domingo, 13 de outubro de 2013

Difícil para o Globo compreender a verdadeira democracia: Sindicato dos professores tem dificuldade em chegar ao senso comum

Globo online
Sepe reúne 43 diretores e 5 coordenadores que nem sempre comungam da mesma opinião



Assembleia: Professores municipais votam a favor da manutenção da greve, na semana passada
Foto: Pedro Kirilos
Assembleia: Professores municipais votam a favor da manutenção da greve, na semana passada Pedro Kirilos
RIO - Os cinco coordenadores — que equivalem ao cargo de presidente no colegiado — e outros 43 diretores dão uma ideia do mar de lideranças que possui o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), entidade que está na linha de frente dos professores nas greves das redes municipal e estadual, que já chegam a dois meses. Com tantos caciques, e assembleias que chegam a reunir mais de 5 mil pessoas, as vozes às vezes não conseguem seguir um mesmo tom. Esta semana, a posição em torno da presença dos black blocs nas manifestações foi alvo de polêmica. A aprovação de um manifesto favorável aos mascarados, no fim de uma assembleia, causou mal-estar.
— Não é a nossa opinião. No fim da assembleia, uma de nossas regionais aprovou o documento que acabou sendo divulgado. Os professores agradeceram o apoio dos black blocs no dia em que fomos retirados da Câmara dos Vereadores. Eles ajudaram a retirar as pessoas, limpar o rosto, a situação poderia ter sido pior sem esse apoio. Mas somos contrários à depredação de prédios, ou qualquer violência — afirmou ao GLOBO Marta Moraes, uma das coordenadoras do Sepe, na última sexta-feira.
No dia da assembleia, porém, realizada na quarta-feira, a posição em relação ao grupo de mascarados não seguiu a mesma linha. A moção aprovada falava que o sindicato “defende incondicionalmente os black blocs das ações policiais”. No mesmo manifesto, a entidade ainda acrescentou que “toda a ajuda é bem-vinda, desde que se submeta às concepções e às tradições da categoria”.
Entre os cinco coordenadores, há três linhas de pensamento. Marta Moraes e Ivanete Conceição são de uma corrente do PSOL que obteve a maioria dos votos durante a última eleição do sindicato. Alex Trentino e Gesa Linhares foram eleitos por uma mesma chapa, mas o primeiro é ligado ao PSTU e ela, a uma corrente do PSOL distinta da de Marta e Ivanete. Para completar o quadro principal, ainda há Sandra Bertagnoni, do PT, que pouco tem aparecido já que é de Barra do Piraí e cuida mais das escolas do interior.
Vários níveis de debates
Chegar a um senso comum é tarefa para muitos diálogos e discursos. Há quatro fóruns de debate. O maior deles é chamado de congresso: é lá que se definem os rumos principais. Abaixo existem as conferências e as já mais conhecidas assembleias, responsáveis, por exemplo, pela definição se uma greve vai continuar ou não. Antes das assembleias são realizados conselhos deliberativos entre representantes regionais, que definem uma posição prévia para a pauta a ser discutida na assembleia.
Nas negociações recentes com o governo estadual, por exemplo, fontes da Secretaria de Educação relatam que a posição dos representantes até consegue obedecer a um rumo comum, mas muitas vezes se prende em casos pontuais que vão sendo acrescentados conforme surge uma nova reunião. Numa delas, com o vice-governador Luiz Fernando Pezão, a grande dificuldade foi fazer com que apenas cinco de 20 professores entrassem na sala, onde não caberiam todos os sindicalistas.
Além do número de coordenadores e diretores, a quantidade de secretarias do Sepe também dá uma dimensão do que é o sindicato. A lista engloba os setores de Organização; de Finanças; de Imprensa; de Aposentados; de Funcionários Administrativos; de Assuntos Educacionais; de Formação e Cultura; de Assuntos Jurídicos; e até a Secretaria de Gênero e Combate à Homofobia.
— Somos um grande colegiado. E é assim: democracia dá trabalho, mas é o caminho — conclui Marta Moraes.

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