domingo, 24 de março de 2013

Jandira Feghali: Duas tragédias anunciadas


O Estado do Rio, dentro de uma “agenda previsível”, perde anualmente inúmeros cidadãos fluminenses em decorrência das chuvas de verão. Desde domingo passado (17), quando a tempestade atingiu o estado, o macabro número de mortes não para de crescer.

Por Jandira Feghali*


Até escrever este texto para vocês, eram relatadas 32 vítimas na Região Serrana, mais precisamente no município de Petrópolis. Sob a lama, famílias inteiras são despedaçadas, ao som de gritos e choros. 32 pessoas. 32 cidadãos. 32 vidas interrompidas e famílias desfeitas. Uma estatística que, todos os anos, é registrada no vergonhoso calendário do nosso Estado.

Lamentavelmente, prefeituras de gestões anteriores e o atual Governo do Rio poderiam ter tirado do papel um planejamento responsável e obras já financiadas para prevenir o cenário que vemos se repetir. Há dois anos, fora mil vítimas por causa das chuvas nos primeiros meses. Foram apontadas necessidades de obras de infraestrutura, contenção de encostas e alternativas habitacionais. Não faz pouco tempo que vimos, chocados, boa parte do distrito de Xerém, em Duque de Caxias – na Baixada Fluminense – desaparecer sob rios inteiros. As tragédias ocorrem ao compasso de ineficiências, nas gavetas das burocracias, nos tortuosos caminhos dos aditivos das licitações, nos inexistentes planejamentos ou ações concretas, na velocidade necessária e proporcional ao compromisso com a população.

Outra tragédia ocorre também, também numa “agenda previsível”, nas redes de saúde pública e privada. Destaco a crise dos hospitais federais situados no Rio de Janeiro, anunciada e denunciada pelas entidades, profissionais de saúde, por nós, parlamentares – mas pouco ouvida pelos gestores responsáveis. Enquanto você acompanha minha indignação nesta mensagem, médicos, enfermeiros, profissionais de saúde em geral e pacientes do Sistema Público de Saúde (SUS) tentam sobreviver e fazer sobreviver uma rede deficitária principalmente em recursos humanos. Aos poucos, importantes serviços dessas unidades vêm perdendo leitos e deixando de funcionar, reduzindo ou suspendendo a assistência à população, como é o caso de emergências pediátricas e de transplantes.

A sociedade brasileira e o Congresso brasileiro precisam se indignar. Nosso compromisso, registro, é com o povo. Por conta disso, nesta semana, reivindicamos ao ministro da Saúde a retomada dos compromissos firmados entre a pasta, nosso mandato e as entidades médicas que lutam pelo setor. Também atuaremos firme, cobrando as medidas necessárias para a prevenção de desastres e perdas de vidas nas cidades do nosso Estado.

É preciso mudar a agenda de tragédias “anunciadas” do Rio, com gente morrendo soterrada, afogada na enchente ou na fila de uma emergência hospitalar. Isso se faz com compromisso, isso se faz com ação.

*Deputadas federal (PCdoB-RJ)

Um comentário:

Arte de Festa disse...

Sinceramente é até difícil fazer qualquer comentário. É isso mesmo "morte anunciada". Famílias inteiras aguardam o verão com apreensão por causa da chuvas que transformam esse período em um verdadeiro terror. Período onde muitos vão para a praia com seus filhos de férias e outros vão para abrigos - isso quando sobrevivem.

A saúde é uma calamidade pública ainda que já se tenha feito algumas ações de melhoria estamos longe de alcançarmos um sistema que funcione e traga dignidade aos usuários.

A sociedade brasileira precisa se mobilizar de forma mais consequente sobre essas questão que tanto aflige o povo trabalhador desse país.