sábado, 22 de junho de 2013

RELATO DE CARLOS LOYO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES

Depois de muitos anos afastado de qualquer militancia política, decidi ir à Av.Paulista por conta da convocatória de partidos políticos que ali se encontrariam reunidos, dadas as questões de hostilidades que militantes diversos teriam sofrido em manifestações anteriores e o caráter direitista que tais manifestações estão assumindo. Pois bem, decidi ir e fui sozinho por me encontrar completamente desmobilizado, com o intuito talvez, de encontrar algum rosto conhecido de outras épocas, mas não vi. Confesso que não fui iludido por nada, pois meu filho que já havia participado anteriormente de uma manifestação havia me dito: "Pai, aquilo é coisa de burguesia, é contra Dilma e o Haddad, é tudo muito nojento....", meu filho tem 17 anos, não é militante político de nada, apenas guarda com ele algumas simpatias por este ou aquele (Carlos Mariguella é um deles, só não conhece sua vida na totalidade, mas devo ao Mano Bronw por isso). Me dirigi até o vão do MASP, e ali se encontravam alguns grupos trotskistas e de classe média pequeno-burguesa verde-amarela, dirigi-me então até à Praça do Ciclista, início da Av Paulista, onde os militantes de diversos partidos políticos e algumas organizações sindicais e de esquerda entravam em passeata, por ultimo entrou a do PT, acompanhada pela CUT, UNE, UJS, tal grupo calculo em torno de 200 a 300 pessoas, não mais que isso, à frente deles já seguiam outros grupos do PCR, POR, tendencia marxista, Levante Popular,PCB, PCO e PSTU. A turma do PT foi a ultima a entrar e logo que o fez, já foram hostilizados por grupos organizados de fascistas, carecas, integralistas e outras merdas, não irei isentar aqui grupos de anarquistas que faziam coro e por vezes se diluiram no meio dos grupos de extrema-direita e partiram para as agressões, fica aqui registrado o caráter anti-revolucionário desse grupo de porraloucas que em virtude de identificarem as bandeiras vermelhas logo deixaram de lado "suas diferenças" com a buguesia e as hordas fascistas. Nos canteiros centrais e laterais concentravam-se grupos de classe média com caras pintadas de verde-amarelo e alguns com bandeiras do Brasil e outros com aquelas máscaras nojentas do anonymous. Logo de início as palavras de ordem dos direitistas eram: "Fora PT!", "PT vai tomar no cú!", "Comunismo não!", "Comunistas vão se foder de novo!", "Sem partido!", "Sem vermelho, só verde e amarelo", entre outras tantas palavras de ordem "inteligentíssimas" onde os palavrões as dominavam, na mesma medida que tais frases eram pronunciadas o PT respondia com: "Democracia!", "Fascismo não!", "sem violencia!". Logo de início, grupos de direita, formados por fascistas de toda ordem, acompanhados de anarquistas, burgueses bombados e exarcebados, começaram a arrancar bandeiras do PT e iniciou-se as agressões, por duas vezes intervi junto de alguns petistas para retomar uma bandeira que havia sido arrancada, e uma outra situação que eu e algumas outras pessoas se projetaram na frente de um "pitbull" (sujeito extremamente forte, careca, e que arfava como um animal e com olhar de ódio) para que o mesmo não agredisse uma garota do PT, franzina e que caiu em prantos diante da iminente agressão. Vários militantes petistas fizeram um cordão humano e caminhavam de costas na avenida objetivando a proteção de seus companheiros, seguidos logo atrás por aquele bando de pulhas, que xingavam, empurravam, agrediam, jogavam objetos, fogos de artifício e as agressões, haviam pelo lado dos petistas alguns indivíduos fortes que impunham certo respeito, porem na sua grande maioria eram rapazes franzinos que faziam essa pequena segurança, neste aspecto tenho que elogia-los pois não arredaram pé e resistiram bravamente a todas as situações impostas por aquele bando de marginais e vagabundos que os seguiam. Procurei identificar, pelo "modus