grupo de apoio que tentava apagar o incêndio originado na casa de máquinas da base.


“Num ato de heroísmo, eles estiveram justamente no local de maior risco, na tentativa de debelar o incêndio e não conseguiram. Todos os pesquisadores e funcionários civis foram resgatados e já se encontram no continente, no Chile, e no domingo (26) já devem estar de volta ao Brasil”, disse Amorim.

Segundo o ministro, 12 militares da Marinha, inclusive o comandante da base, ficaram na base chilena, que é vizinha à brasileira na Ilha Rei George, na Antártica. Eles devem retornar a Comandante Ferraz, para ajudar no trabalho de perícia e no resgate dos dois corpos. Um navio da Marinha brasileira também se deslocou para a Ilha Rei George, para ajudar na tarefa.

Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Militares recuam de críticas a Dilma sobre busca pela verdade

24 de Fevereiro de 2012 - 15h51

Os presidentes dos clubes militares da reserva das três Forças Armadas recuaram das críticas feitas à presidente Dilma Rousseff. Nesta quinta-feira (23) eles publicaram uma nota desautorizando o texto do "manifesto interclubes" que criticava a presidente por não censurar declarações das ministras dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e das Mulheres, Eleonora Menicucci sobre o esclarecimento de crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985).


A presidente convocou o ministro da Defesa, Celso Amorim, para pedir explicações e este se reuniu com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e Aeronáutica, a "desautorização" da publicação do documento, que foi colocado no site do Clube Militar, no último dia 16.

A divulgação do “manifesto interclubes” é uma reação dos militares à lei que cria a Comissão da Verdade — e buscará respostas para os crimes cometidos pelos militares durante os anos de chumbo.

Os presidentes dos Clubes da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, e da Marinha, almirante Ricardo da Veiga Cabral, disseram que em momento nenhum quiseram criticar a presidente Dilma e que a nota foi uma "precipitação", no momento em que os principais assuntos para a categoria, são a defasagem salarial e a necessidade de reaparelhamento das Forças Armadas.

Nesta quinta-feira (23), o "comunicado interclubes" produzido a partir da reunião da semana passado foi retirado do site no início da tarde e por volta das 16 horas, colocada no ar um outro, dizendo que os presidentes desautorizavam o texto. Este desmentido, no entanto, não chegou a ficar meia hora no ar. O Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o desmentido da nota, mas a polêmica já estava criada no meio militar.

Da redação,
com informações das agências

Renato Rabelo: O buraco cambial brasileiro

24 de Fevereiro de 2012 - 12h08

A crise internacional iniciada em 2008 foi o ponto de partida de uma “guerra cambial” imposta pelos Estados Unidos como forma de socializar uma crise criada por eles mesmos. O próprio ministro Guido Mantega cunhou a denominação que obeteve repercussão mundial.


Países como a China e a Índia trataram de atrelar suas moedas ao dólar, fazendo-as flutuar numa escala inversamente proporcional ao movimento da moeda norte-americana. Outros países como a Malásia acirraram suas políticas de controle de capitais. A Coreia do Sul recrudesceu sua política comerical externa.

O Brasil, no quesito câmbio, agiu de forma tímida (como se não estivesse em meio a uma verdadeira guerra) com algumas medidas taxando a entrada e saídas de capitais via Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas o medo de inflação (num mundo onde a pressão inflacionária inexiste) acrescida de uma política de demonstrar “normas de comportamento” no comércio internacional cobrou seu preço.

Nosso déficit em transações com exterior no mês de janeiro foi o maior em 39 anos (US$ 7 bilhões) denunciando algo insustentável no médio e longo prazo.

Mais atos e menos palavratório. O momento é de agir para conter esta sangria. Cortes mais profundos de juros seriam sinais interessantes. Reconhecer que estamos importando até trilhos de trem do exterior é sinal preocupante.

Não existe “país sem miséria” sem indústria. Onde não existe indústria campeia a barbárie. Que verdade cambial é esta que adotamos que nos permite exportar minério de ferro e importar trilhos do exterior?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Parabéns, Goytacaz volta a vencer: 2 X 0 no Sampaio Corrêa


Silesio Correa
O Goytacaz finalmente voltou a vencer na Segundona e com isso afastou a crise que se aproximava do clube. Jogando em casa, no Ary de Oliveira e Souza, o Alvianil bateu o Sampaio Corrêa por 2 a 0, na tarde desta quarta- feira.  Os gols fora do atacante Jessé na primeira etapa e do estreante Gilmax no segundo tempo.
Com essa vitória o time da rua do Gás agora se encontra na quarta colocação do Grupo B com sete pontos conquistados. No sábado, o Goyta encara o América, às 16h, em Edson Passos.

Universidade e inserção social

20/2/2012 16:19,  Por Frei Betto  -  Correio do Brasil

http://correiodobrasil.com.br/wp-content/uploads/2012/02/mundo-300x168.jpgPorque dizemos universidade e não pluriversidade? Trata-se de uma instituição que comporta diferentes disciplinas. Multicultural, nela coabita a diversidade de saberes. O título universidade simboliza a sinergia que deveria existir entre os diversos campos do saber.
Característica lamentável em nossas universidades, hoje, é a falta de sinergia. Carecem de projeto pedagógico estratégico. Não se perguntam que categoria de profissionais querem formar, com que objetivos, de acordo com quais parâmetros éticos.
Ora,quando não se faz tal indagação é o sistema neoliberal, centrado no paradigma do mercado, que impõe a resposta. Não há neutralidade. Se o limbo foi, há pouco, abolido da doutrina católica, no campo dos saberes ele nunca teve lugar.
Um cristão acredita nos dogmas de sua Igreja. Mas é no mínimo ingênuo, senão ridículo, como assinala o filósofo Hilton Japiassu, um mestre ou pesquisador acadêmico crer no propalado dogma da imaculada concepção da neutralidade científica.
Em que medida nossas instituições de ensino superior são verdadeiramente universidades, ou seja, se regem por uma direção, um enfoque dialógico, um projeto pedagógico estratégico? Ou se restringem a formar profissionais qualificados destituídos de espírito crítico, voltados a anabolizar o sistema de apropriação privada de riquezas em detrimento de direitos coletivos e indiferente à exclusão social?
A universidade, como toda escola, é um laboratório político, embora muitos o ignorem. E a política, como a religião, comporta um viés opressor e um viés libertador. Como diria Fernando Sabino, são facas de dois legumes…
Um dos fatores de dessa alienação da universidade reside na extensão universitária.Ela é a ponte entre a universidade e a sociedade, a escola e a comunidade.
As universidades nasceram à sombra dos mosteiros. Estes, outrora, eram erguidas distantes das cidades, o que inspirou a ideia de campus, centro escolar que não se mescla às inquietações cotidianas, onde alunos e professores, monges do saber, vivem enclausurados numa espécie de céu epistemológico. Como assinalava Marx, dali contemplam a realidade, tranquilos, agraciados pelas musas,encerrados na confortável câmara de uma erudição especializada que pouco ou nada influi na vida social.
Essa crítica à universidade data do século 19, quando teve início a extensão universitária. Em 1867, a Universidade de Cambridge, Inglaterra, promoveu um ciclo de conferências aberto ao público. Pela primeira vez, a academia abria suas portas a quem não tinha matrícula, o que deu origem à criação de universidades populares.
Antonio Gramsci estudou numa universidade popular na Itália. A experiência o fez despertar para o conceito de universidade como aparelho hegemônico que se relaciona com a sociedade de modo legitimador ou questionador. Para ele, uma instituição crítica deveria, através dos mecanismos de extensão universitária,produzir conhecimentos acessíveis ao povo.
Na América Latina, antes de Gramsci houve o pioneirismo da reforma da Universidade de Córdoba, em 1918. A classe média se mobilizou para que as universidades controladas pelos filhos dos latifundiários e pelo clero se abrissem a outros segmentos sociais. Fez-se forte protesto contra o alheamento olímpico da universidade, sua imobilidade senil, seu desprezo pelas carências da comunidade do entorno.
A proposta de abrir a universidade à sociedade alcançou sua maturidade, na América Latina, no 1º Congresso das Universidades Latino-Americanas, reunido na Universidade de San Carlos, na Guatemala, em 1949. O documento final rezava: “A universidade é uma instituição a serviço direto da comunidade, cuja existência se  justifica enquanto desempenha uma ação contínua de caráter social, educativo e cultural, aliando-se a todas as forças vivas da nação para analisar seus problemas, ajudar a solucioná-los e orientar adequadamente as forças coletivas.A universidade não pode permanecer alheia à vida cívica dos povos, pois tem a missão fundamental de formar gerações criadoras, plenas de energia e fé,consciente de seus altos destinos e de seu indeclinável papel histórico a serviço da democracia, da liberdade e da dignidade dos homens.”
Sessenta e dois anos depois do alerta de San Carlos, neste mundo hegemonizado por transnacionais da mídia mais interessadas em formar consumistas que cidadãos,nossas universidades ainda não priorizam o cultivo dos valores próprios de nossas culturas nem participam ativamente do esforço de resistência e sobrevivência de nossa identidade cultural. O que deveria se traduzir no empenho para erradicar a miséria, o analfabetismo, a degradação ambiental, a superação de preconceitos e discriminações de ordem racial, social e religiosa.
 
