sábado, 12 de outubro de 2013

Em busca da verdade: filha de Honestino lança campanha


Para o Brasil consolidar de vez a sua democracia é preciso ainda responder muitas perguntas. “Onde está Honestino Guimarães?” é uma delas. O ex-presidente da União Nacional dos Estudantes foi preso por agentes da ditadura militar no dia 10 de outubro de 1973, no Rio de Janeiro, e, supostamente, levado para o Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Nunca mais se teve nenhuma notícia. 






Exatos 40 anos depois do seu desaparecimento, familiares lançaram nesta quinta-feira (10/10), durante audiência da Comissão da Verdade do Rio, no IFCS da UFRJ, a campanha “Trilhas do Honestino”, com objetivo de buscar informações sobre o líder estudantil e, finalmente, encontrar as respostas para reescrever a história verdadeira.


Para a filha de Honestino, Juliana Guimarães, que pela primeira vez falou para uma Comissão da Verdade, um importante passo já foi dado. Honestino foi anistiado no último dia 20 de setembro e a sua certidão de óbito mudada, dando como causa de morte “dependente de tortura e atos de violência orquestrados pelo Estado”.

“Eu tinha três anos quando ele desapareceu. Eu cresci ouvindo histórias. Tenho poucas fotos e todas as dúvidas. Ele era um sonhador e me contaram que era um ser humano generoso e lutava por aquilo que acreditava”, disse Juliana em seu depoimento.

“Hoje se completam 40 anos do desaparecimento do meu pai e não sabemos de nada. A gente tem pistas, mas não tem certeza de nada, não temos o corpo, e a causa da morte está em branco. Mas, com a anistia, conseguimos duas importantes mudanças na certidão de óbito: de falecido para desaparecido em 10 de outubro de 1973 e a causa da morte passou a ser crime cometido pelo Estado”, contou Juliana.

A atual presidente da UNE, Vic Barros, participou da audiência e destacou que a luta de Honestino é inspiração para a sua geração e para toda uma juventude que busca consolidar a democracia no país. “Ainda existe resquícios de uma ditadura, ainda temos uma polícia militar truculenta e que tortura jovens manifestantes nas ruas”, lembrou, fazendo referencia aos atuais protestos de rua reprimidos violentamente pela força policial.

O vereador Eliomar Coelho, amigo de Honestino na Universidade de Brasília, onde militaram no movimento estudantil, também chamou a atenção para o simbolismo do debate sobre a vida de Honestino estar ocorrendo neste momento. “Essa nuvem que impede a gente de enxergar a verdade é muito rum. Por isso, esse encontro simboliza reavivar a memória para as gerações atuais, mas também uma reflexão sobre o que temos visto atualmente e que nos faz lembrar esse período triste da ditadura”, frisou.

Para o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, o caso de Honestino é singular pelo fato de não ter havido testemunhas de sua prisão ou pistas sobre o seu paradeiro. “O desaparecimento de Honestino não deixou rastros e isso quebra o padrão em relação a outros desaparecidos políticos. Há especulações de que ele teria sido preso pela Marinha ou levado para a Casa da Morte, em Petrópolis. Seu caso talvez seja o mais nebuloso dos desaparecimentos forçados da ditadura. O que sabemos é que ele era procurado por diversos órgãos da repressão e o nosso trabalho é tentar montar esse mosaico”, afirmou Wadih Damous.

Em um dos momentos mais emocionantes do encontro, Agostinho Guerreiro, amigo e companheiro de Honestino na organização Ação Popular (AP), contou a história do dia em que Honestino, mesmo na clandestinidade, passou o dia em sua casa brincando com a filha. Agostinho, na época, já era casado com Isaura Botelho, ex-mulher de Honestino e mãe de Juliana.

“Éramos muito amigos, além de companheiros de organização. Ele ficava feliz de estarmos com a Juliana, mas sofria muito com a distância. A frequência dos encontros era determinada por ele e por meio de códigos. Em nome de todos os militantes e todas as militantes, mas especialmente pelo Gui, como Honestino era chamado, eu acuso o Cenimar, eu acuso os militares e a ditadura militar. Esses crimes não podem ficar impunes e a luta dele não termina”, disse emocionado.

Com o objetivo de marcar a data de 40 anos do desaparecimento de Honestino Guimarães e de estabelecer conexões entre as lutas do passado e do presente por democracia, liberdade e justiça social, familiares de Honestino e o Comitê pela Verdade do Distrito Federal estão organizando uma série de atividades durante todo o mês, a partir da programação denominada Honestino: 40 anos sem respostas.

Uma das principais ações dessa agenda se constitui na realização da campanha Trilhas de Honestino para revelar fatos, informações e acervos sobre a vida de Honestino, colaborar para a revelação da Verdade e difundir a importância da luta por Verdade, Memória e Justiça no Brasil.

Informações devem ser enviadas para o e-mail: memoriahonestino@gmail.com

Saiba mais sobre Honestino Guimarães: http://honestinoguimaraes.com.br/


Fonte: Site da UNE

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