domingo, 4 de agosto de 2013

Nepotismo e Capitanias Hereditárias na política campista e brasileira

A sucessão política entre parentes é prática comum no contexto campista e brasileiro, apesar de vivermos numa república, ainda temos, um comportamento monárquico, não só no Brasil, mas na nossa cidade onde temos marido, esposa, filhos, cunhados e agregados vivendo as custas do poder público, culpa deles? Não. Culpa nossa que não damos um basta.


ReportagemJornal do BrasilLucas Altino *
O rumor de que o governador Sérgio Cabral renunciará ao cargo no início de 2014, abrindo espaços para a candidatura de seu filho, Marco Antônio Cabral, a deputado, ganhou mais força na última semana, após o presidente do PMDB, Jorge Picciani, confirmar a versão especulada na imprensa. Apesar de Cabral não assumir publicamente, a hipótese parece cada vez mais provável, ainda mais se considerando a queda vertiginosa da popularidade do atual governador. O apadrinhamento político, principalmente em casos de parentes, é uma das portas de entrada mais comuns nos bastidores políticos do Brasil. Assim, a renúncia de Cabral se explica pela “Lei da Inelegibilidade”, que impede a candidatura de cônjuges e parentes de presidente da república, governador de estado e prefeito,
Confirmada a continuidade política na linha hereditária, a família Cabral passa a se configurar como mais uma das muitas famílias que possuem presença marcante na política brasileira. Esta prática é tradicional na história do Brasil, recorrente desde os tempos das Capitanias Hereditárias. Marco Antônio, que, ainda possui em seu sobrenome o Neves de Tancredo, primeiro presidente eleito pós-ditadura, mas que faleceu antes de tomar posse, poderá representar a terceira geração de políticos dos Cabral.  O avô, Sérgio Cabral Santos, foi vereador do Rio de Janeiro entre 1983 e 1993, época em que o filho começou a ascender no cenário. Após participar da juventude do PMDB, Sérgio Cabral Filho assumiu a diretoria de Operações da Turisrio, no governo de Moreira Franco, e elegeu-se deputado estadual em 1990. Reeleito em 1994 e 1998, ele ainda foi senador até concorrer ao governo do Rio de Janeiro em 2006.
Ironicamente, o crescimento do atual governador entre cargos públicos do estado contou com a contribuição de outra família política do Rio de Janeiro, que, agora, é desafeta e opositora da base de governo do PMDB. Em 2006, quando foi eleito para o primeiro mandato do atual cargo que ocupa, Sérgio Cabral teve o apoio, no segundo turno, de Anthony e Rosinha Garotinho, os dois governadores antecessores.  A família Garotinho, que possui um curral eleitoral fortíssimo em Campos, cidade do interior do estado, conta com mais um sucessor na carreira política, a filha do casal e deputada estadual Clarissa Garotinho.
Tradição desde as Capitanias Hereditárias
história da dominação de famílias políticas em cargos públicos, entre executivo, legislativo e judiciário, está na raiz da construção do Brasil, desde a época colonial.  Durante as Capitanias Hereditárias, sistema de administração territorial criado por D. João III, certos governantes tiveram seus sobrenomes prosseguindo na política brasileira por muitos anos. É o caso dos Albuquerque Maranhão, que teve em Afonso o primeiro da família a assumir um posto, quando foi presidente das províncias de Pernambuco e Paraíba até 1836, sucedendo-se por outros dez parentes, até Ney de Albuquerque Maranhão, o último da linhagem, que terminou seu último mandado, como senador, em 1995.
A distribuição de províncias a poucos grupos, durante as Capitanias Hereditárias, era prática muito comum. Somente a família Alencar, por exemplo, esteve à frente de três províncias, com Tristão Gonçalves no Ceará, sendo sucedido por José Martiniano e Tristão Araripe no Rio Grande do Sul e Pará. O domínio se estendeu até o período da ditadura militar, quando Humberto de Alencar Castello Branco assumiu a presidência do Brasil, após o golpe de estado em 1964.
A família que, durante a história do Brasil, se perpetuou no poder por mais tempo, passando por seis gerações, foi a Andrada. A partir de José Bonifácio, patriarca da independência, outros 22 Andradas figuraram no cenário político do país, com nomes atuantes até hoje. Como José Bonifácio Tamm, deputado federal de Minas Gerais, que mantém um mandato parlamentar há 56 anos ininterruptos, tornando-se em um dos parlamentares mais experimentados do mundo.    
Nordeste e Rio, currais eleitorais
Tradicionalmente o Nordeste, talvez por uma cultura coronelista, constitui-se como um polo de dominação patriarcal político. José Sarney e Antônio Magalhães são duas figuras que simbolizam esta prática, com seus sobrenomes presentes em cargos públicos até hoje. Sarney, que presidiu o Senado Federal até 2012, mantém um amplo curral eleitoral no Maranhão, eclodindo inclusive em casos de nepotismo, com a contratação de parentes para cargos de gabinete. Atualmente, seus filhos, José Sarney Filho e Roseana Sarney, ocupam a pasta do Ministério do Meio Ambiente e o governo do estado do Maranhão, respectivamente.
Já Antônio Carlos Magalhães, falecido em 2007, foi senador, ministro das Telecomunicações e Governador da Bahia. Seus dois filhos e mais um neto prosseguiram na política. Luís Eduardo Magalhães foi deputado federal e estadual pela Bahia, mas faleceu 1998. Atualmente, ACM Júnior é senador pela Bahia e ACM Neto é prefeito de Salvador. Outras três famílias também possuem muita força, hoje em dia, no Nordeste. O alagoano Renan Calheiros é o presidente do Senado Federal. Seu irmão, Olavo, foi deputado federal de Alagoas até 2011. Já Renildo, é prefeito de Olinda, em Pernambuco.
Da família Arraes, vieram dois governadores de Pernambuco, Miguel Arraes, até 1999, e Eduardo Campos, o atual mandatário. Já a famíla Alves é uma das mais influentes do Rio Grande do Norte. Agnelo Alves foi senador e prefeito por dois mandatos do município de Parnamirim ,até 2008. Seu filho, Carlos Eduardo, é o atual prefeito de Natal e seu sobrinho, Henrique Alves, é deputado federal e presidente da Câmara.
No Rio de Janeiro, muitas famílias políticas se perpetuam no poder até hoje. Além dos Cabral e Garotinho, os Bolssonaro, Picciani, Maia, Alencar e Brizola representam uma força eleitoral carioca. Jair Bolssonaro é uma das figuras mais polêmicas entre os políticos brasileiros. Deputado federal, ele ficou famoso por defender interesses militares e conservadores. Seus filhos, Flávio e Carlos, são, respectivamente, deputado estadual e vereador.  
Jorge Picciani, ex deputado estadual e atual presidente do PMDB, abriu espaço para que seus filhos, Leonardo e Rafael, seguissem na política. Enquanto o primeiro está no seu terceiro mandato como deputado federal, o segundo ocupa o cargo de secretário de Estado de Habitação. Do lado da oposição, o deputado federal Rodrigo Maia segue os passos do pai, o ex prefeito e atual vereador Cesar Maia. Outro sucessor atuando na oposição é o deputado federal Brizola Neto, quem mantém a linhagem de seu avô, Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro.
*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil

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