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Boris Vian: o fiasco dos agentes secretos franceses em Homs

18 de Fevereiro de 2012 - 15h28

Enquanto Paris acusa Damasco de ter organizado o assassínio do jornalista da France-Télévisions, Gilles Jacquier, em Homs, uma equipe de jornalistas russos acaba de apresentar uma outra versão diferente dos fatos. Segundo o seu inquérito, o senhor Jacquier comandava, sob a cobertura da imprensa, uma operação dos serviços secretos militares franceses que redundou em fiasco.

Por Boris Vian*


As acusações francesas não passam de uma forma de mascarar a responsabilidade de Paris nas ações terroristas empreendidas para desestabilizar a Síria.

O jornalista francês Gilles Jacquier foi morto quando fazia uma reportagem em Homs, na quarta-feira, 11 de janeiro. Tinha ido cobrir os acontecimentos na Síria para o magazine Envoyé spécial.

Persuadido de que não havia grupos terroristas, mas uma revolução reprimida em sangue, tinha recusado a proteção dos serviços de segurança e não usava capacete nem colete anti-balas. Com outros colegas que partilhavam as suas convicções, alugaram três minibuses e encontraram "pontos fixos", quer dizer, pessoas locais capazes de ajudá-los a encontrar pontos de referência, a marcar encontros e serviços de tradutores.

Todos em conjunto tinham pedido para encontrar-se com representantes alauitas antes de se dirigirem para os bairros revoltados de Bab Amr e Bab Sbah. Chegados ao Hotel As-Safir, tinham reencontrado por acaso um capitão que lhes propôs acompanhá-los com o seu destacamento até ao bairro alauita de Najha onde eram esperados por um assistente do governo de Homs.

Com a sua ajuda, os jornalistas puderam encontrar personalidades e interrogar as pessoas na rua. Às 14h45mins, a representante do governo tinha-lhes pedido que abandonassem o local o mais depressa possível, pois o cessar-fogo acabava de fato, em cada dia, às 15 horas precisas. No entanto, os jornalistas da rádio televisão belga flamenga (VRT) tinham-se aventurado mais longe em casas particulares até ao bairro de Akrama, pelo que o grupo demorou mais tempo a sair dali.

Membros da associação das vítimas do terrorismo que tinham previsto manifestar-se em frente de um carro alugado pelo Ministério da Informação para cerca de quarenta jornalistas anglo-saxões, mas que não os tinham encontrado, acharam que seria útil gritarem slogans pelo presidente Bachar em frente das câmaras de televisão que ali se encontravam. Às 15 horas, como em cada dia, a batalha de Homs recomeçou. Um projétil explodiu no terraço de um edifício, destruindo um reservatório de óleo lubrificante.

Um segundo projétil caiu sobre uma escola, depois um terceiro sobre os manifestantes pró-Assad, matando dois deles. Os jornalistas subiram ao terraço para filmar os estragos. Houve uma calma. Gilles Jacquier, pensando que os tiros tinham acabado, desceu com o seu ajudante para ir filmar os cadáveres dos manifestantes. Chegado ao vão da porta foi morto com seis militantes pró-Assad por uma quarta explosão, que o projetou sobre a pessoa que lhe servia de guia. Essa jovem foi ferida nas pernas.

Na confusão geral, o morto e a ferida foram evacuados em carros para o hospital. Este incidente fez nove mortos no total e vinte e cinco feridos.

A batalha de Homs prosseguiu com numerosos outros incidentes durante a tarde e a noite. À primeira vista, tudo era claro: Gilles Jacquier tinha morrido por acaso. Encontrava-se no lugar errado no momento errado. Sobretudo, as suas convicções sobre a natureza dos acontecimentos na Síria levaram-no a acreditar que só devia recear as forças governamentais e que não corria nenhum risco fora das manifestações anti-regime. Por isso tinha recusado uma escolta, não tinha usado capacete e colete anti-balas, não tinha respeitado a hora fatídica do fim do cessar-fogo. Definitivamente, não tinha sabido avaliar a situação, porque foi vítima da diferença entre a propaganda dos seus colegas e a realidade que ele negava.

Nestas condições, não se compreende muito bem porquê, depois de uma primeira reação de cortesia, a França, que tinha legitimamente exigido um inquérito às circunstâncias da morte do seu cidadão nacional, insinuou subitamente que Gilles Jacquier tinha sido assassinado pelos sírios e recusou que a autópsia tivesse lugar no local em presença dos seus especialistas. Estas acusações foram publicamente explicitadas por um dos jornalistas que acompanhavam Jacquier, Jacques Duplessy.

Para a imprensa francesa os fatos não foram tão evidentes como parecia: persiste uma dúvida sobre a identificação dos projéteis mortais. Segundo a maior parte dos repórteres, tratava-se de tiros de morteiros. O exército sírio confirma que esta arma é quotidianamente utilizada pelos terroristas em Homs. Mas segundo alguns testemunhos, foram roquetes atirados a partir de um lança-roquetes portátil, e a televisão privada síria Ad-Dúnia mostrou as asas do roquete. Há quem se apaixone por este assunto, não sem segundas intenções.

Na França, os anti-Assad acreditam na versão dos morteiros, e acusam o exército sírio de o ter atirado. Enquanto que os pró-Assad acreditam no roquete e acusam os terroristas. Em definitivo, este detalhe não prova nada: é certo que o exército sírio utiliza morteiros, mas não deste calibre e os grupos armados utilizam lança-roquetes, mas nada impede cada campo de variar o seu armamento.

De resto, se é que se tratou de tiros de morteiro, os dois primeiros permitiram ajustar o tiro do terceiro e quarto para atingir os manifestantes que eram o seu alvo. Mas se se tratava de tiros de roquete, era possível visar com muito mais precisão e matar uma pessoa em particular. A tese do assassínio tornava-se possível.

O estudo das imagens e dos vídeos mostra que os corpos das vítimas não estão ensangüentados e crivados de estilhaços, como quando da explosão de um obus que se fragmenta. Pelo contrário, eles estão intactos, correndo o sangue, segundo os casos, pelo nariz e os ouvidos, como quando da explosão de um roquete termobárico, cujo impacto comprime os órgãos provocando hemorragias internas. Da mesma forma, os pontos de impacto sobre o passeio não indicam nenhum traço de fragmentação.

Note-se que certos testemunhos falam de granadas, o que não faz de modo nenhum avançar a nossa compreensão, porque existem granadas de sopro e granadas de fragmentação. Em definitivo, só a hipóteses de arma de sopro (RPG ou granada) é compatível com os elementos médico-legais visíveis nas fotos e vídeos. Acorrendo ao local, os investigadores sírios e os observadores da Liga Árabe encontraram caudas de morteiro de 82 mm e uma cauda de roquete de fabrico israelense.

Por conseqüência, as autoridades francesas têm razão para estudar a possibilidade do assassínio, mesmo quando se trata para eles de aproveitar um drama para instrumentalizar e justificar a sua ambição de guerra contra a Síria. Portanto, os diplomatas franceses, se tiverem por objetivo procurar a verdade, têm também manifestamente o objetivo de assegurar-se de que os sírios não a descubram. Assim, impediram todos os francófonos de se aproximarem da fotógrafa Caroline Poiron, companheira do jornalista Gilles Jacquier, que velava o seu corpo durante toda a noite. A jovem, em estado de choque, não conseguia dominar o seu comportamento e teria muito que dizer.

Depois, proibiram a autópsia no local e repatriaram o corpo o mais depressa possível. Qual é portanto a hipótese por que a França quer verificar sozinha, mas esconder do grande público?
Aqui começa o nosso mergulho no mundo dos serviços especiais ocidentais que conduzem na Síria uma "guerra de baixa intensidade", comparável às que foram organizadas nos anos oitenta na América Central ou, mais recentemente, na Líbia, para preparar e justificar a intervenção da Otan.

Gilles Jacquier era um repórter apreciado pelos seus colegas e premiado profissionalmente (Prémio Albert Londres, Prémio dos correspondentes de guerra, etc.). Mas não era só isto…
Numa carta com o cabeçalho de France-Télévisions , datada de 1 de dezembro de 2011 , as redatoras chefes da revista Envoyé spécial – a emissão política mais vista no país – tinham solicitado um visto do ministério sírio da informação [1] .

Pretendendo querer verificar a versão síria dos acontecimentos segundo a qual "os soldados do exército sírio são vítimas de emboscadas e de grupos armados que grassam pelo país" elas pediam que Jacquier pudesse seguir o quotidiano dos soldados da 4.ª divisão blindada, comandada pelo general Maher-el-Assad (irmão do presidente) e da 18.ª divisão blindada, comandada pelo general Wajih Mahmud. As autoridades sírias ficaram surpreendidas pela arrogância dos franceses: por um lado, enquadram grupos armados que atacam as tropas leais, por outro pretendem infiltrar um agente da informação militar nas suas tropas, para informar os grupos armados das suas deslocações. Não foi dado seguimento a este pedido.

Assim, Gilles Jacquier tentou uma outra via. Pediu a intermediação de uma religiosa greco-católica de linguagem franca, estimada e por vezes temida pelo poder, Madre Agnès-Mariam de la Croix, com um cargo de direção no Mosteiro Saint-Jacques de l'Intercis. Ela tinha facilitado a primeira viagem da imprensa aberta aos jornalistas ocidentais. A célebre religiosa pressionou portanto o Ministério da Informação, até à obtenção de um visto para Jacquier e o seu acompanhante.

