sábado, 5 de outubro de 2013

Em Israel, grupo debate o retorno de refugiados palestinos


Os jornalistas israelenses Gideon Levy e Alex Levac publicaram um artigo, nesta sexta-feira (4), no jornal Ha’aretz, sobre uma conferência da organização Zochrot, na cidade litroânea de Tel Aviv, para a discussão sobre a promoção do retorno dos refugiados palestinos e o planejamento da reconstrução das suas vilas. “Foi uma alucinação?”, perguntam.


BBC
Refugiados palestinos Refugiados palestinos, em 1948, em tendas que foram aos poucos tornando-se residências permanentes.
 
A conferência aconteceu no museu Eretz Israel, que segundo os jornalistas, é bastante apropriado, já que abriga vestígios de casas palestinas da vila de Sheikh Munis (de onde centenas de palestinos foram expulsos, em 1948), do distrito de Jaffa, onde hoje está Tel-Aviv.

Para os jornalistas, o momento também é propício, principalmente com a retomada das negociações entre israelenses e palestinos, que desta vez tomam mais a sério a discussão sobre o “direito de retorno” dos refugiados, através da pressão internacional.

A organização Zochrot (que significa “memória”, em hebraico) afirma trabalhar para contar à sociedade israelense e judia sobre a Nakba (a “catástrofe”, em árabe) e sobre a contínua injustiça, buscando a responsabilização; procura “desafiar preconceitos e promover a consciência, a mudança política e cultural para criar as condições para o retorno dos refugiados palestinos e para uma vida compartilhada”, de acordo com a sua descrição na página oficial.

A conferência foi intitulada “Da Verdade à Retificação”; cerca de 200 israelenses (judeus e árabes), além de outros convidados internacionais participaram.

De acordo com Levy e Levac, o mais fascinante foi descobrir a existência de grupos de árabe-israelenses (palestinos que vivem em Israel), refugiados de terceira e quarta geração, que não apenas sonham com o retorno, mas que estão planejando, recriando as vilas de seus avós em sua imaginação e projetando a sua reconstrução.

“Algumas dessas pessoas até mesmo vivem entre as ruínas, de forma quase clandestina. Em um país em que há pessoas planejando seriamente a construção do seu Terceiro Templo [judeu]; onde um posto avançado é estabelecido em cada colina árida da Cisjordânia; onde cada sulco de terra é sagrado para os judeus; existe lugar para eles também, é claro”, escrevem.

Mas a construção do Terceiro Templo ou o estabelecimento de inúmeras colônias ilegais, ressaltam os jornalistas, ameaçam os israelenses muito menos do que a implementação de decisões passadas da Suprema Corte de Justiça e dos governos israelenses de devolver aos residentes expulsos de Ikrit, por exemplo, as suas terras.

Há alguns anos, para evitar que o caso abrisse um precedente, juízes ratificaram novamente uma lei da década de 1970, que previa o reassentamento dos refugiados e impedia o seu retorno às suas terras; a vila de Ikrit foi um desses casos. Entretanto, um grupo de jovens vivia em uma igreja da vila e estavam determinados a reconstruí-la.

“Justiça transicional” é o termo legal para o sonho deles, e foi o que tentaram, em vão, durante a conferência. Quando Aziz al-Touri, representante da vila não reconhecida de Al-Araqib, do deserto do Negev (território hoje israelense), perguntou por que os judeus são permitidos mudar-se para a região, para kibutz e outras terras isoladas, mas os beduínos não podem viver em suas vilas, a questão da justiça ecoou pelo museu, dizem os jornalistas, “lembrando a todos, de fato, que 1948 nunca terminou”.

Este é o ano do estabelecimento do Estado de Israel pela Organização das Nações Unidas, após décadas de dominação colonial britânica, que desviou os olhos para a atuação de grupos sionistas e de milícias judias que aterrorizavam vilas palestinas, expulsando seus residentes em episódios hoje conhecidos como Nakba (catástrofe), quando centenas de milhares foram forçados das suas terras.

De acordo com Levy e Levac, a vila de Al-Araqib foi reconstruída 59 vezes, depois de as autoridades israelenses terem-na destruído 58 vezes, “um recorde do Guinnes ainda não publicado”, e que poucas pessoas no país devem ter ouvido falar.

A representação dos colonos e de defensores radicais do sionismo racista no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com pastas importantes e estratégicas, como o próprio Ministério das Finanças, coloca uma dúvida fundamental sobre a possibilidade de estabelecimento dos dois Estados como resultado das atuais negociações de paz. Falar sobre o retorno dos refugiados, que é visto como uma ameaça demográfica para os sionistas, parece ainda mais complexo.

Com Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Nenhum comentário: