sábado, 31 de dezembro de 2011

2012: Resistência para conquistar o direito a paz, a saúde e a felicidade

2011: Ofensiva imperialista, crise capitalista e lutas dos povos


O ano de 2011 termina com a situação internacional marcada por insanáveis contradições econômicas e políticas. Os aspectos mais salientes e indissociáveis são o aprofundamento da crise multidimensional do capitalismo e a intensificação da ofensiva militarista e belicista do imperialismo norte-americano e seus aliados da União Europeia. A guerra contra a Líbia foi, durante o ano que se encerra, a mais brutal manifestação dessa ofensiva.


Uma vez mais, o imperialismo estadunidense e seus aliados do velho continente fizeram valer a política de força, instrumentalizaram as Nações Unidas, transformaram em pó e cinza as normas do direito internacional e mostraram que o multilateralismo, quando referido pelos líderes dessas potências, não passa de uma palavra vazia, funcional a uma estratégia de dominação do mundo pelos grandes potentados. O que vale mesmo, para fazer valer os interesses de rapina dos donos do mundo é o belicismo e o militarismo, a profusão de bases militares, o aumento das despesas militares e a ação de seus braços armados, como a Otan, na plena vigência do novo conceito estratégico. As potências imperialistas não se detêm e levam adiante os seus planos hegemônicos, para o que prosseguem cometendo graves atentados contra as soberanias nacionais, a paz mundial, a segurança internacional, os direitos dos povos.

A ofensiva imperialista aumenta e agrava os focos de tensão, principalmente no Oriente Médio. Na sua alça de mira estão agora a Síria e o Irã e na perspectiva estratégica a China. A guerra contra a Líbia visava a ocupação militar da África e a instalação do chamado Comando Africano, o Africom. Mas a mirada estratégica imperialista volta-se também para o extremo oriente. A propaganda histérica feita contra a Coreia do Norte nas últimas semanas, que confunde mentes e espíritos incautos, combina-se com jogadas diplomáticas e pressões militares para manter sob controle uma região decisiva na disputa pelo domínio da Ásia. Tem o mesmo sentido o anúncio recente de instalação de mais bases militares estadunidenses na Oceania.

A par dessa ofensiva, caracterizou o ano de 2011 o aprofundamento da crise sistêmica do capitalismo, a partir principalmente dos Estados Unidos e Europa. A crise revela a intensificação das contradições insanáveis do capitalismo, cria um cenário que dissipa ilusões, atesta a falência das políticas neoliberais da direita e as falsetas oportunistas da social-democracia.

A crise econômica transbordou para a política e teve momentos dramáticos, quando os líderes da União Europeia foram obrigados a dar declarações catastrofistas, atestando o nervosismo que tomou conta dos círculos imperialistas. A própria existência desse bloco monopolista ficou ameaçada. Na esteira da crise, evidencia-se também o esgotamento dos arranjos políticos devido à falência tanto dos grupos conservadores como dos sociais-democratas.

2011 foi também um ano de grandes lutas. No Oriente Médio, os povos se alçaram em busca de democracia, soberania e direitos sociais, malgrado as tentativas das potências imperialistas para instrumentalizar e desvirtuar essas lutas a seu favor. Na Europa e nos Estados Unidos, com clareza meridiana manifestou-se a luta de classes. Os trabalhadores demonstraram com memoráveis greves gerais e combativas ações de rua o seu descontentamento com as políticas opressivas dos governos burgueses e se posicionaram frontalmente por novos rumos.

Cresceu e adquiriu uma dimensão política inaudita a luta do povo palestino por seu Estado nacional independente. Da heroica intifada e dos conflitos de rua contra as forças sionistas, essa luta galvanizou agora as atenções da própria ONU, só não sendo vitoriosa mercê da pressão política e chantagem econômica que os Estados Unidos e os sionistas israelenses exercem sobre não poucas chancelarias pelo mundo.

Na América Latina, avança a luta dos povos, que acumulam conquistas nos terrenos social, econômico e político. A Revolução Bolivariana caminha para mais um triunfo eleitoral na Venezuela, dirigida pelo líder anti-imperialista Hugo Chávez. Especial significado adquirem as vitórias políticas, econômicas, sociais e no terreno ideológico da Revolução Cubana, que promove vitoriosamente a atualização de seu modelo econômico, mantendo as conquistas e os princípios revolucionários do socialismo.

No quadro latino-americano, a constituição da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos - Celac, é uma vitória histórica das forças anti-imperialistas e patrióticas, uma elevada expressão do novo momento progressista que a região está vivendo.

Com o mesmo otimismo histórico observamos o desenvolvimento da situação no Brasil. Na vigência do terceiro governo das forças democráticas e progressistas, agora sob a liderança da presidente Dilma Rousseff, o Brasil vai reunindo condições políticas para deter a ofensiva neoliberal e avançar nas conquistas que pavimentarão o caminho para a construção de uma forte nação progressista, democrática e independente, um país capaz de desempenhar no mundo um papel contra-hegemônico e anti-imperialista.

O pior erro que nosso povo e as forças políticas progressistas com responsabilidades no poder nacional cometeriam no atual momento seria imaginar que o país está com seus problemas equacionados, já ocupa um lugar de destaque no mundo, está com a questão social encaminhada e a democracia consolidada. Não! Há ainda muito a fazer, muita luta a encaminhar para romper os entraves ao desenvolvimento nacional soberano e à emancipação do povo brasileiro.

As classes dominantes retrógradas e os agentes do imperialismo em nosso país pretendem impor a sua agenda. Querem continuar governando, apesar das derrotas políticas e eleitorais que sofreram na última década.

Mais do que nunca o Brasil precisa de pensamento estratégico e de sinergia entre os partidos progressistas, o governo e os movimentos sociais, que elabore e consubstancie um programa de luta capaz de despertar e mobilizar as energias criadoras do povo e fazer valer a sua vontade ainda encoberta.

É necessário promover a mais ampla unidade das forças democráticas, patrióticas e populares para forjar um projeto nacional, democrático e popular, levando a bom termo e às últimas consequências a plataforma de luta por um novo modelo político e econômico e pelas reformas estruturais democráticas, que efetivamente promovam mudanças de fundo no país.

Que em 2012 o povo brasileiro avance nessa direção. São os votos do Portal Vermelho.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Eleições 2012: Temos que ficar de olho!!!!!


 TSE impõe restrição ao governo a partir de domingo


A partir do dia 1º de janeiro, a Administração Pública está proibida de realizar a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios aos cidadãos. A proibição de atuação da administração está prevista na Lei das Eleições que estabelece as condutas vedadas aos agentes públicos durante o período eleitoral.


Por lei, a distribuição gratuita de bens, valores e benefícios aos cidadãos em ano eleitoral só é permitida excepcionalmente em casos de calamidade pública ou de estado de emergência. Outra exceção prevista é quando os programas sociais em andamento forem autorizados por lei e integrarem o orçamento do exercício anterior. Nesses casos, o Ministério Público Eleitoral poderá acompanhar sua execução administrativa e financeira.

Também a partir deste domingo, estão proibidos programas sociais executados por entidade nominalmente vinculada a eventual candidato em 2012 ou por esse mantida. A proibição vigora ainda que os programas tenham sido autorizados por lei ou façam parte do orçamento do exercício anterior.

A legislação eleitoral para as Eleições 2012 proíbe a realização de publicidade institucional entre o dia sete de julho e o dia da votação, exceto em casos de grave e urgente necessidade pública, autorizados pela Justiça Eleitoral. Mesmo antes desta data, a Administração deve respeitar alguns parâmetros para realizar propaganda dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos ou das respectivas entidades da Administração indireta. 

Entre os dias 1º de janeiro e seis de julho de 2012, as despesas com publicidade não podem exceder a média dos gastos nos três últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição, prevalecendo o que for menor. 

De Brasília
Com informações do TSE


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Renato Rabelo: Folha de SP se esmera em ironias contra o PCdoB


A magra edição de hoje (28) do jornal paulista Folha de S.Paulo dedica um de seus principais editoriais a um exercício de provocações e ironias pobres. Talvez por falta do que dizer – nestes dias de comemorações e festas de final de ano -- seus editores resolveram atacar o PCdoB tendo como mote o falecimento, na semana passada, do líder da República Popular Democrática da Coréia, Kim Jong Il.

Por Renato Rabelo, em seu blog


JJ Coelho
protesto contra Folha Protest
Seus leitores mais atentos deverão, a esta altura do campeonato, se perguntar como pode um país -- cercado desde a década de 50 pelo maior exército do Planeta (as forças armadas dos EUA atualmente acantonados na Coréia do Sul possuem uma base com mais de 30 mil homens, armados com mísseis balísticos nucleares) -- resistir a todo o tipo de provocações e ações de contra-insurgência? Os fatos, entretanto, estão gravados na história dos povos daquela região da Ásia. Antes dos colonialistas japoneses empreenderem a dominação da península coreana, em 1905, mais exatamente em 1866, um navio pirata norte-americano, o “Sherman”, tentou tomar posse de Pyongyang, mas acabou afundado. Dois anos depois, em 1868, o “Shenandoah”, equipado com canhões, também procurou causar dano àquela cidade e foi rechaçado pelas defesas coreanas que o perseguiu pelo rio Taedong.

No início do século XX, entretanto, o Império Japonês invadiu a Coréia e dominou o país. Mais de 6 milhões de jovens e homens de meia-idade foram obrigados a trabalhos forçados, sendo que um milhão acabou morrendo. Cerca de 200 mil mulheres coreanas foram feitas escravas sexuais dos militares japoneses. Somente em 15 de agosto de 1945 termina a guerra de libertação da Pátria coreana. A República Popular e Democrática da Coréia foi proclamada em 1948, um ano antes da República Popular da China. Foi, então, que os setores mais reacionários dos EUA resolveram invadir a península coreana e interferir nos assuntos internos daquele país.

Com a deflagração da Guerra da Coréia, os norte-americanos sob o comando do General MacArthur, arrasaram Pyongyang em três anos de duros combates. A capital sofreu 1.431 ataques aéreos, quando 428 mil e 700 bombas desabaram sobre seus defensores, o que significou mais de uma bomba para cada habitante. O Exército americano acabou derrotado no campo de batalha e teve que recuar além da linha do Paralelo 38 N. Três milhões e meio de pessoas foram mortas nesta guerra. Os norte-coreanos, por sua vez, contaram nestas batalhas com a ajuda decisiva de 600 mil voluntários do Exército chinês e também com o apoio de vários outros países progressistas e socialistas daquela época, inclusive do movimento contra a Guerra da Coréia e pela paz realizado no Brasil. Por sua incúria guerreira, o general MacArhur foi demitido de suas funções, substituido pelo general Ridgway e os EUA foram obrigados a assinar um armistício.

Hoje, Pyongyang é uma cidade única no mundo, majestosa, com grandes avenidas arborizadas, pontuada por museus e coberta por uma rede moderna de metrô e ônibus elétricos. A atividade cultural, artística e esportiva é intensa. E, mais importante, a Coréia do Norte tem um projeto nacional que colocou em prática, com suas características próprias. Construiu uma indústria pesada e desenvolveu sua defesa nacional, chegando a montar mísseis balísticos nucleares de longo alcance. Não fosse este aparato e o poderoso Exército certamente seu destino teria sido outro, parecido com o imposto pelos EUA ao Iraque, ao Afeganistão e -- mais recentemente -- à Líbia.

Ao contrário do que sugere a Folha, na última reunião do Comitê Central do PCdoB, procuramos fazer uma avaliação da nova situação mundial com o desenvolvimento da terceira grande crise sistêmica do capitalismo e consideramos como positivo, em suas linhas gerais, o ciclo político aberto com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e continuado com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010. Duas tarefas principais se colocam agora diante do povo brasileiro: avançar na defesa da economia do país para o enfrentamento da crise externa e o fortalecimento do mercado interno brasileiro, e lutar para que nosso povo tenha o direito a exprimir seu pensamento de forma democrática contra o monopólio exclusivo da mídia, capitaneada -- entre outros órgãos -- por esta mesma Folha de S.Paulo que nos ataca impunemente. Esta grande mídia, reacionária e conservadora, vem escolhendo o PCdoB como alvo de ataque, demonstrando com isso que este Partido a incomoda. Porém, como sempre, sem podermos ter o direito de defesa.

Fonte: Blog do Renato Rabelo

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Empresa que pagar salário mais baixo à mulher poderá ser multada


Contratar mulher com salário menor que o do homem, exercendo as mesmas funções,  pode render multa. É o que propõe um projeto de lei que começa a tramitar na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. Segundo o texto (PLC 130/11), o empregador flagrado nesta prática pagará multa equivalente a cinco vezes da diferença verificada durante todo o contrato. O valor beneficiará a trabalhadora que foi o alvo da discriminação.



A proposta foi aprovada na Câmara dos Deputados, em outubro, e apresentada pelo deputado Marçal Filho (PMDB-MS). O autor justificativa o PL com base na Constituição e em outras normas, inclusive a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Apesar da proliferação de normas, no entanto, conforme o deputado, o país ainda não conseguiu acabar com a grande discriminação sofrida pela mulher no mercado de trabalho.
Segundo ele, estudo da Confederação Internacional dos Sindicatos demonstra que as brasileiras são as mais prejudicadas com a diferenciação salarial em todo mundo: ganhando, em média, 34% menos que os homens.

O estudo foi elaborado em 2009, com base em pesquisa envolvendo 300 mil mulheres de 24 países. Depois do Brasil, as maiores diferenças foram registradas na África do Sul (33%), México (29,8%) e na Argentina (26,1%). Nos Estados Unidos, as mulheres recebem 20,8% menos. As menores diferenças de ganhos foram observadas na Suécia (11%), Dinamarca (10,1%), Reino Unido (9%) e Índia (6,3%).

Depois da análise na CAS, a matéria seguirá para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), onde receberá decisão terminativa.

Com Agência Senado

Basta de Impunidade!!!!!!!!!!!!!!!!

Mauro Santayana: A sociedade está com a ministra Eliana Calmon


O Ministro Marco Aurélio de Mello contestou, em decisão liminar, os poderes do Conselho Nacional de Justiça, exatamente no último dia de trabalho normal do STF, antes do recesso de fim de ano. Se o Ministro, conhecido por suas resoluções inusitadas, escolheu esta véspera de Natal, terá tido suas razões. Em política – e é de política que se trata, porque tudo é política – não há coincidências. Há circunstâncias. Só o ministro sabe quais são as suas, e todas as especulações se fazem ociosas.


Sua excelência é daqueles magistrados que não se escondem das luzes. É de seu costume opinar sobre todas as coisas, e nisso não está só no mais alto tribunal do país. O mundo mudou, estamos na época em que todos desejam comunicar-se com todos, e a nova Babel se ergue em tijolos de quilobaites. Houve um tempo em que os juízes só se manifestavam nos autos. É certo que em todos os tempos e em todos os lugares, o ato de julgar tem sido difícil. Os juízes não são infalíveis. Nada há de perfeito no mundo, e por mais isentos queiram ser os magistrados, eles são feitos do mesmo barro de que se fazem os outros homens. De qualquer forma, com seus erros, quando os há, e seus acertos, que são mais importantes, a sociedade precisa de juízes e de tribunais. Deles não pode prescindir.

O que faz democráticas as sociedades é o sistema de múltiplo controle de seus membros e de suas instituições. A consciência da vida, de que só os seres humanos são dotados, reclama regras de convivência e sua observância, ou seja, as leis. Os homicídios, por exemplo, devem ser punidos, para impedir que o instinto de répteis, que ainda atua no fundo do cérebro, prevaleça. Em 2007, segundo dados oficiais, havia 90.000 casos de homicídios não resolvidos, ou seja, sem punição para os seus autores. Em conseqüência da ineficácia da polícia e da morosidade da justiça, somos um dos países mais inseguros do mundo. Os que furtam para comer – e os códigos penais de quase todos os países civilizados aceitam a condição atenuante – devem ser perdoados, o que não tem ocorrido aqui. O direito à vida é anterior ao direito à propriedade, como os princípios éticos reconhecem.

Os julgamentos não são equações matemáticas, em que para tais e quais fatores só pode haver uma conclusão (embora haja teorias que admitem mais de uma resposta, ou nenhuma resposta, para alguns problemas). Os juizes são pessoas que julgam atos pessoais, e julgam com seus próprios instrumentos intelectuais e éticos. A balança pode ser precisa, mas os pesos, como sabemos, costumam variar. E chegamos a uma penosa conclusão: a de que há juízes que cometem atos ilícitos. No passado, era quase impossível conhecer seus desvios e puni-los, mas nos últimos anos alguns deles foram denunciados, indiciados, processados e condenados.

Todos sabemos que há conflito entre a Ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça, e alguns membros do Supremo Tribunal Federal, entre eles o Ministro Marco Aurélio, a propósito do Conselho Nacional de Justiça. É normal – e até desejável – que os altos magistrados brasileiros divirjam: na justiça, como em todas as outras atividades humanas, toda ortodoxia, todos os dogmas – mesmo os tidos como clássicos em Direito – merecem ser vistos com sábio ceticismo. O conhecimento – e nele se reúnem os do saber jurídico, o dos fatos em si, o do peso das circunstâncias – é sempre uma possibilidade, jamais uma certeza. Todos os juízes, diante dos autos, são acometidos da razão socrática: sabem que conhecem pouco do que vão julgar. Antes de uma decisão, os bons juízes refletem muito, apelam para a razão e, aqueles que nele crêem, suplicam pela ajuda de Deus.

Mas é preciso que haja instituições que zelem pela retidão dos juízes. Que o juiz se equivoque, por falta de informações completas, ou por não encontrar a relação do delito com as leis penais, não o faz passível de reparos ou punição. O que os torna delinqüentes é o dolo. Para os equívocos existem as instâncias de apelação, mas, para o comportamento doloso, devem atuar órgãos como o Conselho Nacional de Justiça. O CNJ é composto por magistrados escolhidos, em sua maioria, pelos tribunais e, em minoria, pela OAB e pelo Parlamento. Em sua composição, de 15 membros, todos são profissionais do Direito, com a exceção de “dois cidadãos”, de notório saber jurídico e reputação ilibada, conforme o artigo 102-B, da Constituição.

Os juízes, mediante sua associação corporativa, contestam esse poder do CNJ – e preferem que o órgão não avoque o exame das denúncias, antes que elas sejam investigadas no âmbito do tribunal em que ocorram. Trata-se de uma posição corporativa, que não deve prevalecer. É preciso que haja instituição distanciada das relações pessoais com os acusados, para que o exame dos atos imputados se faça com a imparcialidade possível, ainda que sujeita à condição humana dos investigadores e julgadores.

Se a sociedade for consultada, ela dirá que, sim, que é preciso que os juízes sejam fiscalizados e investigados e, se for o caso, processados. Nesse caso, não há dúvida de que a opinião nacional está com a Ministra Eliana Calmon. Enfim, como advertiam os latinos, corruptio optimi pessima est.

Fonte: Viomundo

domingo, 25 de dezembro de 2011

Beth Carvalho: samba, suor e sensibilidade


A reportagem da Revista do Brasil foi encontrar Beth Carvalho em um seminário no Rio de Janeiro promovido por quatro fundações voltadas à pesquisa – ligadas ao PT, PCdoB, PDT e PSB. Ali se discutiam desdobramentos da crise do capitalismo. Isso, por si só, já diz muito da artista. Nesta entrevista, ela mesma diz mais. Passar algumas horas ao seu lado é tomar um banho de carioquismo e brasileirismo.


É uma mulher perspicaz, crítica, de posições francas. Ao mesmo tempo, dona de alegria e energia contagiantes. No estacionamento, nos restaurantes ou no próprio ambiente do seminário, é assediada e estimulada: “Continue firme, guerreira” é o que mais ouve. Vai a todo lugar do Rio, na zona sul ou na zona norte, dirigindo seu carro e sem medo das madrugadas. “O povo me protege”, diz.

Após um longo período de recuperação de delicada cirurgia, Beth sacode a poeira e dá a volta por cima. Dá uma atenção aguda às coisas da política, hoje especialmente à instalação das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas cariocas. Lamenta muito que os programas sociais dos governos de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1995) tenham sido interrompidos e crê que seu Rio de Janeiro seria muito diferente hoje se tivessem continuado.

Do samba e do povo brasileiro, “trabalhador e talentoso”, fala apaixonadamente. Seu novo disco traz 15 canções inéditas de compositores da nova geração e também Nelson Cavaquinho e Chico Buarque. “Nelson e Cartola são geniais, mas tem gente renovando o samba”, avisa. O CD Nosso Samba Tá na Rua é dedicado a dona Ivone Lara, que aos 94 anos continua compondo e cantando, lembrando que ela cantou nos corais de Villa-Lobos, criados na era Vargas. O álbum tem o sabor da mistura. E irradia a felicidade que Beth vive agora, ao voltar aos palcos e às ruas. “Todos os meus discos são um discurso pelo samba”, proclama.

Revista do Brasil:
Quando Beth Carvalho olha pra trás, qual é a primeira lembrança de ter botado o pé na carreira musical?Beth Carvalho: O ambiente em casa sempre foi muito musical. Minha vó tocava violão e bandolim. Meu pai adorava cantar, era um homem moderno, me deu discos de João Gilberto e Dorival Caymmi. Minha mãe adorava ópera e cantava músicas do Orlando Silva. Minha irmã Vânia Carvalho também canta muito bem, até gravou um disco de samba.

Eu cheguei a estudar piano, dava aulas de violão, frequentei as rodas da turma da bossa nova. Tanto a música como a política vêm do berço. Meu pai era de esquerda, foi perseguido pela ditadura, era varguista, brizolista, janguista e também admirava muito o (Luiz Carlos) Prestes. Minha mãe sempre estava do lado dos pobres. Esse era o ambiente em casa, boa música e política de esquerda.

Revista do Brasil: Quando você desponta com Andança no 3º Festival Internacional da Canção, em 1968, abriu-se uma cortina na sua vida?
Beth Carvalho: Ficamos em terceiro lugar com Andança. Mas ficar atrás do Tom (Jobim) e do Chico (Buarque), com Sabiá, e do (Geraldo) Vandré, com Caminhando, era como vencer. Éramos novatos, só ficamos atrás de monstros sagrados, e portanto radiantes. Andança colou no coração do povo. Uma toada moderna, mas é uma toada.

Revista do Brasil: O novo disco Nosso Samba Tá na Rua traz um leque de compositores, de Nelson Cavaquinho a uma novíssima geração de sambistas. Como é sua relação com esses compositores?
Beth Carvalho: É total. Acyr Marques, autor de Coisa de Pele, poeta genial, era motorista de ônibus. Zeca Pagodinho era feirante e foi apontador do bicho. Almir Guineto era lixeiro da Comlurb. Marquinhos PQD, paraquedista. Essa gente está criando brilhantemente, tudo gente do povo, tem o proletariado na veia, sua visão do mundo.

Minha relação com os compositores é profunda, não sei me relacionar superficialmente com ninguém. Talvez eu seja a intérprete que mais teve relações profundas com os compositores. E eles me amam também porque me consideram a intérprete deles. Quanto eu interpreto, interpreto o compositor, sou fidelíssima ao que ele faz. Claro que tem o meu eu, em algumas músicas me identifico com aquela história. Outras não têm a ver comigo, mas eu interpreto o autor. Eles ficam muito felizes porque se sentem representados, eu não deturpo o que fazem.

Revista do Brasil: O samba está se renovando, tem uma nova geração surgindo?Beth Carvalho: Está se renovando completamente. Eu defendo à beça essa gente nova, porque há uma turma que só dá valor a Nelson Cavaquinho e Cartola, que são geniais, e fica aí. E assim como Cartola, que era pedreiro, e o Nelson, que era soldado da PM, esses mais novos têm origem proletária. Precisamos valorizar também os que estão aí criando, renovando o samba.

Revista do Brasil: Você é carioca, da Gamboa (bairro da região central), e aqui nasceram dois estilos que dialogam muito entre si, o samba e o choro.
Beth Carvalho: O choro é uma grande escola, deu Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, uma desbravadora, revolucionária, que enfrentou preconceitos da elite e o próprio marido para fazer música e vincular-se aos músicos negros e de origem humilde. Só que eu acho que alguns têm preconceito em relação à percussão. Fico chateada, pois ela é a alma do negócio, no samba, no forró, no baião. E olhe que eu sou de harmonia, toco violão e cavaquinho, dou o maior valor à harmonia, mas a percussão, principalmente no samba, é o que enriquece profundamente.

Revista do Brasil: Esse clima de felicidade do novo CD expressa a superação de um momento difícil, de problemas de saúde? O Zeca Pagodinho até lhe deu um rosário verde e rosa...
Beth Carvalho: Também, e principalmente. Mas eu já tenho esse espírito naturalmente. Sou uma pessoa pra cima, não tenho tendência a ficar deprimida, não é meu temperamento. Realmente, o que passei foi bastante doloroso, muito sério, mas tive tanto amor das pessoas por mim, dos meus amigos, meus parentes, dos compositores, do meio artístico... Durante esses dois anos que passei de cama, não fiquei um dia sequer sem receber visita! Quando saí dali tava de alma lavada, o resultado da operação deu certo, pois existia o risco de eu não mais voltar a andar. Havia essa possibilidade. Então, botei o bloco na rua mesmo, Nosso Samba Tá na Rua! E gravei um samba lindíssimo, que acho que é o meu estado de espírito agora, chamado Tô Feliz Demais, do Edinho do Samba, compositor da nova geração, que tem uma frase que acho fantástica: “Desta vez a felicidade exagerou comigo”.

Revista do Brasil: Qual é a marca principal do novo CD?
Beth Carvalho: É a valorização do povo brasileiro, sempre. O compositor de samba é, em sua maioria, seu representante legítimo, com raras exceções. E eu sempre valorizei muito as qualidades do povo brasileiro. Trabalhador, talentoso, criativo. Uma capacidade de improvisação enorme, um talento enorme. Veja o repente nordestino, é uma maravilha! Uma vez ouvi uma frase tão bonita: “O povo não decora a sua casa, enfeita”. Lindo! Desde criança eu tenho essa coisa com os mais pobres, os menos favorecidos. Não sei se foi a criação que recebi em casa, minha família sempre favoreceu os pobres, sem demagogia. Esse CD é mais uma vez uma homenagem e uma declaração de amor pelo povo, por meio do samba.

Revista do Brasil: Como pintou esse nome?
Beth Carvalho: É como se fosse uma passeata que estou fazendo com o samba, colocando o samba na rua com vários temas. O CD tem o tema da negritude, tem sambas carnavalescos, de bloco, os clássicos como Nelson Cavaquinho e Chico Buarque, tem o tema feminino e a presença da Mangueira, que é a minha escola. E é uma passeata. Alegre, com energia, com a marca do povo.

Cada disco que faço é um discurso pelo samba. A música Nosso Samba Tá na Rua é uma obra-prima. Genial quando diz “vem de Deus esse som que a gente faz, nosso samba tá na rua” ou “de presente o moleque pede ao pai um cavaco, um pandeiro e ele sai, nosso samba tá na rua”. Então, é um discurso pelo samba. E com vários estilos, samba de bloco, partido-alto, samba-canção. Além disso, eu sempre procuro abordar vários temas, e isso depende muito do compositor, mas nesse disco a gente conseguiu.

Revista do Brasil: Uma música começa com o coral cantando “Mandela”. Qual o significado da escolha?
Beth Carvalho: É minha enorme admiração pelo (Nelson) Mandela, uma exaltação à negritude. E descreve de uma maneira muito original as coisas da cultura africana, da cultura negra, da culinária etc., fala de camarão com chuchu. Fala também “olha que negro é lua africana, é o sol que vem de Havana, é o fim da minha dor” (cantarola). Quando eu gravo essas coisas é também pra bater de frente com o racismo que existe.

Revista do Brasil: Como você analisa a política de cultura?Beth Carvalho: No geral, percebo que há um esforço bem-intencionado. Mas a herança é tão pesada que precisamos fortalecer e apoiar muito mais a cultura brasileira, os criadores, a arte popular. Há um esmagamento do nosso cinema, os filmes norte-americanos controlam mais de 90% da exibição. Nosso povo não se vê nas telas. Há uma reação, mas falta muito. Há poucas bibliotecas, são mal equipadas, nossa taxa de leitura é baixíssima. Nosso povo, que é praticamente proibido da leitura de jornal. Faz falta um jornal popular, nacional e democrático no Brasil, como foi o Última Hora, criado pelo Vargas, que também nacionalizou a Rádio Nacional, criou a Rádio Mauá, que tinha, inclusive, a participação dos sindicatos de trabalhadores. Também foi o Vargas quem criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo, sob a direção de Roquete Pinto e Humberto Mauro, e o Instituto Nacional de Música, chamando o Villa-Lobos para dirigir. Aliás, a dona Ivone Lara, a quem dedico o novo CD, cantou nos corais do Villa-Lobos. Ela é dona dos “laraiás” mais bonitos do Brasil...

Revista do Brasil: O que achou de Lula ter retificado sua opinião sobre Vargas, elogiando-o como um grande presidente?
Beth Carvalho: Uma questão de justiça. É por isso que eu gosto do Lula. Afinal, eu gravei um disco inteiro, com o João Nogueira, com músicas da era Vargas, que tentaram destruir (O Grande Presidente, de 1989, durante a campanha do Brizola). Em boa medida, muita coisa está sendo retomada, como a indústria naval, que já foi a segunda do mundo com o Vargas e agora está criando empregos, soberania.

Foi ou não na era Vargas que nasceram a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a Siderúrgica de Volta Redonda, os direitos trabalhistas, o direito de voto para a mulher, a licença-maternidade, o Teatro Experimental do Negro, quando os negros entraram pela primeira vez no Teatro Municipal do Rio? Acho que o Lula está corretíssimo. Eu fico triste porque percebo que estão tentando acabar com a Voz do Brasil, que leva informação aos brasileiros que não podem ler jornal e que vivem nos grotões. Isso também foi o Vargas quem criou.

Revista do Brasil: Você teve uma profunda amizade política com Leonel Brizola (1922-2004), que faria 90 anos em janeiro. Como você avalia a política sem sua presença?Beth Carvalho: Lamento demais, até hoje, a perda do Brizola. É como se fosse um pai para mim. É como a perda de Getúlio Vargas. Eu tinha 10 anos quando o Vargas morreu e eu chorava copiosamente. Meu pai até me chamou: “Minha filha, peraí...” Eu sentia a dor do povo. E a perda do Brizola foi mais dura, porque convivi com ele. A nação perdeu um grande líder. Um homem preocupado com o povo brasileiro, amava o povo, honesto, preocupado com as crianças, com a educação, que é o caminho mais importante do país – sem educação a gente não vai para lugar algum. Se tivessem continuado os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública, com jornada integral e diversidade de atividades, ideia de Darcy Ribeiro introduzida nas gestões de Brizola, no Rio), não teríamos hoje uma geração de crack, teríamos uma geração de Cieps. É muito difícil surgir outro Brizola.

Revista do Brasil: Você se relacionou e se relaciona com homens como Fidel, Chávez, Brizola, Lula e na música com Nelson Cavaquinho, Cartola, Tom Jobim, e destaca que homens assim só nascem um a cada século. Qual é sua reflexão sobre isso?Beth Carvalho: Há os gigantes na política e na cultura, lutadores de toda uma época, que transformam a realidade do seu povo, como o Fidel, o Chávez, o Vargas, o Brizola, o Lula. Mas líderes como esses são uma raridade. Na música também. Um Tom não nasce a qualquer momento. Veja a qualidade musical do Nelson Cavaquinho. E era pobre. Cantava, às vezes, por um prato de comida. E quando tinha dinheiro dividia com amigos necessitados.

Durante a Jovem Guarda, Nelson passou muita privação. Cartola também, um gênio daquele trabalhando como pedreiro, lavador de carro, servindo cafezinho. E doando ao povo pedras preciosas musicais. É por isso que eu valorizo muito projetos como o Ciep. O menino pobre, que morava na favela, ia para o Ciep e era tratado com dignidade. Tinha educação, dentista, música, esporte, capoeira, piscina, tomava banho, comia decentemente. Em casa tem de comer em pé ou sentado no chão. Lugar para estudar também não tem, são obrigados a viver amontoados, num cômodo só. O Brizola enxergou isso porque amava o povo. A continuidade desse projeto faria nascer uma nova consciência, favoreceria o nascimento de novos líderes. Considero um crime o que fizeram contra os Cieps.

Revista do Brasil: Qual é a ideia que fica quando se percebe que o imperialismo continua fazendo ameaças aos povos, inclusive uma cobiça recente sobre as riquezas do Brasil, o pré-sal?
Beth Carvalho: Eu fico muito assustada porque sei que eles são capazes de tudo. Até de uma intervenção militar. São capazes disso. Fizeram isso com outros países, por que não fariam com o nosso? Eu admiro profundamente esses líderes porque são homens que lutam pelo seu país, defendem seu povo com unhas e dentes, são patriotas. É uma luta muito difícil porque o imperialismo não é brincadeira, não. A direita milita 24 horas por dia. Acho engraçado quando eles falam da militância da esquerda. A militância da direita é 24 horas por dia. Mas eu tenho esperança no futuro, no socialismo.

Revista do Brasil: Como você avalia a nova América Latina e o projeto de integração do continente?
Beth Carvalho: Beleza! A integração, porém, não deve se limitar ao lado econômico e comercial. É preciso avançar também no campo cultural. Acho a missão da Telesur importantíssima, pois a mídia imperial sempre tenta nos separar, trabalha para dificultar a comunicação entre os povos, leva ao desconhecimento de nossa história comum. Já a Telesur promove o conhecimento de nossos heróis, de Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Abreu e Lima a José Martí, Bolívar, Pancho Villa, com saci-pererê, com negrinho do pastoreio. Estou trabalhando num projeto para gravar as canções revolucionárias de cada país, em forma de samba.

Revista do Brasil: Carioca, sambista e brizolista, qual é sua análise sobre as UPPs nas favelas do Rio?
Beth Carvalho: Creio que é necessário levar o poder público a todo o país, ao contrário da linha do neoliberalismo, que reduziu a presença do Estado, dos serviços públicos. O resultado nós conhecemos. Mas não basta a intervenção militar, muito menos se não for sistemática, agir eventualmente não adianta. Tem de levar escola, saúde, criar trabalho, melhorar a urbanização, o abastecimento de água, a coleta de lixo, as moradias, e também fazer a titulação dos lotes.

Acho ainda que o movimento estudantil tinha de estar lá no morro junto do povo, desenvolvendo programas, levando a universidade para perto do povo, servindo ao povo. O Brizola foi injustamente criticado. Ele fez os Cieps, instalou os elevadores em vários morros. Agora o Lula e a Dilma instalaram os teleféricos no Morro do Alemão. Isso é positivo, é um sinal de respeito. O poder público tem de estar permanentemente lá. Se os estudantes subissem com programas, numa aliança com o povo, ajudaria.

Fonte: Revista do Brasil