Caía a tarde quando músicos
trajando luto chegaram à praça São Salvador, no Centro de Campos. Ao som
de violinos, violoncelos, flautas, oboés e tantos mais instrumentos,
cerca de 150 crianças e adolescentes da ONG Orquestrando a Vida, do
Centro Cultura Musical de Campos (CCMC), fizeram seu pedido em forma de
melodia. Nos últimos dias, foram realizadas manifestações pela cidade,
simulando o velório dos projetos mantidos pela ONG, como a Orquestra
Sinfônica Mariuccia Iacovino. Nesta quarta-feira, os jovens músicos se
organizaram em cinco orquestras e uma banda sinfônica para seu último
ensaio oficial, sob risco de encerramento definitivo de suas atividades
devido à falta de patrocínio. Apresentaram-se a Banda Sinfônica Hermes
Cunha, a Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino e as Orquestras
Infantil, Infanto-juvenil, Escola, Juvenil e Jovem.
O presidente, fundador da ONG e
também maestro da Orquestra Mariuccia Iacovino, Jony William Vilela,
passou mal após o velório simbólico da última terça-feira e precisou ser
hospitalizado, mas, ainda assim, conseguiu assistir ao ensaio desta
quarta.
— A partir de amanhã, não teremos
mais ensaios. Só retornaremos a nossas atividades quando tivermos
certeza de que temos condições para isso — disse o maestro.
Durante a noite desta quarta, o
secretário de cultura Orávio de Campos se manifestou relatando que a
Prefeitura sempre apoiou a ONG. “Em 2009 a Prefeitura de Campos celebrou
convênio com a ONG, com repasses de recursos da primeira parcela, que
não pôde ser renovado pela ausência de prestação de contas no prazo
legal previsto. Em 2010 foi dada a oportunidade para novo convênio com o
Trianon, não sendo apresentadas as documentações legais necessárias
para elaboração do convênio”, afirmou Orávio.
O instrumentista Charles Vilela,
filho de Jony William, ressaltou que a iniciativa não tem como intenção
mostrar hostilidade, mas sim sensibilizar o público e reunir todo o tipo
de ajuda possível.
— Não queremos atrito com o poder
público, estadual ou municipal, e nem instituições privadas. Mas
queremos alertar a população sobre nossa situação. Temos o aval do mundo
inteiro, que confirma nossa capacidade. Esse projeto é essencial para a
instrução desses jovens: muitos maestros e mestres em música que tocam
em orquestras de todo o país se formaram conosco. Nós ajudamos a
transformar a realidade sociocultural de Campos — disse.
O secretário de Cultura também
ressaltou que a prefeitura continua com a intenção de apoiar a
Orquestrando a Vida. “A Prefeitura de Campos mantém sua posição de apoio
à ONG “Orquestrando a Vida”, contratando, até o momento, no ano de
2012, mais sete apresentações de suas orquestras, em um valor de R$
59.500, e continua aberta ao diálogo para discussão de novas propostas
de parcerias”, relatou.
A sociedade compareceu ao evento
da noite de ontem e mostrou interesse pelo trabalho musical e
educacional dos projetos do Centro Cultura Musical. A professora do
curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF),
Antenora da Mata Siqueira, esteve no local da manifestação na companhia
de alunos para prestar apoio à ONG e suas orquestras.
— Viemos aqui apoiar e prestar
solidariedade ao movimento, pois entendemos a importância desse projeto
sociocultural que trouxe tantas oportunidades não só para os jovens
integrados à ONG como também suas famílias e que valoriza tanto a
cultura de nosso município e do mundo. Acho válido que todos contribuam
como puderem, pois se o poder público não se pronuncia e a auxílio vindo
de empresas privadas também não apareceu, cabe à população se mobilizar
para que algo seja feito. É por isso que esta ação é importante — conta
a professora, acrescentando que “Cada um a sua maneira poderia
organizar formas de captar quaisquer recursos à disposição. Isso tem
tudo a ver com a instrução de nossos jovens, e não merece acabar dessa
maneira”, completa a professora.
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