A Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) conduzirão os esforços multidisciplinares nacionais e internacionais para a exumação dos restos mortais do presidente João Goulart, morto na Argentina em 6 de dezembro de 1976.

João Vicente, Maria do Rosário, Rosa Cardoso, Gladis Borba, Suzete Bragagnolo
Goulart foi sepultado apressadamente em São Borja (RS), sem passar por uma autópsia, por imposição do regime militar. Desde a morte de Jango paira a suspeita de que sua morte pode ter sido articulada pelas forças repressivas de Brasil, Argentina e Uruguai, que viviam sob ditaduras naquele período.
Hoje já há provas de que o ex-presidente foi monitorado durante todo o seu exílio e o ex-agente uruguaio Mario Neira Barreiro, preso no Brasil por outros crimes, deu sucessivas entrevistas e depoimentos afirmando que existiu a Operação Escorpión, um plano para matar o presidente, que teria sido concluído por meio da adulteração dos remédios para o coração que Jango tomava.
Além da CNV, do MPF-RS, responsável por inquérito civil público sobre o caso, e da SDH, participam da empreitada a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e o Instituto João Goulart, representando a família do ex-presidente.
Participação internacional
A equipe técnica de peritos de diversas disciplinas forenses será coordenada pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, que contará com o apoio de peritos argentinos e uruguaios e da Cruz Vermelha Internacional que, com sua expertise, adquirida em casos como o da exumação dos restos mortais do ex-presidente chileno Salvador Allende, exercerá a função de perito independente.
O grupo técnico deverá ser estabelecido em reunião prevista para o próximo dia 25 de junho em Brasília ou Porto Alegre. Antes, a CNV e os demais órgãos envolvidos na investigação e a família encaminharão aos peritos toda a documentação já reunida sobre o caso e a história clínica do ex-presidente.
Complexidade
"Os peritos precisam desses dados para definir as hipóteses e as questões que terão que ser respondidas com o trabalho forense", afirmou Rosa Cardoso. "Não basta juntar todos os peritos, levá-los ao cemitério no mesmo dia, fazer a exumação e definir o lugar para guardar os restos mortais enquanto a perícia é realizada. O trabalho é muito mais complexo. É uma preparação demorada que queremos fazer da forma mais rápida possível", completou.
"Não estamos partindo do zero", disse a procuradora da República Suzete Bragagnolo. "As informações já levantadas serão disponibilizadas para a PF e os peritos envolvidos", destacou a integrante do MPF.
O procurador Ivan Marx, do MPF-RS e membro do grupo de trabalho Justiça de Transição, da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República, afirmou que a participação de peritos argentinos e uruguaios é necessária pois, se for provado homicídio, o crime ocorreu no contexto de uma articulação entre esses países.
"Há um conjunto de indícios que demonstra claramente que Jango foi vigiado no contexto da Operação Condor e há o depoimento de um co-autor, uma confissão, apontando que o ex-presidente tomou uma medicação adulterada", acrescentou Rosa Cardoso.
"À família interessa esclarecer o caso da melhor forma possível. Ficamos reconfortados por ter reunido todos esses atores hoje, todos esses peritos e estamos empenhados para que essa dúvida termine", declarou o filho do presidente João Goulart, João Vicente Goulart.
Fonte: Portal da Comissão Nacional da Verdade

Ele afirma que não é necessário mudar ou revogar a Lei da Anistia - que assegura a não punição dos torturadores - para que isso ocorra. "O que se deve fazer é oferecer ao Supremo [Tribunal Federal] todas as chances de rever sua posição. E vai rever, seja em um ou em 20 anos."




42683.jpg)



Assim, sem deixar de fazer o embate político com as pastas militares para ter acesso pleno aos arquivos da ditadura e avançar na apuração das violências, uma das maiores tarefas da Comissão Nacional da Verdade será romper com a tentação da “teoria dos dois demônios” e suas variações, assumindo claramente seu papel de dar voz às vítimas, registrar o trabalho já feito pelos familiares e, sobretudo, oficializar a versão desses setores diretamente atingidos. Para isso, deve também trabalhar do modo mais aberto,transparente, participativo e público possível, evitando cair na concepção equivocada, a meu ver, de que o grande trabalho da Comissão se resume a um relatório final, perdendo de vista que o processo da busca da verdade já é reparador por si mesmo se feito de modo inclusivo e cuidadoso com as vítimas. A CNV pode fazer um grande relatório final e com abertura pra sociedade durante o processo, esses objetivos não são excludentes entre si. Nessa linha, o sigilo deve ser exceção, nos casos em que a publicidade pode atrapalhar as investigações, mas não a regra.
