sexta-feira, 26 de julho de 2013

“E que justiça a resguarda?… Bastarda”

Já disse e escrevi, mais de uma vez, que considero o professor Adriano Moura o melhor entre nós, poetas de Campos vivos. Menos vezes, embora merecesse ainda mais, reafirmei outra opinião meramente pessoal: o advogado Gregório de Matos Guerra (1636/95), o “Boca do Inferno”, para mim, é o maior talento que já viveu na poesia brasileira. Assim, no diálogo entre os dois vates, aqueles que vaticinam, que veem antes, estabelecido aqui, na democracia irrefreável das redes sociais, abro minha lida blogueira na tentativa de aquecer esta manhã fria de sexta-feira…
Gregório de Matos
Gregório de Matos
Trechos de um poema de Gregório de Matos, escrito no século XVII. Qualquer semelhança com a “República do Chuvisco”, não será mera coincidência:


Que falta nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem faz os círios mesquinhos?… Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?… Guardas.
Quem as tem nos aposentos?… Sargentos.
E que justiça a resguarda?… Bastarda.
É grátis distribuída?… Vendida.
Que tem, que a todos assusta?… Injusta.
O açúcar já acabou?… Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?… Subiu.
Logo já convalesceu?… Morreu.
A Câmara não acode?… Não pode.
Pois não tem todo o poder?… Não quer.
É que o Governo a convence?… Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

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