operandi", no meio daquelas hordas fascistas se haviam policiais, e confesso que se haviam não consegui identifica-los, identifiquei sim 2 ou 3 homens de meia idade, um de cabelos já bem grisalhos, que parecia ter algum comando sobre alguns daqueles grupos. Na medida que a passeata avançava os jovens burgueses e de classe média que se mantinham nas margens da avenida levantavam os braços em riste com o dedo indicador apontando e gritavam "Oportunistas fora daqui!", certo momento meu óculos embaçou e como sou míope a minha visão ficou temporariamente distorçida e embaçada, e me veio uma visão dantesca pois os dedos indicativos não os visualizava apenas os braços estendidos em riste de ambos os lados da avenida, como se naquele exato momento teria eu penetrado alguma avenida em Berlim na década de 30, logo limpei meus óculos e voltei aos tempos atuais. Quando chegou na altura do Trianon-Masp quase nenhuma bandeira do PT, CUT, UJS, UNE se visualizava mais, sua grande maioria haviam sido arrancadas ou já haviam sido desfeitas, os petistas se desmobilizaram ali, alguns de forma ordenada e outros na base da pancadaria e perseguição, os petistas desfeitos avançaram sobre os que estavam logo a frente deles, o POR, tendencia marxista, PCR, que perderam tambem suas bandeiras e foram desmobilizados na mesma situação, quanto aos pecebistas e os trotskistas do PCO e PSTU acredito que prontamente foram desmobilizados ao perceber que não havia mais nada entre eles e os fascistas, mas tambem sem antes sofrerem agressões físicas e o bombardeamento de alguns rojões. A esquerda se evadiu da avenida ganhando as ruas transversais, muitos o fizeram tendo que sair correndo, várias garotas militantes da esquerda choravam, por medo e talvez por indignação daquilo que presenciavam. Me mantive na avenida por mais uma hora antes de me decidir ir embora, apenas os grupos de fascistas e jovens classe média se encontravam sorridentes e tiravam fotos coma bandeira nacional como que guardando para a "posteridade", posavam com caras tampadas e dedos de "vai-se-foder", bandeiras rubro-negras do anarquismo pude visualizar o longe sendo tremuladas, fogueiras com restos de bandeiras vermelhas via-se ao longo da avenida cercadas por grupos fascistas sorridentes, filmados por jornalistas, alguns destes cheguei a presenciar em conluio e confraternização com grupos pequeno-burgueses cara-pintadas. Cheguei a ver um homem que me pareceu ser, mas não posso afirmar, o vereador Gilberto Natalini do PSDB, todo sorridente e simpático àqueles que ainda se encontravam na avenida pois muitos já tinham ido embora. Os policiais militares em grupos por esquinas, não se envolveram em nenhum episódio em que houve violencia, apesar de a Globonews repetir por várias vezes que o ato da Paulista foi pacífico, os policiais encontravam-se sem capacetes, sem armas, apenas de tonfas, em muitos era perceptível um certo ar de apreensão, ainda mais quando houveram os primeiros lançamentos de rojões e algumas correrias em virtude dos momentos de agressões físicas e panico, mesmo que uma situação implicasse numa necessidade de intervenção policial, e houve esses momentos, eles nada podiam fazer, só faltou o governador dar-lhes um nariz de palhaço para completar o quadro. Por fim, não vi nada durante ou após a desmobilização da passeata nada que identificasse esse chamado grupo do MPL. Eles existem de fato? Vi outros grupos distribuindo panfletos sobre tal movimento mas quem assinavam eram outros grupos e Ongs que nunca ouvi falar. Fui embora para casa refletindo muitas coisas, com dor nas costas e de cabeça, talvez provocados por uma situação de stress e de incapacidade individual diante do quadro apresentado. Ontem foi o ultimo dia de Outono e hoje começa o Inverno, sem paralelismos com qualquer "Primavera". A situação é preocupante, assisti o crescimento daquilo que é o embrião do fascismo.

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