Usina Cambaíba em polêmica de Nazismo
Mario Sérgio
Conforme declarações feitas no livro
“Memórias de uma guerra suja”, o ex-delegado do Departamento de Ordem
Política e Social (Dops) Cláudio Antônio Guerra afirmou que, pelo menos,
dez corpos de militantes executados durante a ditadura, nos anos 70 e
80 no Brasil, teriam sido incinerados na extinta Usina Cambahyba,
pertencente ao ex-deputado federal e ex-governador do Rio de Janeiro
Heli Ribeiro Gomes, falecido em 1992. A família de Heli ficou revoltada
com a situação e disse que as afirmações de Cláudio Antônio são absurdas
e irreais.
Em trecho do livro publicado na
internet, na última quarta-feira, Guerra diz ter se aproveitado da
amizade com Heli para utilizar o forno da usina e sumir com os corpos
dos militantes. “O local foi aprovado. O forno da usina era enorme.
Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano”, dizia parte
do livro. Guerra declarou ainda que levou o coronel da cavalaria do
Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço
Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira,
que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar), ao local para
que fosse efetuada a suposta incineração.
Segundo o livro, teriam sido queimados
João Batista, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski, Wilson Silva,
David Capistrano, João Massena Mello, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão
Filho, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho.
Ainda de acordo com Guerra, que após o serviço a Usina Cambahyba teria
passado a receber benefícios. “A usina passou, em contrapartida, a
receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um
período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam
pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham
acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia
prestar”, contou em outro trecho do livro.
No site de promoção do livro, editado
pela Topbooks, Guerra disse que se arrepende dos feitos na época no
regime. “Sou um homem de 71 anos, mudado pela vida. Não posso dizer que
não me arrependo. As tarefas que cumpri me trouxeram dores dos ossos à
alma, os rostos nunca se apagaram da minha memória”, declarou. O
ex-delegado afirmou também que resolveu revelar os segredos em livro em
prol das famílias que ainda tem esperanças de saber o destino de seus
parentes. “Para tentar ajudar as famílias das vítimas resolvi dizer o
que sei. Estou sereno, não podia deixar de fazer o que estou fazendo”,
finalizou.
Segundo uma das herdeiras de Heli
Ribeiro Gomes, Cecília Ribeiro Gomes, as declarações do ex-delegado são
absurdas e irreais. “É impossível acontecer uma coisa dessas numa usina,
onde trabalhavam milhares de pessoas. Era muita gente circulando
praticamente durante todo dia. As afirmações desse homem são
completamente absurdas”, disse ao afirmar que medidas cabíveis estão
sendo tomadas contra o relato de Guerra.
Cecília disse, ainda, que seu pai nunca
teve uma mancha em sua vida, tanto pessoal quanto política e
profissional. “Meu pai era um homem de conduta em todos os sentidos. A
vida pública dele, todos os campistas conhece bem e sabem como ele era.
Muito triste uma pessoa ser atacada dessa maneira e não estar viva para
se defender. Apesar dele não querer o comunismo dentro do Brasil, na
época, ele era totalmente contrário a qualquer tipo de perseguição ou
violência. Ele era um democrata”, concluiu.
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