quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Da USP para as ruas: estudantes contra a repressão


“Ah, mas que vergonha, achar que a passeata é por causa da maconha”. Assim cantavam cerca de 2,5 mil estudantes da Universidade de São Paulo (USP), na tarde desta quinta-feira (10), em uma marcha que percorreu a região central da capital paulista. O ato político contra a Polícia Militar (PM) na Cidade Universitária, marcado para ocorrer concentrado, em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, ganhou as ruas com suas bandeiras contra a repressão da atual gestão da universidade.


Na frente de todos, formando uma espécie de escudo, os 73 presos acusados de ocuparem a reitoria da USP, por cerca de uma semana, abriam caminho para a passeata. Além de pedir o fim do convênio assinado entre a reitoria e a PM, os manifestantes pediam a saída do reitor, João Grandino Rodas, e abertura de diálogo entre reitoria, trabalhadores e estudantes para traçar um plano alternativo de segurança para o campus.

Na terça-feira (8), a desocupação do prédio da administração (cumprindo uma reintegração de posse) ocorreu de forma obscura, durante a madrugada. Segundo relatos de alguns alunos detidos na operação, 400 integrantes da Tropa de Choque, com apoio de 30 homens da cavalaria, viaturas e helicópteros, entraram no prédio quebrando tudo que viam pela frente para intimidar e incriminar os ocupantes do local.

Naquele mesmo dia, uma assembleia que reuniu 3 mil estudantes, decidiu decretar greve para pressionar a saída da PM. Aderiram a greve até agora alunos dos cursos de Arquitetura e urbanismo (FAU), Ciências Sociais, Letras, Filosofia, História e Geografia (FFLCH), Artes Cênicas (ECA).

Concentração


Debaixo do sol forte, os primeiros manifestantes começaram a chegar por volta das 14h. Uma dificuldade do acesso ao largo São Francisco de quatro ônibus que saíram do campus Butantã com alunos dos cursos que aderiram à greve, gerou um atraso. A greve do corpo discente foi decretada em uma assembleia ocorrida na noite de terça-feira (8), que contou com cerca de 3 mil pessoas.

Os ocupantes dos ônibus chegaram, em grupos, por volta das 16h, na concentração. Entre eles, cerca de 40 alunos do curso de Artes Cênicas caracterizados como zumbis, vestidos e com rostos pintados de branco, numa alusão à paz e também a uma das características marcantes do movimento estudantil na USP, os rostos cobertos para evitar serem reconhecidos e sofrerem punições da reitoria.

“Se a gente cobre o rosto com panos ou máscara, a grande mídia diz que somos bandidos. Mas, se um policial militar cumpre uma ação de reintegração de posse sem identificação, ele se torna herói”, questionou a estudante Luisa, 20 anos, que preferiu não dar o nome completo. Segundo organizadores do ato, cerca de 20 estudantes e trabalhadores envolvidos em ocupações anteriores sofrem processos administrativos internos.

O estudante do primeiro ano de Ciências Sociais Erick Nascimento, 18 , deu seu nome e apoio integral ao movimento. “Vim sozinho acompanhar de perto o que está acontecendo. Não podemos nos omitir”, disse Erick que é de Campinas e mora em uma república de estudantes próxima do campus.

A universidade é pública


O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, também presente, destacou que por trás da polêmica sobre a segurança está uma questão maior, que é a democratização da universidade pública, mais acessível e mais aberta à comunidade. A entidade defende o fim do vestibular e a adoção de outros mecanismos para seleção. Com relação à segurança, Iliescu destacou a importância de se pensar em uma reurbanização do espaço, com maior circulação de pessoas.

“Não é só uma questão de segurança, mas de democratização do espaço, que é público. Esse fato expõe a concepção liberal que vem sendo introduzida na universidade na atual gestão da reitoria. Por isso, a presença da PM, dentro ou fora da universidade, não é sinônimo de segurança”, afirmou Iliescu.

Para o presidente da UEE, Alexandre Cherno, “tudo isso que está ocorrendo dentro da USP vai na contramão da atual política nacional para a juventude. É um momento em que o país avança na questão com políticas e com a aprovação do Estatuto da Juventude”.

Já o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, que representa todos os estudantes da instituição, destacou que a manifestação de hoje é a expressão da falta de diálogo da reitoria.

“O ato de hoje fortalece o movimento. Com isso, esperamos abrir um diálogo profundo entre a comunidade acadêmica para discutir um novo projeto de universidade com mais ensino, pesquisa e extensão”, declarou João Vitor de Oliveira, um dos integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Também estavam presentes na manifestação o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp), a Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), e movimentos sociais.

Deborah Moreira, da redação do Vermelho


Nenhum comentário: