domingo, 4 de agosto de 2013

Campos dos Goytacazes: IDH na prática, riqueza x pobreza

fonte fmanha.com.br

Em leitura do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH- 2013, com dados do Censo de 2010, o professor e sociólogo José Luis Vianna descobre dados dignos de serem reportados, nada positivos em relação à posição dos municípios do norte e noroeste fluminense. A começar, por exemplo, por Campos, a cidade que caiu da 36ª para a 37ª colocação estadual, embora ainda assim tenha saído do nível “baixo” para o “médio”.
Em recente artigo publicado na Folha, Vianna sustenta: “é injustificável o desperdício do poder público nesses 17 anos de rendas milionárias e 35 anos de produção petrolífera. Estamos melhorando, mas todos os municípios, estados e regiões brasileiros, de um modo geral, também estão melhorando. Campos melhorou no grau de escolaridade, mas abaixo da média brasileira, e na qualidade, medida pelo Índice de Educação Básica – Ideb, continuamos brigando pelo último lugar no estado”.
E o que dizer da taxa de desemprego entre pessoas de 25 a 29 anos, na qual Campos apresenta o oitavo pior índice entre 11 municípios das duas regiões? Já entre os jovens de 18 a 24 anos, de nove municípios entre os 22 que integram as duas regiões, há índice superior a 20% de desempregados. Nesse caso, Campos é o sétimo pior resultado. Ressaltando a necessidade de planejamento, políticas públicas corretas, diversificação das atividades e prioridade absoluta para as camadas mais pobres, Vianna conclui que “descontando a parte que cabe ao aumento real do salário mínimo e aos programas assistencialistas de renda, não sobra muito”.
Na verdade, quem tira um dia para conhecer o bairro campista de Terra Prometida, vai achar que não sobra nada. Ali, a taxa municipal de 3,7% da população que vive em extrema pobreza, é bem mais palpável. Entre os cansados de esperar por promessas, é possível encontrar Lucimara Oliveira, com suas três crianças, e mais um adulto, vivendo não em uma casa, mas nos escombros de uma sede do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. 
- Eu só recebo R$ 160 do Bolsa Família, e só. Não dá pra comer, não dá pra beber, pagar conta, nada. Você acha que cinco quilos de arroz dá pra uma semana? Estou desempregada há 12 anos. Já faz mais de três anos que fiz inscrição no CRAS para receber uma casa, mas nada. Hoje na minha casa tem um pé de galinha para cinco pessoas comerem – fala Lucimara, que cozinha em uma lata e usa o quintal como banheiro. A água de sua “casa” é cedida por uma vizinha.
Não muito distante, na parte mais baixa da ladeira, Adriana da Silva trabalhava no lixão da Codim, foi contratada para ser varredora na empresa Vital, mas foi mandada embora: “fiz a inscrição do Bolsa Família há uns três anos, mas sempre dizem que Brasília tem que autorizar, por isso ainda não recebi. Aqui em casa somos 10 pessoas, sendo sete crianças. Não temos Cheque Cidadão, nada. Recebemos seis meses de salário mínimo por terem nos despejado do Lixão, mas acabou. Queremos a nossa indenização, já que teve gente ali que perdeu perna, visão, braço, perdeu a vida. Minha mãe trabalhava no Lixão há 40 anos”.
A Prefeitura de Campos informa que no próximo dia 10, será dado início à ação "justiça e cidadania na Terra Prometida". E em nota, dá a entender que não haverá indenização aos ex-catadores.
Bruno Almeida
Foto: Valmir Oliveira

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