As coisas aceleraram-se em 20 de Dezembro – outros média pediram à Madre Agnès- Mariam que lhes obtivesse o mesmo favor. Quanto a Gilles Jacquier, este solicitou outro visto para a sua companheira, a fotógrafa Caroline Poiron, e para a repórter Flora Olive, representando as duas o Paris-Match. No total, devia ser um grupo de quinze jornalistas franceses, belgas, holandeses e suíços. Com toda a verosimilhança, os franceses e os holandeses eram na maior parte, ou todos, agentes da DGSE [2] . Havia urgência na sua missão.

Aqui, é indispensável fazer uma pequena retrospectiva:

Para enfraquecer a Síria, os grupos armados pela Otan empreendem diversas ações de sabotagem. Embora o centro histórico da rebelião dos irmãos muçulmanos seja Hama, e que só dois quarteirões de Homs os apoiem, a Otan escolheu esta cidade para concentrar as suas ações secretas.

Com efeito, ela está no centro do país e constitui o principal nó de comunicação e de abastecimento. Sucessivamente, os "revolucionários" cortaram o oleoduto, depois os engenheiros canadianos que dirigiam a central eléctrica foram repatriados a pedido dos Estados Unidos. Enfim, cinco engenheiros iranianos encarregados de fazer voltar a funcionar a central foram retirados em 20 de Dezembro de 2011.

Os média receberam uma reivindicação de uma misteriosa brigada contra a expansão xiita na Síria. Depois, a embaixada confirmou ter iniciado uma negociação com os raptores de reféns. Bastava que estes transmitissem uma "prova de vida", por exemplo uma fotografia datada dos reféns de boa saúde. Contra toda a expectativa, esta não foi enviada diretamente à República Islâmica, mas publicada pelo Paris-Match (edição de 5 de Janeiro).

Um fotógrafo da revista, dizia-se, tinha conseguido entrar secretamente na Síria e realizar essa foto. Talvez os leitores franceses se tivessem interrogado se esse repórter era realmente humano para tirar fotografias de reféns sem lhes ter prestado auxílio. Pouco importa, a mensagem era clara: os engenheiros estão vivos e os raptores de reféns são controlados pelos serviços franceses. Nenhuma reação oficial nem de um lado nem do outro. Era portanto porque as negociações continuavam.

Chegados a Damasco, a mídia franceses e holandeses foram alojados pelas autoridades em hotéis diferentes, mas Jacquier reagrupou-os imediatamente no Fardos Tower Hotel. O diretor deste estabelecimento não é outro senão Roula Rikbi, a irmã de Bassma Kodmani, porta-voz do Conselho Nacional, com base em Paris. O hotel serve de esconderijo aos serviços secretos franceses.

Em resumo, um agente de informação militar, tendo por companhia um fotógrafo cujo colega conseguiu entrar em contacto com os reféns, formou um grupo de "jornalistas" com uma missão ligada aos reféns, provavelmente a sua entrega por franceses aos iranianos. Dirigiram-se a Homs depois de se terem desembaraçado dos serviços de segurança, mas o chefe da missão foi morto antes de poder estabelecer o contacto previsto.

Compreende-se que, nestas condições, o embaixador da França se tenha tornado nervoso. Ele tinha o direito de considerar que Gilles Jacquier tivesse sido assassinado por membros dos grupos armados, inquietos com a deslocação da aliança militar França-Turquia, e extremistas de uma guerra da Otan. Hostis à negociação em curso, teriam feito ir por água abaixo a sua conclusão.

O embaixador da França, que não tinha tido tempo de reconstituir os acontecimentos, esforçou-se portanto para impedir que os sírios o fizessem. Contrariamente às normas internacionais, recusou que a autópsia fosse realizada no local, em presença do especialista francês. Os sírios aceitaram infringir essa regra, com a condição de fazerem uma radiografia. Na realidade, eles aproveitaram para fotografar o cadáver sob todos os ângulos. Segundo as nossas informações, o corpo apresenta vestígios de estilhaços no peito e de cortes na fronte.

Depois, o embaixador levou nos seus carros blindados os " jornalistas " franceses e o holandês, e os restos mortais do defunto. Partiu com eles acompanhado por uma forte escolta, deixando em terra a Madre superiora estupefacta e um jornalista da Agência France Presse: o diplomata apressado tinha recuperado os seus agentes e abandonado os civis. Os carros blindados foram recuperar as bagagens de cada um ao hotel As-Safir de Homs, depois regressaram à embaixada em Damasco.

O mais depressa possível, chegaram ao aeroporto, onde um avião especial fretado pelo Ministério francês da Defesa evacuou os agentes para o aeroporto de Paris-Le Bourget. Os agentes secretos não fingiram mais realizar as reportagens na Síria, esqueceram-se de ter obtido um prolongamento do seu visto, e fugiram à justa antes que os sírios descobrissem o arranjinho desta operação falhada.
Chegado a Paris, o corpo foi imediatamente transferido para o instituto médico-legal e autopsiado, antes da chegada dos peritos mandatados pela Síria. Violando os processos penais, o governo francês invalidou o relatório da autópsia, que cedo ou tarde seria rejeitado pela Justiça, e afastou definitivamente a possibilidade de estabelecer a verdade.

A fim de impedir os jornalistas franceses (os verdadeiros) de meter o nariz nesta questão, os jornalistas (os falsos) que acompanhavam Jacquier, uma vez regressados a França, multiplicaram-se em declarações contraditórias, mentindo de maneira desavergonhada, para criar a confusão e mascarar a verdade.

Assim, embora oito manifestantes pró-Assad tenham sido mortos, Jacques Duplessy denuncia "uma cilada montada pelas autoridades sírias " para eliminá-lo com os seus colegas. Verificado isto, o senhor Duplessy trabalhou afincadamente para uma ONG, conhecida por ter servido de biombo …à DGSE. Para os iranianos e os sírios, a morte de Jacquier é uma catástrofe. Deixando circular o grupo de espiões franceses e vigiando-o discretamente, esperavam chegar aos raptores e, ao mesmo tempo, libertar os reféns e prender os criminosos.

Desde há um ano, os serviços secretos militares franceses foram postos ao serviço do imperialismo estado-unidense. Organizaram um início de guerra civil na Costa do Marfim. Em seguida, manipularam o separatismo da Cirenaica, para dar a idéia de uma revolução anti-Kadhafi e apoderar-se da Líbia. Agora, enquadram os cadastrados recrutados pelo Qatar e a Arábia Saudita para semear o terror, acusar o governo sírio e ameaçar com a sua mudança.
Não é certo que o povo francês gostasse de saber que Nicolas Sarkozy rebaixou o seu país ao nível de um vulgar raptor de reféns. Não devemos admirar-nos se um Estado que pratica o terrorismo em terra alheia, se venha a confrontar um dia com ele na sua própria terra.

Notas

[1] Este documento pode ser visto no final da página do sítio em referência
[2] Direção Geral da Segurança Exterior – serviço do Estado francês, sob a autoridade do poder executivo, que tem por objetivo a proteção dos interesses franceses, designadamente a proteção dos cidadãos franceses em qualquer parte do mundo.

*Boris Vian é correspondente do Komsomolskaya Pravda em Damasco.

Fonte: Pátria Latina

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Em vídeo, Lula agradece homenagem

19 de Fevereiro de 2012 - 10h03



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou uma mensagem para a escola de samba Gaviões da Fiel, que foi apresentada, neste sábado (18), no Anhembi



Na mensagem, filmada no Hospital Sírio-Libanês, Lula agradeceu "de coração" o empenho de toda a escola, mas explicou que, por recomendações médicas, não poderia participar do desfile no sambódromo.



Emocionado, Lula afirmou que tem certeza que a escola fará um Carnaval inesquecível. Ele ainda disse: "é uma das maiores homenagens que recebi em minha vida".

Recomendações


Boletim médico divulgado neste sábado (18) recomendou que o ex-presidente permanecesse de repouso.

Ainda de acordo com o boletim, Lula irá para casa, onde realizará o processo de recuperação e receberá assistência fonoaudiológica e fisioterápica, e os exames de reavaliação do tratamento oncológico deverão ocorrer entre quatro e seis semanas.

Com agências

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Ministra defende federalização de crimes de extermínio

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, se referiu às mortes de dois jornalistas brasileiros, em menos de uma semana, como crimes de extermínio e cobrou do Congresso Nacional a aprovação da proposta que transfere à esfera federal a investigação e o julgamento dos crimes cometidos por milícias ou grupos de extermínio.


A federalização da apuração destes crimes é objeto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 107/11 e do Projeto de Lei 370/07, que tramitam no Congresso Nacional. A primeira, de autoria da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), inclui os crimes de extermínio entre os de responsabilidade federal.

Já o projeto de lei do deputado Luiz Couto (PT-PB), além de tipificar o crime de extermínio e estabelecer que esses delitos sejam investigados e julgados pelas autoridades federais, aumenta as penas de homicídio (simples e qualificado) se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Também prevê pena de reclusão de quatro anos a oito anos para quem participar de milícia privada.

“O governo federal está trabalhando para que o Congresso Nacional aprove o projeto de lei que institui e pune com maior rigor os crimes de extermínio, praticados por organizações criminosas. Ele está parado no Congresso Nacional e precisa ser aprovado”, comentou a ministra ao visitar nesta sábado (18) as instalações do Disque 100, em Brasília. “Precisamos por um ponto final a este tipo de crime."

