A comemoração dos 178 anos da elevação de Campos da
categoria de vila à cidade, completados hoje, se transforma na
possibilidade de contar fatos que contribuíram para a formação da
sociedade campista. E existem várias formas de rememorar esse passado.
Uma delas é através de fotos antigas, que revelam muito mais do que é
mostrado nas imagens. O pesquisador Leonardo Vasconcelos, responsável
pelo Centro de Memória Fotofráfica de Campos/IF Fluminense, é um dos
contadores dessa história, cheia de avanços e recuos, que atualmente se
vê marcada por governos populistas e ainda não adequada a um contexto de
preservação de seus bens arquitetônicos.
O pesquisador explicou que existem duas formas de
analisar as fotos: a iconográfica, que trata estritamente do que a
imagem mostra, e a iconológica, em que o que está retratado na foto
remete a questões mais profundas, para além da mera descrição. Como
exemplo, ele citou uma foto do centro de Campos em uma enchente ocorrida
em 1906, que pode remeter às mortes por leptospirose.
A partir dessas análises, é possível entender os
caminhos percorridos para a formação arquitetônica da cidade. Leonardo
explicou que o processo de globalização, como acompanhamento dos modelos
histórico-arquitetônicos, acontece desde o século XIX, quando em 1870 a
praça São Salvador era formada por barro, tal como nas praças de
Lisboa, em Portugal, e na cidade do Rio. Já no pós-II Guerra Mundial, os
paradigmas arquitetônicos passam a ser ditados pelos Estados Unidos com
seus prédios arranha-céus, também se reproduzindo em Campos.
Um marco importante da história de Campos que também
remonta a esse processo de globalização foi a visita, em 1911, do
presidente do estado do Rio de Janeiro, Oliveira Botelho, e do ministro
Pedro Toledo, que criticou o fato de Campos, mesmo possuindo um avançado
parque industrial, estar atrasada no que tange a urbanização da área
central da cidade.
Ofendidos com os apontamentos do ministro, membros de
famílias proprietárias de usinas logo criaram a “Commissao de
Saneamento”, que se utilizava de um imposto sobre a produção da terra
para retificar ruas, melhorar diques, fortalecer o abastecimento de água
e criar espaços de contemplação, como os Jardins do Liceu e São
Benedito. E nesse processo de urbanização, assim como ocorreu no Rio de
Janeiro, a população mais pobre foi “empurrada” para as áreas
periféricas.
— Então, vemos o saneamento e a urbanização em Paris
entre os anos 1860 e 1870. No Rio, logo no início do século XX e em
Campos entre 1911 e 1916. Hoje, no entanto, esse acompanhamento revela
que Campos está atrasada, porque questões que tangem a preservação
arquitetônica já são tratadas no Rio desde 1970. Em Campos, esse
processo de preservação ainda não chegou — criticou Leonardo.
O pesquisador pontuou ainda o farto investimento da iniciativa
privada em obras de interesse público ao longo do século XX. Entretanto,
segundo ele, esses investimentos escassearam a partir do final da
década de 1980, quando Anthony Matheus assume a prefeitura de Campos, em
que passa a se tornar hegemônico um modelo político voltado para ações
populistas, em que a maioria dos cidadãos passa a ficar à espera de
benesses e vantagens advindas do governo. “Gestões populistas são
capazes de qualquer coisa. Elas não seguem um padrão, como um governo de
extrema-direita, também maléfico, mas que pelo menos somos capazes de
entender seu funcionamento”, disse.Talita Barros
Fotos: Arquivos digitais do CMFC-IFF
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