sexta-feira, 29 de março de 2013

Campos completa 178 anos




 
















A comemoração dos 178 anos da elevação de Campos da categoria de vila à cidade, completados hoje, se transforma na possibilidade de contar fatos que contribuíram para a formação da sociedade campista. E existem várias formas de rememorar esse passado. Uma delas é através de fotos antigas, que revelam muito mais do que é mostrado nas imagens. O pesquisador Leonardo Vasconcelos, responsável pelo Centro de Memória Fotofráfica de Campos/IF Fluminense, é um dos contadores dessa história, cheia de avanços e recuos, que atualmente se vê marcada por governos populistas e ainda não adequada a um contexto de preservação de seus bens arquitetônicos.
O pesquisador explicou que existem duas formas de analisar as fotos: a iconográfica, que trata estritamente do que a imagem mostra, e a iconológica, em que o que está retratado na foto remete a questões mais profundas, para além da mera descrição. Como exemplo, ele citou uma foto do centro de Campos em uma enchente ocorrida em 1906, que pode remeter às mortes por leptospirose.
A partir dessas análises, é possível entender os caminhos percorridos para a formação arquitetônica da cidade. Leonardo explicou que o processo de globalização, como acompanhamento dos modelos histórico-arquitetônicos, acontece desde o século XIX, quando em 1870 a praça São Salvador era formada por barro, tal como nas praças de Lisboa, em Portugal, e na cidade do Rio. Já no pós-II Guerra Mundial, os paradigmas arquitetônicos passam a ser ditados pelos Estados Unidos com seus prédios arranha-céus, também se reproduzindo em Campos.
Um marco importante da história de Campos que também remonta a esse processo de globalização foi a visita, em 1911, do presidente do estado do Rio de Janeiro, Oliveira Botelho, e do ministro Pedro Toledo, que criticou o fato de Campos, mesmo possuindo um avançado parque industrial, estar atrasada no que tange a urbanização da área central da cidade.
Ofendidos com os apontamentos do ministro, membros de famílias proprietárias de usinas logo criaram a “Commissao de Saneamento”, que se utilizava de um imposto sobre a produção da terra para retificar ruas, melhorar diques, fortalecer o abastecimento de água e criar espaços de contemplação, como os Jardins do Liceu e São Benedito. E nesse processo de urbanização, assim como ocorreu no Rio de Janeiro, a população mais pobre foi “empurrada” para as áreas periféricas.
— Então, vemos o saneamento e a urbanização em Paris entre os anos 1860 e 1870. No Rio, logo no início do século XX e em Campos entre 1911 e 1916. Hoje, no entanto, esse acompanhamento revela que Campos está atrasada, porque questões que tangem a preservação arquitetônica já são tratadas no Rio desde 1970. Em Campos, esse processo de preservação ainda não chegou — criticou Leonardo.
O pesquisador pontuou ainda o farto investimento da iniciativa privada em obras de interesse público ao longo do século XX. Entretanto, segundo ele, esses investimentos escassearam a partir do final da década de 1980, quando Anthony Matheus assume a prefeitura de Campos, em que passa a se tornar hegemônico um modelo político voltado para ações populistas, em que a maioria dos cidadãos passa a ficar à espera de benesses e vantagens advindas do governo. “Gestões populistas são capazes de qualquer coisa. Elas não seguem um padrão, como um governo de extrema-direita, também maléfico, mas que pelo menos somos capazes de entender seu funcionamento”, disse.
Talita Barros
Fotos: Arquivos digitais do CMFC-IFF

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