Especificamente sobre as mortes dos jornalistas Paulo Rocaro e Mario Randolfo Marques Lopes, a ministra disse que são crimes graves, “uma situação grave que ofende e ataca a democracia brasileira, já que estavam cumprindo seu papel de enfrentar grupos criminosos e fazer denúncias relevantes para suas regiões”.

Rocaro foi alvo de um atentado na noite do último dia 12, em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai. Além de fundador do site Mercosulnews, ele era editor-chefe do Jornal da Praça, onde trabalhava há quase 30 anos. Conforme a Agência Brasil noticiou, documentos da Vara do Trabalho de Ponta Porã indicam que, até recentemente, um dos donos do jornal era Fahd Jamil, o Rei da Fronteira. Jamil foi condenado em 2005 a 20 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Rocaro também publicou três livros, entre eles um com denúncias sobre a atuação de grupos de extermínio na fronteira Brasil-Paraguai.

Poucos dias antes de Rocaro ser morto, um outro jornalista, Mário Randolfo Marques Lopes, havia sido assassinado. Lopes, de 50 anos, e sua companheira, Maria Aparecida, foram executados na madrugada do último dia 9, após serem levados da casa dela, no município de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, por homens armados. Os corpos foram encontrados horas depois. Editor do site Vassouras Na Net, o jornalista se tornou conhecido por criticar e denunciar supostas irregularidades que atribuía a servidores públicos da região. Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro ele já havia sofrido um primeiro ataque em julho de 2011.

Agência Brasil

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Leci Brandão: As alegrias do Carnaval

16 de Fevereiro de 2012 - 16h35

O Carnaval sempre fez parte da minha vida e me deu grandes alegrias. Mas o de 2012 ficará especialmente marcado em minha memória por dois grandes motivos. Primeiro porque minha vida será tema de enredo da escola de samba Acadêmicos do Tatuapé, do Grupo de Acesso de São Paulo. Segundo foi o convite que recebi para desfilar na Vai-Vai, que neste ano fará bela homenagem às mulheres com o enredo “Mulheres que brilham: a força feminina no progresso social e cultural do país”.

Por Leci Brandão*


Ter sua história de vida retratada em um desfile de escola de samba é, em minha opinião, uma das maiores honrarias que uma pessoa pode receber, pois as escolas de samba, apesar das transformações, ainda são espaços de expressão da cultura feita pelo povo. Não bastasse isso, o convite feito a mim pelo presidente Roberto Munhoz, pelo diretor de Carnaval Erivelto Coelho e pelo carnavalesco Mauro Xuxa me encheu de orgulho, pois o desfile deste ano marca o aniversário de 60 anos de fundação da Acadêmicos do Tatuapé.

Igualmente honrada fiquei com o convite feito pela Vai-Vai. Uma das mais tradicionais de São Paulo, a escola vai novamente falar sobre superação, força e garra. Depois da homenagem ao talentosíssimo maestro João Carlos Martins, a escola elegeu a força feminina como tema de seu Carnaval deste ano. A escolha não poderia ter sido mais oportuna, pois vivemos um momento em que as mulheres estão ocupando seu merecido espaço na sociedade. O maior exemplo disso foi a eleição de nossa presidenta Dilma Rousseff.

Eu terei a honra de desfilar ao lado de Maria da Penha, mulher destemida, que é um exemplo de perseverança e superação. Também terei a alegria de dividir a passarela com Dona Guga, do Morro da Casa Verde, que vai simbolizar Tia Ciata e as grandes dirigentes dos diversos Carnavais feitos em todo o Brasil.

Leia também:
Mas o que realmente enche minha alma de alegria é ver uma grande escola como a Vai-Vai homenagear as milhões de mulheres brasileiras que _ como dizia o saudoso Gonzaguinha em uma de suas músicas, “seguram a batida da vida o ano inteiro”.

Mais uma vez o Carnaval e os desfiles das escolas de samba mostram que podem ser veículos de ideias transformadoras, de beleza, de poesia e uma forma de reconhecer a história de vida de gente que faz a diferença.

Bom Carnaval!

* cantora, compositora e deputada estadual pelo PCdoB em São Paulo

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Movimento negro ocupa shopping tradicional em São Paulo


13 de Fevereiro de 2012 - 19h15

Cerca de 300 manifestantes da Marcha contra o Racismo, que aconteceu no sábado (11), realizaram um protesto dentro do Shopping Pátio Higienópolis, bairro de classe média alta, em São Paulo (SP). "Por menos que conte a História, não te esqueço meu povo, se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo “, entoavam em coro cadenciado dentro do tradicional centro de compras paulistano. A ação foi documentada em dois vídeos postados na internet.

 O ato começou por volta das 14h, no Largo Santa Cecília, região central, e seguiu rumo ao shopping, onde uma carta com denúncia sobre fatos recentes discriminatórios, como o do universitário negro que foi agredido dentro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, o Pinheirinho e Cracolândia.


O manifesto também destacou o caso da estagiária do Colégio Internacional Anhembi Morumbi que foi orientada a alisar os cabelos para manter “boa aparência”. A ameaça de fechamento do Núcleo de Consciência Negra, dentro da USP, que funciona há 24 anos no campus Butantã, também foi lembrada.

“É interessante notar que houve reações das pessoas fechando lojas. A entrada de negros no local acabou chocando. E era essa a intenção do protesto: ocupar um espaço onde tradicionalmente é frequentado por brancos, em sua grande maioria. Houve uma tentativa dos seguranças de impedir nossa entrada. Mas éramos muitos, o que inibiu a ofensiva”, contou ao Vermelho Leandro Salvático, coordenador do Núcleo de Consciência Negra, que integra o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, que promoveu a atividade.

O Comitê é formado por diversas entidades Associação de Amigos e Familiares de Presos e Presas (Amparar), União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro), Anastácia Livre, Centro Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes (Uninove), Centro de Resistência Negra, Círculo Palmarino, Mães de Maio, Movimento Negro Unificado (MNU), Movimento Quilombo Raça e Classe, entre outras.

A próxima atividade do Comitê está marcada para o dia 21 de março e pretende agregar entidades dos movimentos sindical e estudantil: “Fomos lá para mostrar que o negro também pode ocupar um espaço como aquele também como consumidor e não somente como empregado da loja ou da área de segurança. Nos vídeos é possível ver que alguns dos trabalhadores estavam solidários com a causa. Foi uma ação importante para começar a colocar a questão em pauta. Durante este ano teremos muito mais”, completou Leandro.

A USP vai ficar preta

A USP vai ficar preta. Esse é o tema da calourada de 2012 promovida pelo Núcleo de Consciência Negra, na USP. Com muita discussão sobre o racismo e política, as atividades estão marcadas para 1º, 13 e 23 de março, sempre a partir das 18h, dentro do campus Butantã.

Confira os vídeos abaixo:

 




















de São Paulo
Deborah Moreira

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Liberdade: TSE decide essa semana sobre uso do Twitter nas eleições

13 de Fevereiro de 2012 - 10h08

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve continuar nesta semana o julgamento sobre a legalidade de mensagens de cunho eleitoral no Twitter antes de 6 de julho — data em que a propaganda eleitoral passa a ser permitida. O tribunal terá sessões plenárias nesta terça (14) e quinta-feira (16).


O placar está 3 a 2 contra a possibilidade de veicular apoio aos candidatos no microblog. Gilson Dipp — que interrompeu o julgamento na semana passada — deve votar primeiro. Depois será vez do presidente da corte, Ricardo Lewandowski.

Votaram a favor do uso livre do Twitter na pré-campanha Carmen Lúcia e Dias Toffoli. Foram contra Marcelo Ribeiro, Aldir Passarinho e Henrique Neves. Marco Aurélio não votará porque era substituído interinamente por Toffoli, que já votou. Nancy Andrighi substituiu Aldir Passarinho na corte e também não votará.

Eleições 2010

A polêmica sobre o uso do microblog antes do período de propaganda eleitoral permitida começou nas últimas eleições presidenciais. Em 4 de julho de 2010, o ex-deputado federal Indio da Costa (ex-DEM; atual PSD) pediu votos no Twitter para ele e José Serra (PSDB). Indio era candidato a vice-presidente da República na chapa presidencial encabeçada pelo tucano.

Os tweets de Indio foram: “A responsabilidade é enorme. Mas conto com o seu apoio e com o seu voto. Serra Presidente: O Brasil pode mais”; “Vou dar tudo de mim. Vamos para as ruas eleger Serra Presidente”; “A mobilização aqui na rede fará a diferença, conto com você”; e “Juntos aqui na rede faremos a diferença”.

Em 18 de julho do mesmo ano — atendendo a um pedido do Ministério Público Eleitoral (MPE) — o ministro do TSE Henrique Neves aplicou multa de R$ 5 mil contra Indio por propaganda eleitoral antecipada. Ele considerou como propaganda antecipada somente o tweet que pedia votos.

Polêmica

O julgamento em curso ocorre porque Indio da Costa recorreu da decisão. Em 2010, a defesa do político alegou que não houve propaganda antecipada porque consistiu “numa troca de ideias em ambiente restrito” e que a utilização do Twitter “não pode ser considerada como ato que leva ao conhecimento geral uma candidatura e as suas propostas. Trata-se, bem se vê, de uma interlocução entre pessoas que se dispuseram a falar sobre os temas que são de livre escolha, numa comunidade previamente estabelecida”.

