sábado, 24 de setembro de 2011

Especialistas criticam experiência que desafiou teoria de Einstein


Plantão | Publicada em 23/09/2011 às 20h10m
RIO - Físicos do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), na Suíça, passaram o dia de ontem tentando defender e explicar a experiência que pôs em xeque a Teoria da Relatividade Especial, de Albert Einstein. Um dos principais postulados da Teoria da Relatividade Especial, a de que nada pode viajar mais depressa do que a luz, foi desafiado na quinta-feira, quando um grupo do Cern anunciou ter flagrado neutrinos, um tipo de partícula subatômica quase sem massa e pouco interativa, ultrapassando o limite de velocidade do Universo. Caso a experiência seja comprovada, isso exigirá a revisão de grande parte da física moderna. Ontem, vários físicos disseram acreditar haver falha na forma como a experiência foi planejada. E os próprios autores do estudo pediram ajuda para comprovar, ou não, seus resultados.
- Precisamos ter cautela, muita cautela. Pedimos a ajuda de físicos de todo o mundo. Precisamos que tentem replicar nossos resultados. Queremos que a comunidade científica nos ajude a entender nossos resultados malucos. Eles são mesmo malucos. Mas estão lá. São concretos - disse um dos autores do trabalho, Antonio Ereditato.
Os dados foram obtidos de um detector de partículas de 1,8 mil toneladas instalado no laboratório subterrâneo italiano de Gran Sasso. Batizado Opera, o equipamento detecta neutrinos lançados pelas experiências no Grande Colisor de Hádrons (LHC), acelerador de partículas do Cern, a cerca de 730 quilômetros de distância.
Nos últimos três anos, os pesquisadores do Opera cronometraram a viagem de aproximadamente 16 mil neutrinos entre o Cern e o detector italiano e verificaram que, em média, eles cobriram a distância 60 nanosegundos mais rápido do que se estivessem viajando à velocidade da luz (um nanosegundo equivale a um bilionésimo de segundo).
- É uma simples medição de tempo de voo - disse Ereditato, que é físico da Universidade de Berna e porta-voz do Opera, que conta com a colaboração de 160 cientistas. - Nós medimos a distância e o tempo e tiramos a razão entre os dois para chegar à velocidade, como todos aprendemos na escola - defende ele, acrescentando que a incerteza nas medições é de apenas dez nanosegundos.
Embora seja muito pequena, a simples notícia de uma violação do limite fixado pela teoria de Einstein está provocando polêmica no meio científico. Para muitos, o mais provável é que o experimento dos pesquisadores do Opera esteja errado e o próprio Ereditato reconhece que ainda é muito cedo para dizer que Einstein estava enganado.
- Suspeito que a maior parte da comunidade científica não vai tomar esses resultados como definitivos a não ser que eles sejam reproduzidos por pelo menos um e preferencialmente muitos experimentos - comentou V. Alan Kostelecky, físico teórico da Universidade de Indiana, ao site da revista "Science", acrescentando, porém, que ficaria "encantado se isso se mostrasse verdade".
Já Chang Kee Jung, físico de neutrinos da Universidade de Stony Brook, em Nova York, afirma ser capaz de apostar que os resultados são fruto de um erro sistêmico da experiência.
- Não apostaria minha esposa e filhos porque eles ficariam irados, mas apostaria minha casa - disse ele, também ao site da "Science".
Jung, que é porta-voz de um experimento similar ao Opera no Japão batizado T2K, explica que a grande questão é conseguir medir com acuidade o tempo entre o surgimento dos neutrinos nas colisões de prótons no Cern e a hora em que eles chegam no detector. Essa medição depende do Sistema de Posicionamento Global (GPS), que traz com ele incertezas da ordem de dezenas de nanosegundos.
- Ficaria muito interessado em saber como eles chegaram à incerteza de dez nanosegundos, pois pela sistemática do GPS e da eletrônica isso seria um número muito difícil para se chegar - afirmou.

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