domingo, 4 de agosto de 2013

Lição: A ascensão e a queda da TVX Gold, a primeira empresa X de Eike Batista


Estamos correndo um grande risco ao mergulhar de cabeça nas aventuras de um empresário ganancioso e de políticos inescrupulosos que só visam ter acesso a apoios financeiros para suas campanhas e assim se perpetuar no poder. Queremos o porto, mas com respeito, a população e o meio ambiente, precisamos de matrizes econômica que garantam pleno emprego a todos. Para isso, é necessário um projeto politico de desenvolvimento  a curto, a médio e a longo prazo e que agrege todos os seguimentos da sociedade.

Assim como ocorreu com as empresas da EBX, a companhia de ouro fez sucesso na bolsa, mas foi vendida por uma fração do valor de pico

 

Ascensão e queda da TVX Gold, 1ª empresa X de Eike (© Estadão Conteúdo)
Fonte reportagem: msn.com.br



"Quem não pode se lembrar do passado está condenado a repeti-lo." A frase do filósofo espanhol George Santayana é desgastada, mas ajuda a explicar os atuais dissabores do empresário Eike Batista com o Grupo EBX. Nos anos 80 e 90, Eike viveu a ascensão e a queda de outro negócio: a empresa TVX Gold, listada nas Bolsas de Toronto, no Canadá, e de Nova York, nos Estados Unidos.
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Como principal acionista e presidente executivo da empresa desde a sua criação, em 1985, Eike transformou a TVX numa das dez maiores empresas de ouro do mundo. Captou milhões de dólares para projetos que nem sempre vingaram e vendeu a empresa em 2001, por uma fração do que chegou a valer, para a Kinross, mineradora também canadense.
No auge, as ações da TVX foram negociadas por incríveis US$ 722. Pouco antes da venda, eram cotadas a míseros US$ 0,27. "Com a EBX, Eike repetiu exatamente os mesmos erros cometidos na TVX", afirma Terence Ortslan, diretor-geral da TSO & Associates, de Toronto, empresa de pesquisa e análise nos setores de ouro, mineração e fertilizantes.
Essa parte da trajetória do empresário é pouco conhecida no Brasil não só pelo tempo que se passou, mas porque teve como principal cenário o Canadá. Dono de importantes reservas de urânio, zinco, níquel, petróleo, gás e carvão, o país possui uma estrutura sofisticada para extrair riquezas do solo e multiplicar seus ganhos e benefícios. O Canadá tem até a sua Wall Street: a Bay Street, onde se concentra a elite financeira e a Bolsa de Toronto, referência na captação de recursos para a mineração em escala global.
Os profissionais com mais estrada nesse efervescente ambiente não esquecem uma derrapagem no setor. Muitos ainda têm o pé atrás com Eike. "Há bancos internacionais que não investiram na EBX porque se lembram do que ocorreu na TVX", diz um executivo de um banco internacional que não quer ser identificado.
A história no Canadá há mais de dez anos tem muitas semelhanças com o que se viu no Brasil recentemente. Em 1995, Eike empreendeu um projeto de expansão que pretendia colocar a TVX entre as seis maiores mineradoras das Américas em pouco menos de quatro anos. Anunciou US$ 480 milhões em investimentos na Europa, Canadá, Estados Unidos, Peru e Equador.
Como tinha em caixa apenas US$ 120 milhões, precisava do mercado para cumprir metas tão apertadas. Numa entrevista, em maio de 1995, ao extinto jornal Gazeta Mercantil, Eike afirmou que, graças à reputação da TVX, seria possível levantar mais US$ 400 milhões com investidores. Na época, a TVX valia US$ 1,2 bilhão na bolsa, mas o empresário sugeria que o valor da companhia poderia chegar a US$ 3 bilhões em 1998, quando a expansão estivesse a todo o vapor.
Assim como na petrolífera OGX e na mineradora MMX, Eike angariou somas astronômicas e valorizou a TVX com base em expectativas de produção. Em 1996, a ação da empresa atingiu o ápice de US$ 722, o triplo de três anos antes. Com mais de 30 anos de experiência no setor de commodities, John Ing, presidente da empresa de análise Maison Placements, de Toronto, ainda se lembra do encantamento despertado por Eike. "Ele é um vendedor nato: dizia aos investidores exatamente o que eles queriam ouvir."
Riscos. O brasileiro também tinha a seu favor a equipe. Assim como fez no Grupo EBX, ao contratar ex-funcionários da Vale e da Petrobrás, havia se cercado de profissionais confiáveis. Tinha ao seu lado Ian Telfer, uma das maiores autoridades mundiais no mercado de ouro. O executivo é hoje presidente do Conselho Global do Ouro, entidade criada pelas mineradoras do mundo todo para discutir o mercado. "A presença de Ian Telfer na TVX era o atestado de credibilidade de Eike", afirma o analista da Maison Placements.
No entanto, segundo Ortslan, da TSO & Associates, o crescimento da TVX foi ancorado em um grande número de projetos com qualidade duvidosa - uma manobra arriscada. Minas de difícil exploração só são viáveis quando o preço do ouro está em um patamar alto. Eike não levou em conta essa óbvia variável da mineração.
Entre 1995 e 2000, o período mais ousado de expansão da TVX, o preço do ouro só caiu, inviabilizando parte dos projetos. Em 2001, quando Eike deixou a empresa, o preço médio do ouro havia sido de US$ 271 - o mais baixo desde 1978.
Eike desconsiderou também os riscos políticos, sociais e ambientais. Fez sua maior aposta no complexo de minas de Cassandra, na Grécia. Quando adquiriu a licença de exploração, anunciou o projeto como um "achado". Cassandra se revelou um presente de grego. As minas estão numa área de florestas nativas da Europa, uma raridade, e cercada por sítios arqueológicos. A população local promoveu protestos tão enfáticos que riscaram a imagem da TVX, que nunca extraiu um grama de ouro de Cassandra.
Hoje, quando se olham os ativos atuais da Kinross, que absorveu a TVX, é possível perceber que boa parte das minas tinha problemas. "Além do fracasso na Grécia, ativos anunciados como importantes, como a New Britannia, estão fora de operação - foi por isso que a TVX nunca esteve entre as minhas recomendações", diz Ing.
Tanto Ortslan quanto Ing dizem que a história da TVX é lembrada como um fracasso no Canadá - apesar de, oficialmente, a EBX vender a história como um êxito. "Pela sua aquisição, a Kinross fez uma troca de ações no valor de US$ 800 milhões, mas esse dinheiro não foi parar nas mãos de Eike", diz Ortslan.
Procurado, o Grupo EBX não quis comentar a passagem de Eike no comando da TVX.

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