Já o ministro Henrique Neves, que aplicou a multa contra Indio da Costa, considerou que “o acesso independe de cadastro, as mensagens são instantaneamente copiadas para as páginas dos seguidores e, possivelmente, são replicadas para tantas outras”. Na decisão pela multa, ele alegou que na mensagem em que pede votos, Indio da Costa “foi além”.

Em contraposição, o ministro Dias Toffoli disse, segundo divulgado pelo site do TSE, que mensagens postadas no Twitter são conversas entre pessoas, comparáveis a conversas telefônicas. Para ele, interferir nessa relação interferiria numa “seara absolutamente individual”.


Com informações

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domingo, 12 de fevereiro de 2012

As bombásticas revelações de Míster DOPS

11 de Fevereiro de 2012 - 9h00

Um agente da repressão pós-64 fala (muito) à repórter Marina Amaral: torturas, assassinatos, intimidades com mídia, os bancos, a CIA…

Por Marina Amaral, da Agência Pública


Aos 80 anos, José Paulo Bonchristiano conserva o porte imponente dos tempos em que era o “doutor Paulo”, delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, “o melhor departamento de polícia da América Latina”, não se cansa de repetir.“O DOPS era um órgão de inteligência policial, fazíamos o levantamento de todo e qualquer cidadão que tivesse alguma coisa contra o governo, chegamos a ter fichas de 200 mil pessoas durante a revolução”, diz, referindo-se ao golpe militar de 1964, que deu origem aos 20 anos de ditadura no Brasil.

Embora esteja aposentado há 27 anos, não há nada de senil em sua atitude ou aparência. Os olhos astutos de policial ainda dispensam os óculos para perscrutar o rosto do interlocutor, endurecendo quando o delegado acha que é hora de encerrar o assunto.

Bonchristiano gosta de dar entrevistas, mas não de responder a perguntas que lancem luz sobre os crimes cometidos pelo aparelho policial-militar da ditadura do qual participou entre 1964 e 1983: prisões ilegais, sequestros, torturas, lesões corporais, estupros e homicídios que, segundo estimativas da Procuradoria da República, vitimaram cerca de 30 mil cidadãos. Destes, 376 foram mortos, incluindo mais de 200 que continuam até hoje desaparecidos.

Os arquivos do DOPS se tornaram públicos em 1992, mas muitos documentos foram retirados pelos policiais quando estavam sob a guarda do então diretor da Polícia Federal e ex-diretor geral do DOPS, Romeu Tuma. Entre os remanescentes estão os laudos periciais falsos, produzidos no próprio DOPS, que transformavam homicídios cometidos pelos agentes do Estado em suicídios, atropelamentos, fugas. No caso dos desaparecidos, os corpos eram enterrados sob nomes falsos em valas de indigentes em cemitérios de periferia.

Globo, Folha, Bradesco – e Niles Bond

Bonchristiano é um dos poucos delegados ainda vivos que participaram desse período, mas ele evita falar sobre os crimes. Prefere soltar o vozeirão para contar casos do tempo em que os generais e empresários o tratavam pelo nome. Roberto Marinho, da Globo, diz, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”, e ele podia telefonar a Otávio Frias, da Folha de S. Paulo “para pedir o que o DOPS precisasse”. Quando participou da montagem da Polícia Federal em São Paulo, conta, o fundador do Bradesco mobiliou a sede, em Higienópolis: “Nós do DOPS falamos com o Amador Aguiar ele mandou por tudo dentro da rua Piauí, até máquina de escrever”.

O “doutor Paulo” sorri enlevado ao lembrar dos momentos passados com o marechal Costa e Silva (o presidente que assinou o AI-5 em dezembro de 1968, suspendendo as garantias constitucionais da população). “O Costa e Silva, quando vinha a São Paulo, dizia: ‘Eu quero o doutor Paulo Bonchristiano’”, e imita a voz do marechal – ele adora representar os casos que conta.

“Eu fazia a escolta dele e ele me chamava para tomar um suco de laranja ou comer um sanduíche misto na padaria Miami, na rua Tutóia, vizinha ao quartel do II Exército. Todo mundo querendo saber onde estava o presidente da República, e eu ali”, delicia-se.

Gaba-se de ter sido enviado para “cursos de treinamento em Langley” nos Estados Unidos, pelo cônsul geral em São Paulo, Niles Bond, que admirava a “eficiência” da polícia política paulista. E o chamava de “Mr. Dops”.

Orgulha-se também de outro apelido – “Paulão, Cacete e Bala” – que diz ter saído da boca dos “tiras” quando “caçava bandidos” na RUDI (Rotas Unificadas da Delegacia de Investigação), no início da carreira, com um “tira valente” chamado Sérgio Fleury. Anos depois, os dois se reencontrariam na Rádio Patrulha, de onde saiu a turma do Esquadrão da Morte, levada para o DOPS em 1969, quando Fleury entrou no órgão.

“Polícia é polícia, bandido é bandido”, diz Bonchristiano. “Para vocês de fora é diferente, mas para nós, acabar com marginal é uma coisa positiva. O meu colega Fleury merecia um busto em praça pública”, afirma, sem corar.

O delegado Sérgio Fleury e sua turma de investigadores se celebrizaram por caçar, torturar e matar presos políticos no DOPS, enquanto continuavam a exterminar suspeitos de crimes comuns no Esquadrão da Morte.

Conversas gravadas


No decorrer de nove tardes passadas, entre junho de 2010 e janeiro deste ano, em seu apartamento no Brooklin, no 13º andar de um prédio de classe média alta, aprendi a escutar com paciência os “causos” que “doutor Paulo” narra com humor feroz, até extrair informações relevantes. Repetidas vezes eu as confrontava com livros e documentos e voltava a inquiri-lo; a proposta era que ele se responsabilizasse pelo que dizia.

De certo modo, meu embate com o “doutor Paulo” antecipava as dificuldades que serão enfrentadas pela Comissão da Verdade, a ser instalada em abril para apurar fatos e responsáveis – sem punição penal prevista – pelas violações de direitos humanos cometidas pelo Estado entre 1946 e 1988, abrangendo o período da ditadura militar. O objetivo da comissão é devolver aos cidadãos brasileiros um passado que ainda não se encerrou, como provam os desaparecidos, e impedir que funcionários públicos sigam mantendo segredo sobre atos praticados a mando do Estado.

A fragilidade da lei em pontos cruciais, porém, provoca ceticismo nas organizações de direitos humanos, em especial ao permitir o sigilo de depoimentos – ferindo o direito à transparência pública –, e ao não prever punições aos responsáveis pelos crimes, nem mesmo medidas coercitivas para os que se recusarem a depor.

“Não vou depor. Acho bobagem”, diz Bonchristiano. “Nunca pratiquei irregularidades, mas não sou dedo duro e não vejo utilidade nessa comissão”, justifica o funcionário público, aposentado aos 53 anos, e que recebe hoje 11 mil reais por mês de pensão.

Minhas conversas com Mr. DOPS renderam 15 horas de gravação que revelam a mentalidade e as conexões políticas dos policiais que atuaram na repressão do governo militar. E provam que os detentores das informações estão por aí – embora continuem ocultando as circunstâncias exatas em que os crimes foram cometidos e os mandantes de cada um deles.

Torturadores e repressores

O nome de Bonchristiano – que significa “bom cristão” e veio de Salerno, Itália – não consta das principais listas de torturadores compiladas por organizações de direitos humanos.

O Projeto Brasil Nunca Mais, um extenso levantamento realizado clandestinamente entre 1979 e 1985 com base nos IPMs (inquéritos policiais militares), é até hoje a principal referência, embora muitas vezes liste apenas os “nomes de guerra” dos torturadores, já que os reais eram desconhecidos das vítimas.

No tomo II, volume 3, “Os funcionários”, Paulo Bonchristiano é citado oito vezes em operações de repressão. Mas seu nome também não consta da chamada Lista de Prestes, de 1978, liberada recentemente pela viúva do líder comunista, que traz vários nomes completos e os cargos de 233 torturadores denunciados por presos políticos – entre eles 58 policiais do DOPS de São Paulo, 21 deles delegados.

As lacunas dessa história, porém, não permitem descartar a revelação de novos nomes. Entre 1968 e 1976 – o período mais duro da ditadura –, as torturas faziam parte do cotidiano de todos os policiais e militares envolvidos na repressão. O DOPS era “manejado pelos militares como um órgão federal”, como observa o jornalista Percival de Souza no livro “Autópsia do Medo”, do qual o Paulo Bonchristiano participa como fonte e personagem, qualificado como “um dos delegados mais conhecidos do DOPS”.

Nas entrevistas à Pública, o ex-delegado resistiu duas tardes inteiras antes de admitir que se torturava e matava no “melhor departamento de polícia da América Latina” – o que hoje qualquer cidadão pode constatar através dos depoimentos reunidos no “Memorial da Resistência”, museu que desde 2002 ocupa as antigas instalações do DOPS, no centro de São Paulo.

