sábado, 19 de novembro de 2011

Onde está a democracia? EUA reprimem os indignados anti-Wall Street porque os temem


Nosso vizinho do Norte converteu-se em um Estado cada vez mais antidemocrático e repressivo também dentro de seu território. Assim o confirma o desmantelamento brutal, promovido pela polícia nos últimos dias, de muitos dos acampamentos surgidos em importantes cidades por causa da faísca acesa pelo Ocupar Wall Street.

Por Angel Guerra Cabrera, em La Jornada


O movimento parecia débil e solitário quando começou com cerca de 200 pessoas no Parque Zucotti (rebatizado de Parque da Liberdade), mas logo ganhou o apoio da maioria dos nova-iorquinos, sindicatos, intelectuais heterogêneos, artistas e pequenos e médios empresários.

Em menos de dois meses, espalhou-se para mais de uma centena de cidades, dobrou sua popularidade em relação ao Tea Party e mudou a agenda do debate político nacional. Temas tabu, como a desigualdade de renda, a dominação da sociedade por corporações, a ganância capitalista e os crimes do império agora são discutidos na sala de muitas casas e nas páginas editoriais.

Por que este movimento surgiu, tão temido pelo poder, que não parou de reprimí-lo até desalojá-lo de seu acampamento principal perto de Wall Street? Como resposta, vou tentar resumir os questionamentos do movimento Ocupar ao sistema dominante nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos estão passando por uma enorme crise econômica, da qual não se avista o final, em consequência da ganância capitalista, do governo do dinheiro e das guerras constantes. O desemprego atinge 25 milhões, incluindo muitos jovens. O país que mais acumulou riquezas tem 50 milhões na pobreza, um número maior sem seguro de saúde e as escolas públicas estão em ruínas. Milhões perderam suas casas, os patrimônios de toda a vida. Entretanto, de acordo com dados oficiais, a riqueza dos mais ricos cresceu 275%.

Mas também há uma crise de valores que faz com que as pessoas acreditem cada vez menos nos políticos e nas instituições. Não sentem que estes as representem, já que servem às grandes corporações e aos bancos, que pagam as suas campanhas políticas e os enchem de privilégios, sejam eles o presidente Barack Obama e a rama executiva do governo ou membros das duas casas do Congresso.

Estes últimos nunca tinham tido um nível tão baixo de aceitação na opinião pública. Estão em crise os desígnios de hegemonizar e o ciclo das guerras imperialistas no qual a potência está atolada e já não pode mais sustentar. Isto só tem exacerbado e estendido os conflitos que supostamente resolveria.

A isso está ligada a ameaça de incendiar a humanidade em um holocausto nuclear, caso os líderes medíocres e oportunistas da Casa Branca e seus aliados capitais insistirem em seu plano de atacar o Irã (Aqui uma afirmação muito pessoal: se se quer encontrar hoje exemplares desta espécie em extinção conhecida alguma vez como homens e mulheres de Estado, deve-se buscar primeiro em países latino-americanos, que tomaram um rumo independente).

A crise norte-americana se estende desde a forma implacável e já intolerável de exploração e pilhagem de uma grande maioria (99%do seu próprio povo) e de enormes contingentes de pessoas no mundo, por uma pequena minoria (1%), até o paradigma de produção e de consumo consolidado nos anos 1950 e 1960 com o pleno desenvolvimento do consumismo.

Uma medida da tragédia que tem impulsionado este fenômeno é o fato de que se os 7 bilhões de seres humanos que chegamos a ser na Terra alcançarmos o consumo per capita dos EUA, só poderíamos sobreviver se contássemos com os recursos naturais de não menos que cinco planetas como o nosso.

Esta é a causa do aquecimento global que causa já fome, distúrbios climáticos mais intensos e mais frequentes e está eliminando em alta velocidade muitos ecossistemas essenciais para a sobrevivência humana. Também do envenenamento dos rios e mares, onde em poucas décadas não haverá vida. Nada disso pode permanecer igual e precisa mudar radicalmente. A primeira coisa a mudar é que todas as decisões que os afetam devem ser tomadas pelos cidadãos e não pelo capital e pelos políticos que atuam como funcionários dele. Tudo isso e mais dizem os integrantes do Ocupar.

Frente à repressão, que certamente continuará, o Ocupar Wall Street respondeu com sabedoria: "não se pode desalojar uma ideia cujo momento chegou".

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