domingo, 17 de março de 2013

Para ministra, criminosos da ditadura não podem ter cargo público


A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse nesta sexta-feira (15), em São Paulo que pessoas envolvidas em situação de morte, tortura e desaparecimento forçado no período da ditadura militar não devem ocupar funções públicas. Ela fez a afirmação ao responder a uma pergunta sobre as denúncias de que o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, teria contribuído para a morte do jornalista Vladimir Herzog.


Marcelo Camargo/ABr
Maria do Rosário+Vannuchi Maria do Rosário afirmou que o Estado brasileiro ainda deve explicações às famílias dos mortos e desaparecidos no período da ditadura
"Eu penso que todas as pessoas que comprovadamente estiveram envolvidas em situação de morte, tortura e desaparecimentos forçados não devem ocupar funções públicas no país", afirmou. "Porque os que cometeram - e se cometeram comprovadamente estes atos -, traíram qualquer princípio ético de dignidade humana e não devem ocupar funções de representação."

A ministra não citou o nome de Marin e fez questão de enfatizar que as denúncias precisam ser comprovadas. Ela participou de um evento da Comissão de Anistia, realizada na USP, para homenagear o estudante Alexandre Vannuchi Leme, morto sob tortura em 1973, e também para entregar oficialmente à família do jornalista Vladimir Herzog, também morto sob tortura, em 1975, o novo atestado de óbito.

Clarice Herzog

A viúva de Herzog, Clarice, também falou na ocasião sobre a polêmica em torno de Marin. Lembrou que, pouco antes de Vladimir assumir seu cargo na TV Cultura, em 1975, o jornalista Claudio Marques, que assinava uma coluna num jornal semanal de São Paulo, escreveu que a emissora estava sendo tomada por comunistas.

Logo em seguida, na Assembleia Legislativa, em São Paulo, o deputado Wadih Helu repercutiu e apoiou a denúncia do colunista. Na mesma ocasião, Marin cobrou explicações das autoridades sobre as denúncias, que estariam gerando "intranquilidade" nas famílias. Pouco dias depois, Herzog, que era filiado ao Partido Comunista, foi preso e assassinado.

CBF

Nesta quarta-feira (13), José Maria Marin, decidiu utilizar o site da CBF para se defender da acusação política de ter apoiado o golpe militar e de perseguir dissidentes do regime. A página oficial da instituição estampou uma manchete, produzida pela assessoria da CBF, com o objetivo de refutar as acusações contra Marin referentes ao período em que ele ainda era deputado estadual, filiado à extinta Arena - o partido que dava aparência legal à ditadura. Segundo o texto, as acusações fazem parte de "uma torpe campanha", baseada em "mentiras e deturpação de fatos do passado”.

Petição Pública

A questão da relação entre Marin e a ditadura provoca polêmica desde que ele assumiu o cargo, um ano atrás. No mês passado o assunto ganhou novo impulso com o lançamento, pela internet, de uma petição cobrando a sua destituição do cargo.

Até este sábado (16) a petição já havia recebido apoio de mais de 39 mil pessoas. Quando for atingida a meta de 50 mil assinaturas, será encaminhada à CBF. Quem está à frente da iniciativa é Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog.

Ivo afirma que Marin estimulou a perseguição ao pai dele, que trabalhava na TV Cultura, vinculada ao governo do estado.

Ao tomar conhecimento da iniciativa da CBF, Ivo manifestou surpresa. "Há um ano a entidade vinha dizendo que não iria se manifestar sobre o assunto porque se tratava de uma questão particular. E agora? O que mudou?"

Na opinião de Ivo, a presença de Marin na presidência da CBF compromete a imagem do Brasil: "É como se a Alemanha tivesse convidado um membro do antigo partido nazista para organizar a Copa de 2006".

Explicações

Ainda na cerimônia desta sexta (15), a ministra Maria do Rosário afirmou que o Estado brasileiro ainda deve explicações às famílias dos mortos e desaparecidos no período da ditadura. "Devemos produzir respostas que sejam coerentes, justas", afirmou. Para ela, a democracia no País vai se sentir envergonhada enquanto "todas as respostas não forem oferecidas às famílias".


Fonte: Estadão

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