Nem mesmo o fato de Sérgio Fleury ter se celebrizado como torturador impediu Bonchristiano de tentar isentar o órgão: “O Fleury era do DOPS e não era do DOPS, era o homem de ligação do DOPS com os militares, era delegado das Forças Armadas, do Alto Comando. Não obedecia a ninguém, interrogava presos no DOPS, no DOI-CODI, em delegacias, sítios, no país inteiro. Todo o segundo andar do DOPS era dele, tinha que telefonar antes: ‘Fleury eu vou descer pra falar com você’. Se não, a gente não entrava. Ele tinha uma porta lá, todo misterioso”.

Bonchristiano ainda se lembra, e muito bem, das antigas desavenças com o ex-colega.

“O Fleury estava em todas, se metia em tudo, perdi muitos ‘tiras’ para ele porque lá eles ganhavam mais, tinha um ‘por fora’”, contou na segunda entrevista. “Uma vez prendi um cara em um aparelho no Tremembé, e quando estava chegando no DOPS, o Fleury pediu o preso emprestado, não lembro o nome dele. Depois de dois dias sem notícias do preso, fui perguntar para o Fleury, e ele me pediu desculpas, tinha matado o cara que eu nem ouvi”, relata, como se fosse um contratempo na repartição. “Chegou uma hora que só ele que dominava. Só se falava dele”.

“Graças a Deus só se fala no Fleury”, reagiu dona Vera, a elegante senhora com quem o ex-delegado é casado há 53 anos, que entrava na sala trazendo refrigerantes. E emendou: “Zé Paulo, essa entrevista já não está durando demais?”, frase que ela repetiria muitas vezes depois.

Foi na terceira entrevista – quando já acumulávamos seis horas de gravação – que o “doutor Paulo”, sem dona Vera na sala, finalmente confirmou que “sabia de tudo” o que acontecia no DOPS. E se “justificou”: “Eu não podia fazer nada, isso era com o pessoal de lá de cima. Eu era delegado de segunda classe, respondia apenas ao diretor do DOPS, o resto era com eles”.

Bonchristiano tornou-se delegado de 2ª classe em 1969 e foi promovido “por merecimento” a delegado de 1ª classe em 1971.

Naquele mesmo dia, admitiu que frequentava os outros centros de tortura montados em São Paulo a partir de 1969, como a OBAN (Operação Bandeirante) e o DOI-CODI, comandados pelo Exército e compostos de policiais civis e militares instruídos a torturar. Só no período de 1970 a 1974, a Arquidiocese de São Paulo reuniu 502 denúncias de tortura no DOI-CODI paulista, apelidado jocosamente pelos policiais de “Casa da Vovó”.

Bonchristiano disse então que “alguns da diretoria do DOPS” participaram da montagem da OBAN – “os militares não entendiam nada de polícia, depois aprenderam” – e que cederam três delegados no início das operações, todos incluídos entre os torturadores na Lista de Prestes: Otávio Medeiros, ligado ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e à TFP (Tradição, Família e Propriedade), assassinado em 1973 por militantes da resistência armada; Renato d’Andrea, colega de Bonchristiano na Faculdade de Direito da PUC; e Raul Nogueira de Lima, o Raul Careca, ex-investigador subordinado a Bonchristiano e ligado ao CCC, que se tornaria delegado depois.

Levaram também os métodos da polícia, incluindo o pau-de-arara – na origem um cabo de vassoura apoiado em duas mesas, onde os policiais deixavam o preso pendurado por pulsos e tornozelos até que a dor insuportável os fizesse “confessar”.

“O pau-de-arara não é, assim, uma tortura, vai tensionando os músculos, se o cara falar logo não fica nem marca, mas se o cara for macho e segurar…”, explicou-me ele certa vez. Diante de minha expressão escandalizada, concedeu: “choques, sim, dependendo”. E completou: “Naquela época foi diferente, o governo estava tentando melhorar o país. Aí nós tivemos que fazer essa luta. Nunca considerei os comunistas bandidos, considerava ideologicamente inimigos. Tanto que eu sempre falei, não poderia haver mortes”.

Bonchristiano disse que frequentava a OBAN e o DOI-CODI para “buscar presos, não para levar”, buscando distanciar-se das mal afamadas equipes de captura da OBAN, que realizavam prisões ilegais. Alguns eram soltos sem que sua passagem nos órgãos policiais fosse sequer registrada; outros eram enviados para os cárceres do DOPS, onde assinavam as “confissões” e tinham a “prisão preventiva” decretada.

“Maçã Dourada”, os paramilitares e o DOPS


Em seus primeiros anos no DOPS, Bonchristiano se especializou em infiltrações em movimentos sindicais, mas a partir de 1968 os estudantes se tornaram prioridade. “Quem faz revolução é estudante, operário faz revolução na Rússia”, costumava dizer.

Uma das operações das quais mais se orgulha, que o levou às páginas de revistas e jornais, foi o desmantelamento do Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, em 12 de outubro de 1968, comandado por ele. “Prendi 1263 estudantes sem disparar um tiro”, diz – embora os policiais do DOPS e da Força Pública de Sorocaba tenham comprovadamente anunciado sua chegada com rajadas de metralhadora para o ar. “Coloquei a garotada em 100 ônibus cedidos pela (viação) Cometa e levei todo mundo para o DOPS. Separei os líderes e liberei o resto para ir para casa. Não tínhamos vontade de matá-los, eram estudantes”, ironiza.

Entre os 11 líderes que Bonchristiano mandou para o Forte de Itaipu, em Santos, estão os ex-ministros Franklin Martins e José Dirceu, e o líder estudantil Luiz Travassos, já falecido.

“Eu sabia tudo o que o Dirceu fazia porque ele era metido a galã e eu coloquei uma agente nossa para seduzi-lo”, gaba-se o delegado. “Ela era muito bonita, a Maçã Dourada, e me contava todos os passos dele”, diz o delegado. A “estudante” Heloísa Helena Magalhães, uma das 40 moças contratadas pelo DOPS para esse tipo de serviço, segundo ele, chegou a ser secretária de Dirceu na UNE.

Dias antes, havia acontecido o famoso embate entre estudantes de direita reunidos no Mackenzie e estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, na rua Maria Antonia, base de resistência contra a ditadura. Pelo lado da direita, os conflitos foram publicamente liderados por João Marcos Flaquer, fundador do CCC, organização paramilitar idealizada por Luís Antonio Gama e Silva, o jurista que redigiu o AI-5 após se afastar da reitoria da USP para assumir o Ministério da Justiça de Costa e Silva.

Flaquer não era do Mackenzie – estava no último ano de Direito na USP – e dividia o comando dos combates com Raul Nogueira de Lima, o Raul Careca, “tira” do DOPS, subordinado a Bonchristiano. Oficialmente, a polícia só entrou no campus no segundo dia de conflitos, depois que um tiro, atribuído a um membro do CCC, Ricardo Osni, atingiu um estudante secundarista. Mas, segundo Bonchristiano, havia outras forças por trás dos conflitos:

“Foi o João Marcos que fundou o CCC e salvou os estudantes de passarem todos para o comunismo, por isso os americanos também gostavam dele”, diz o ex-delegado. “Ele tinha uma capacidade fabulosa, era forte demais, um cara fora de série, muito meu amigo. Eu o conhecia desde o segundo ano da faculdade, ele queria ser delegado mas a família dele era muito rica e não o queria metido com polícia, então ele vinha para o DOPS comigo. Ele dirigia toda essa parte de estudantes, infiltrava gente entre os esquerdistas. Se tinha alguma coisa que interessava ao DOPS, ele fazia. Mas só com minha anuência”, gaba-se o ex-delegado, que diz participado do planejamento do conflito.

O CCC começou com cerca de 400 membros e chegou a reunir 5 mil homens – boa parte deles militares e policiais. Andavam armados, espancavam estudantes e artistas que se opunham à ditadura e seus atentados mataram pelo menos duas pessoas.

João Marcos Flaquer, Ricardo Osni, João Parisi Filho e José Parisi, “estudantes” do CCC, eram colaboradores do DOI-CODI e constam da lista de torturadores do Brasil Nunca Mais.

Os dois primeiros, bem como o mentor Gama e Silva, também participavam de encontros que reuniam policiais da CIA e do DOPS. “A especialidade da CIA era fomentar organizações paramilitares como o CCC. Acho bem possível que eles recebessem, além de apoio, dinheiro”, diz a socióloga Martha Huggins, da Tulane University, New Orleans, pesquisadora de programas de treinamento de policiais estrangeiros pela CIA.

Afinidades eletivas: o DOPS e a CIA


Bacharel de Direito pela PUC-SP, filho de uma farmacêutica e um bancário, José Paulo Bonchristiano não entrou na polícia política por acaso. Ele e a turma de amigos da faculdade – seis deles futuros delegados do DOPS – eram anticomunistas viscerais e católicos conservadores, e representavam a direita no centro acadêmico 22 de agosto.

Esse perfil agradava ao experiente delegado Benedito de Carvalho Veras, que os recrutou em 1957 quando cursavam o último ano de Direito e faziam estágio na polícia. Veras, que se tornaria secretário de segurança do governador Jânio Quadros no ano seguinte, estava à procura de quadros para modernizar a polícia, sob orientação do Programa do Ponto IV – idealizado pelo presidente americano, Harry Truman, com o objetivo de prevenir a “infiltração comunista”. Isso se traduzia na combinação de ajuda econômica e treinamento das forças policiais dos países da região.

A intenção era “profissionalizar” a polícia brasileira – sobretudo os que lidavam com crimes políticos e sociais – para que barrassem o comunismo sob qualquer governo.

No mesmo ano em que Veras assumia a secretaria de segurança e nomeava Bonchristiano como delegado substituto de polícia, uma deputada (Conceição da Costa Neves, do PTB, que fazia oposição ao então governador Jânio Quadros) denunciava publicamente ter sido vítima de um grampo telefônico. “Foi o primeiro grampo que se tem notícia em São Paulo”, conta o ex-delegado, que conheceu de perto o autor da “inovação tecnológica”, o escrivão Armando Gomide, futuro agente do o Serviço Nacional de Informações (SNI). Gomide havia aprendido o “grampo” com os instrutores do Ponto IV, que também forneceram equipamentos para melhorar a qualidade das gravações.

Em 1962, o programa passou a ser dirigido pelo OPS – Office of Public Safety – uma “célula da CIA incrustrada dentro da AID (Agency for International Development, no Brasil, mais conhecida como USAID)”, nas palavras da professora Martha Huggins.

Além de treinar 100 mil policiais no Brasil, a OPS-CIA selecionava policiais e oficiais militares para estudar em suas escolas no Panamá (1962-1964); e nos Estados Unidos, depois que a Academia Internacional de Polícia (IPA) foi inaugurada em 1963 em Washington, funcionando até 1975. No Brasil, o OPS ficou até 1972, quando o Congresso americano começou a investigar as denúncias de que o programa patrocinava aulas de tortura.

Mr. Dops e Mr. Bond


A IPA foi um das “escolas” nos Estados Unidos que recebeu Bonchristiano antes mesmo do golpe militar. Dois anos antes – logo depois de ser aprovado no concurso para delegado de 5ª classe, o início da carreira, ele já frequentava a casa do diretor DOPS Ribeiro de Andrade, no Jardim Lusitânia, em São Paulo. “Ele estava sempre de portas abertas para nós, ficávamos lá conspirando”, ironiza.

Foi ali que Bonchristiano conheceu o policial americano Peter Costello, que veio para o Brasil em 1962 como instrutor da OPS depois de treinar 2.500 homens em técnicas de controle de distúrbios na Coréia. “Era um sujeito austero, falava português e entendia de polícia, deu curso de algemas, tiro rápido e outros para os policiais do DOPS, conta, completando: “Alguns meninos do CCC também participaram”.

Antes de 1964 os delegados do DOPS já contavam com a ajuda dos americanos para identificar os “comunistas”, muitos deles presos logo depois do golpe. “A ordem que a gente tinha desde o começo era identificar e prender todos os comunistas. Queríamos acabar com o Partido Comunista”, diz Bonchristiano.

Para contribuir com essa missão, “o Ponto IV nos contemplou com fotografias dos frequentadores (brasileiros) dos cursos de guerrilha na China”, relatou Renato d’Andrea, um dos delegados que foram da turma de Bonchristiano na PUC, ao jornalista Percival de Souza.

Na primeira operação importante que Bonchristiano realizou no DOPS, em abril de 1964, foi a vez de retribuir, entregando aos americanos as 19 cadernetas apreendidas na casa do líder comunista Luiz Carlos Prestes. As cadernetas foram xerocadas nos Estados Unidos (aqui ainda não existia o xerox) e retornaram 15 dias depois para o Brasil, servindo de base para a prisão de diversos militantes comunistas.

Só sobraram as cópias das cadernetas de Prestes, hoje nos arquivos do DOPS – os originais, segundo o “doutor” Paulo, desapareceram. Por aqui as cadernetas serviram de base a um dos maiores IPMs da primeira fase da ditadura, e foram usadas como justificativa para a prisão de diversos militantes comunistas como Carlos Marighella, que o próprio Bonchristiano foi encarregado de conduzir a São Paulo, depois que ele havia sido preso e baleado em um cinema no Rio, em 1964. Solto em 1965, Marighella foi assassinado em uma emboscada de policiais do DOPS em 1969.

“É uma bobagem danada dizer que a CIA mandava no DOPS, que nós éramos agentes da CIA, não era nada disso, nós éramos delegados do DOPS”, resmunga o doutor Paulo. “A América do Sul sempre foi o quintal dos Estados Unidos, e eles olhavam muito para nós, tinham medo do Brasil se tornar comunista. E notaram que tinha um departamento de polícia em São Paulo que trabalhava firme nisso. Porque o DOPS de São Paulo fazia todos os levantamentos que conduzissem a algum elemento do Partido Comunista em todo o Brasil, na América Latina inteira”.

“Depois que o presidente Truman criou a CIA, era a CIA que acompanhava o movimento dos subversivos”, continua. “Então trabalhávamos juntos, viajávamos juntos em muitos casos, mas nossas reuniões eram fora do DOPS, na happy hour de bares de hotéis como o Jandaia e o Jaraguá, no centro de São Paulo. O Fleury também ia, o Flaquer, o Gama e Silva e até o Carlos Lacerda (ex-governador do Rio, que conspirou pelo golpe e acabou sendo cassado em 1968). O Niles Bond era chefe lá deles, sujeito bacana, conhecia bem o Brasil, e gostava muito de mim. Me chamava de Mr. Dops, porque eu sempre o atendia em tudo que precisava e era ele que me mandava para Langley”, frisa mais uma vez, mostrando uma foto sua com trajes de George Washington ao lado de um colega fantasiado de soldado federalista, tirada durante uma de suas estadas em Washington (FOTO).

“Não lembro quando foi tirada porque estive oito vezes em cursos de treinamento nos Estados Unidos (entre 1963 e 1970)”, diz ele. “Fiz cursos técnicos, de polígrafo, técnicas de inteligência, infiltração. E sobre o comunismo também, eles tinham verdadeira obsessão. Saí de lá convencido de que eles, sim, são duros, fazem o que for preciso para garantir seus princípios”.

Entre 1959 e 1969, Niles W. Bond foi adido da embaixada no Rio e cônsul geral em São Paulo, segundo seu currículo na Association for Diplomatic Studies and Training, que também aponta a ligação com a CIA desde 1956, quando era assessor político da embaixada italiana.

Langley, frequentemente usado como sinônimo de CIA nos Estados Unidos, é o nome dos arredores da pequena cidade de McLean, na Virginia, onde desde o início da década de 1960 ficam os “headquarters” da agência de inteligência americana, a alguns quilômetros de Washington.

Com o tempo, descobri que quando o doutor Paulo se referia a Langley, significava que estava em treinamento em instalações na CIA, não apenas na sede, mas “em muitos outros lugares, até na Flórida”, como confirmou depois.

As informações sobre a CIA foram reveladas por doutor Paulo quando o inquiri sobre sua transferência, em 1ª de setembro de 1964, para o Ministério da Guerra, lotado no II Exército – informação que obtive checando todas as suas nomeações, transferências e promoções no Diário Oficial (seu currículo oficial omite essa significativa passagem).

Ele diz que foi transferido porque havia sido encarregado (com mais três delegados) de montar um plano de estruturação da Polícia Federal pelo general Riograndino Kruel, irmão do comandante do II Exército, Amaury Kruel (ambos também treinados nos Estados Unidos): “O Edgar Hoover (fundador do FBI) é um cara que admiro muito, e os americanos achavam muito importante montar uma polícia como essa no Brasil – o DOPS paulista já atuava como polícia federal, mas era subordinado à secretaria de segurança estadual, o que atrapalhava nossos movimentos”, explicou.

Até hoje a Polícia Federal registra seus agradecimentos à “revolução de 1964” no site oficial da entidade: “Somente em 1964, com a mudança operada no pensamento político da Nação, a idéia da criação de um Departamento Federal de Segurança Pública, com capacidade de atuação em todo o território, prosperou e veio a tornar-se realidade”.

O capitão americano e a guerrilheira


“Felizmente aqui no Brasil não fizemos como em outros países, matanças. Não houve isso. Houve só morte de quem quis enfrentar a polícia. Isso em qualquer lugar do mundo. Quando uma guerrilha deles lá, um aparelho, matou o nosso colega lá em Copacabana, o Moreira, o que nós tinhamos que fazer? Descobrir os caras e matar também”, ri. “Polícia é assim”, avalia o “doutor” Paulo.

Dulce de Souza Maia, militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) sentiu na carne o peso dessa vingança, quando foi presa na madrugada do dia 25 de janeiro de 1969, enquanto dormia na casa da mãe.

Dois dias antes, vários líderes da VPR tinham sido presos e os repressores já sabiam que ela havia participado de um atentado a bomba no II Exército, que matou o sentinela Mario Kozel Filho. Também havia sido erroneamente apontada como uma das autoras do atentado que em 1968 matou o capitão do Exército americano, Charles Chandler, acusado pelos guerrilheiros de dar aulas de tortura no Brasil a serviço da CIA.

Dulce não sabe dizer se todos que a torturaram no quartel da Polícia do Exército eram militares, mas sua lembrança mais forte é a cara redonda do homem que a estuprou, depois de dar choques em sua vagina. “Eu aguentei 48 horas”, me disse, por telefone. “Depois acabei dando um endereço de um apartamento que eu conhecia porque tinha ido a uma feijoada, não era um aparelho”.

Foi então levada para o DOPS, metida em uma viatura com uma equipe de policiais dos quais não sabe o nome: “Nem lembro das caras, estava quase morta, sei que eles me levaram para a rua Fortunato e apontei o prédio que só reconheci porque tinha parado o meu carro na frente – eu não sabia que o João Leonardo, que inclusive era de outra organização (ALN), morava ali. Lembro só que o vi quando a porta abriu”, lamenta.

