quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

História de Cícero Guedes

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Boletim do MST RIO – N. 46 – 1 de fevereiro de 2013 – Especial Cícero Guedes
Amigas e amigos,
Jamais imaginamos que o primeiro boletim de 2013 tivesse de ser assim. Mas não há de ser com tristeza quem iremos lembrar do nosso grande companheiro Cícero. Neste boletim, procuramos juntar um pouco do aprendizado que ele nos deixa, para que sigamos nos inspirando em sua força. É nosso dever lembrar e passar adiante a intransigência que Cícero tinha na luta contra o latifúndio. Da mesma forma, sua defesa incondicional da agroecologia deve servir de exemplo para cada militante se inspirar.
Esperamos que esta edição especial do nosso boletim seja alegre, firme e coerente com história do amigo Cícero, para que não fiquemos nem sequer um minuto em silêncio, e para que a ele possamos dedicar toda a nossa vida de luta.
Foto: Alan Tygel
História
A história de vida de Cícero impressio­na. Pai de cinco filhos, o alagoano come­çou a trabalhar aos 8 anos como cortador de cana em situação análoga à escravi­dão. Para fugir das condições desumanas de sua terra natal, ele migra para o Rio de Janeiro mas, sem alternativas, vol­ta ao canavial para trabalhar novamente em situação semelhante à escravidão. Cí­cero e sua família só conseguem se liber­tar dessa situação quando o MST come­ça a se organizar na região para ocupar a primeira fazenda improdutiva em 1996. Seis anos depois de viver embaixo da lo­na preta, ele garante seu lote de terra no maior assentamento do estado, o Zumbi dos Palmares. “Cícero foi vítima do tra­balho escravo no nordeste do país e em Campos. Quando o movimento chega, ele se envolve na ocupação Zumbi dos Palmares. Mas depois ele vira um grande militante encampando a bandeira da reforma agrária para todos neste país. So­lidário, ele queria terra para todos, não queria só para ele”, disse a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Ana Costa, do Comitê Popular de Erradi­cação do Trabalho Escravo, do qual Cíce­ro também fazia parte.
Referência em agroecologia, Cícero ex­trapolava os limites do assentamento e compartilhava seus conhecimentos da lida com os professores e estudantes da Universidade Estadual do Norte Flumi­nense (Uenf) e da UFF. Não era raro ele participar de atividades na universidade, nem mesmo estudantes passarem as tardes conhecendo o assentamento e em es­pecial a produção do seu pedaço de terra. “Se a universidade brasileira pretender ter o mínimo de papel transformador na realidade, ela tem que entender que fo­ra dos caminhos formais há possibilida­de de acumulação do conhecimento tam­bém e, muitas vezes, esse conhecimento se prova tão ou mais importante que o produzido na academia. Cícero era uma prova viva disso. Ele era uma pessoa in­teligente, capaz de evoluir e causar evolu­ção porque os estudantes que se aproxi­maram dele se beneficiaram muito e saí­ram pessoas mais conscientes do limite dos seus conhecimentos formais”.
Cícero acompanhava todas as áre­as que estavam na luta pela terra na re­gião de Campos. Ele atuava nos diver­sos assentamentos e era responsável pe­lo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal. Na ocupação de Cambahyba, ele planejou todo o processo de organização das famílias. Cíce­ro também era organizador e entusiasta das Feiras da Reforma Agrária do MST que acontecem no Largo da Carioca, no centro do Rio, com a venda de verduras e frutas livres de agrotóxicos. “Realizar mais feiras é um desafio e desafio é pra ser cumprido. Tudo pra nós é desafio, es­tamos acostumados com essa situação. Esse negócio de veneno é uma babaqui­ce desses filhos da puta. O capitalismo é cruel e devasta tudo. Não tem esse negó­cio de remédio, é veneno mesmo e vene­no mata”, dizia. O assassinato de Cícero repercutiu internacionalmente. O MST do Rio de Janeiro recebeu notas de soli­dariedade de partidos, organizações, mo­vimentos e sindicatos de Moçambique, Espanha, México, Guatemala, Chile, Ar­gentina, Costa Rica, entre outros.

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