A versão do delegado Bonchristiano sobre o mesmo episódio omite detalhes significativos. “Nós estávamos atrás dos caras que mataram o Chandler, coitado, executado na porta da casa dele, no Sumaré. Em 36 horas, o Cara Feia, um tira excepcional que já morreu, sabia quem tinha feito. Aí, uma menina que nós prendemos, nos conta de uma reunião na Rua Fortunato, perto da Santa Casa da Misericórdia. Eu fui com a menina. Mandamos ela tocar a campainha. Peguei o professor que era o dono do apartamento, prendemos. “Voltamos para o DOPS, eu, Tiroteio, Cara Feia e a menina e deixei dois tiras, o Raul Careca e o Nicolino Caveira, para ver se acontecia mais alguma coisa. Telefone. ‘Doutor, o senhor tem que vir aqui, teve um problema’. ‘Muito problema?’ ‘Demais’, quando é demais é que houve morte. Quando cheguei lá, tinha sangue para todo lado. O Raul Careca, que era um ótimo atirador, tinha dado 18 tiros no Marquito (Marco Antonio Brás de Carvalho). Aí que eles me contaram o que tinha acontecido: esse que matou o Chandler tinha chegado e quando abriu a porta, falou assim: “Quem são vocês?” E os tiras: “Nós somos da família”. “Ah é?” E puxou a arma. Os tiras revidaram e ele morreu”.

Bonchristiano jamais mencionou que a “menina” estava quebrada pela tortura. Mas corrigiu a versão que consta do depoimento de Raul Careca em um processo movido pela família de Marquito. Ali ele dizia que foram dois os tiros disparados.

Mano nera

“O caso Chandler gerou consternação, mas, sobretudo preocupação entre o grupo de assessores policiais, pois estes poderiam tornar-se alvo também. Participaram das investigações e ajudaram a identificar as armas utilizadas, enviando o material para estudo em laboratórios de criminalística do FBI”, relata o professor Rodrigo Patto, da UFMG, que estuda a relação entre a USAID e a CIA.

Patto, porém, não sabe dizer se Chandler era de fato da CIA como acreditavam os militantes da ALN e da VPR que decidiram matá-lo. “Ele havia estado no Vietnã, e estava oficialmente em viagem de estudos no Brasil, diz.

Em seguida ao assassinato de Chandler, um ex-instrutor americano de Bonchristiano, Peter Ellena, veio para o Brasil para acompanhar as investigações, o que melindrou o pessoal do DOPS. “Demos para ele a mano nera (símbolo da máfia), a mão negra ensaguentada”, diverte-se, contando que os policiais simularam um bilhete de ameaças dos guerrilheiros para assustar o “gringo”. “Ele ficou morrendo de medo”.

O jornalista Percival de Souza relata que o DOPS produzia relatórios confidenciais diários sobre o caso para o consulado americano, e que descobriram o fio da meada que os levaria a Marquito, “menos de um mês depois do fuzilamento”, registrando em seguida a versão que Bonchristiano continua a defender: um acidente ocorrido na BR-116 no dia 8 de novembro de 1968, na altura de Vassouras (RJ), teria matado Catarina e João Antonio Abi-Eçab que estava em um fusca.

Ao socorrer o casal, a polícia teria encontrado uma metralhadora INA calibre 35, como a que matou Chandler. O DOPS foi avisado, e Bonchristiano viajou imediatamente a Vassouras. Lá o delegado teria descoberto que o casal, militante da ALN, teria ido ao Rio de Janeiro para encontrar Marighella, e que a metralhadora era a mesma que matou Chandler. Tinha encontrado a arma do crime.

O “teatrinho”, como os policiais chamavam as versões criadas para encobrir seus crimes, foi desmontado a partir do relato de um ex-soldado do Exército ao jornalista Caco Barcellos, em 2001, em que reconheceu Catarina “como presa, torturada e morta em um sítio em São João do Meriti (município vizinho a Vassouras)” e afirmou que os órgãos de repressão, após a execução, teriam forjado o acidente.

Mais uma vez a “eficência” do DOPS veio da tortura. Bonchristiano, que insistiu até o fim na desmentida versão, diz que foi cumprimentado por Niles Bond pelo feito. “O Chandler era um dos nossos, frequentava nossas reuniões, o Bond sabia que eu ia resolver o caso”, gaba-se.

Esticadinha no chão

Em 1983, os ventos democratas extinguiram o DOPS e trouxeram um novo delegado geral, Maurício Henrique Pereira Guimarães, que despachou Bonchristiano para uma obscura seção da Secretaria de Justiça, encarregada das viúvas dos soldados mortos na II Guerra. “Preferi me aposentar, hoje não acredito mais em nada. Fiz o que o presidente queria, os militares queriam, e não ganhei nem aquelas medalhinhas que eles davam para todo mundo”, desdenha, referindo-se à Medalha do Pacificador, entregue pelos militares a torturadores famosos.

Mas o Mr. Dops não tem muito do que reclamar. Em seus primeiros oito anos de DOPS subiu da 5ª para a 1ª classe, como só acontecia aos que participavam da linha de frente da repressão. Ficou um tempo na “geladeira” quando um desafeto, o coronel Erasmo Dias, assumiu a secretaria de segurança (1974-1979). Mas conseguiu depois a promoção a delegado de classe especial e se aposentou no topo da carreira, em 1984.

A família, porém, ainda sofre com o passado do delegado. A filha, uma artista plástica, escolheu o prédio do antigo DOPS como cenário de uma performance acadêmica. No Facebook, comenta que o pai ficou “do lado dos algozes da ditadura”, enquanto uma de suas filhas – neta de Bonchristiano – faz campanha pela Comissão da Verdade em seu perfil.

Dona Vera sente a distância dos netos e lembra com amargura do tempo em que o marido trabalhava no DOPS. Via-se sozinha dias a fio com três filhos pequenos: “Eu não podia falar com ele nem por telefone, ligava lá e me diziam ‘a senhora fica tranquila que ele está bem’”, conta. “E eu, apavorada com as ameaças que a gente recebia por telefone, meus filhos iam escoltados para a escola”, diz.

Fonte: O outro lado da Notícia

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Greves. Dialogar é preciso!


Necessitamos de um projeto nacional de segurança pública, que envolva, também uma politica salarial. As greves nos mais diversos estados é fruto de uma politica de arrocho salarial bancada pelos setores mais atrasados da sociedade que consideram e defendem que a solução de todos os problemas econômicos passa pela miséria do povo trabalhador, quando, na verdade, temos que construir um projeto econômico que priorize o trabalho e que renegue a especulação financeira.
Claro, que também, há por traz de tudo isso, a campanha 2014, políticos incitam greve no intuito de desestabilizar governos, e acabam, desestabilizando a sociedade levando medo e insegurança. O Brasil, apesar da crise do capitalismo mundial, passa um momento positivo, temos a chance de deixarmos de ser um país periférico. No entanto, políticos, que adotam o arrocho salarial e o desrespeito aos servidores públicos como politica pública, hoje, estão “apoiando” o movimento grevista, pura hipocrisia!!!!!!!!!!! Um exemplo disso: O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, vai analisar as gravações nas quais políticos conversam com militares grevistas da Bahia e do Rio. Gurgel requisitou as fitas ontem. O procurador quer saber se há indícios de crimes cometidos pelos deputados flagrados nas conversas — os deputados federais Anthony Garotinho (PR-RJ) e Arnaldo Faria De Sá (PTB- SP) e a deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ). Só então o Ministério Público Federal decidirá se pedirá abertura de um inquérito criminal, que seria feito pela Polícia Federal”. (Jornal Extra)

Não a Criminalização!!!!!!!

Mãe de PM preso faz vigília no 8º BPM

Mário Sérgio

Antonio Cruz “Só quero saber o porquê que meu filho foi preso num presídio de segurança máxima”, declarou a artesã Lídia Ribeiro Alves, mãe do cabo Nilton Alves Neto, preso ontem (10) depois de mandado expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RJ). Segundo Lídia, nenhuma irregularidade foi constatada na ficha disciplinar de seu filho e ninguém informou ainda o motivo de sua prisão. De acordo com a assessoria de comunicação do Comando Geral da Polícia Militar, o TJ decretou a prisão preventiva de onze integrantes da corporação por conclamar e incitar a greve. Dez mandados foram cumpridos até ontem (10). A mãe de Nilton relatou que no dia da prisão do militar, ele se apresentou para trabalhar normalmente e por conta de uma mensagem postada em sua página da rede social, referente a uma greve no Ceará, ele teria sido preso:“Não tem cabimentos isso. Primeiro porque a greve no outro estado aconteceu há um mês, segundo porque meu filho não tem nenhum registro de mau comportamento dentro da corporação”. ( Jornal Folha da Manhã)
É um absurdo, criminalizar o movimento, tratar os grevistas como marginais não é solução, enquanto o suposto assassino da juíza em Niterói está preso em um quartel, os grevistas ou supostos grevistas estão presos em Bangu I, é inaceitável, trocar o diálogo pela truculência. Os conservadores falam que é inconstitucional militar fazer greve, mas também, é inconstitucional desviar dinheiro público, superfaturar obras públicas no entanto...
Bom, amigos, é necessário exigir dos governos diálogo e respeito a sociedade.