sábado, 18 de julho de 2009

O partido que o PCdoB precisa ser

Nada como o contato com a militância e os quadros partidários para colher novos aprendizados, conhecer a experiência viva do partido e intercambiar idéias.


Neste momento de abertura de debates na fase preparatória do Congresso do Partido Comunista do Brasil - PCdoB (http://www.vermelho.org.br/pcdob/), e da Segunda Assembléia Nacional do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz - Cebrapaz (http://www.cebrapaz.org.br/), tenho cumprido intensa agenda nacional e interagido com a valorosa militância comunista nos estados.

O entusiasmo com a atual fase de expansão do PCdoB, convive com a sadia vontade de opinar sobre os rumos da nossa luta e participar mais do esforço pela construção e consolidação do partido. Ao contrário do que se pode supor, inclusive na juventude, a militância é receptiva à idéia de estruturar-se em bases, implantadas em empresas, escolas, bairros, setores profissionais, instituições etc., a fim de exercer influência política e assumir a frente das lutas nos centros nevrálgicos da luta de classes, esta entendida como luta política, econômica e ideológica, de massas, eleitoral e institucional. Organizar o partido a partir de bases assim estruturadas, significa dotá-lo da sua arma mais afiada: a militância consciente, combativa, politizada e organizada.

Em boa hora o PCdoB adotará, no 12° Congresso (de 5 a 8 de novembro) uma nova política de quadros à qual, para ser eficaz, deve partir da valorização da militância. Quadros não são apenas os dirigentes de organismos superiores, os profissionalizados ou as pessoas ilustradas e célebres. Quadros são antes, e acima de tudo, os militantes do partido capazes de assumir responsabilidades, dirigir frentes e setores, nos mais diversos níveis. Um secretário político da base é um quadro, como o são também os seus pares que dirigem, nesse mesmo nível, as frentes da agitação e propaganda, da formação, da organização, dos movimentos sindicais e populares, da juventude e das mulheres etc. É preciso escutá-los, formá-los, ajudá-los a desempenhar suas funções. Deixando de lado toda a soberba, a direção partidária tem que estar ao lado deles cotidianamente, realizando o que o camarada Amazonas chamava de direção concreta e não burocrática.

Uma boa política de quadros deve estimular a elevação do nível de compreensão e iniciativa política das bases do partido, sua formação ideológica a fim de desenvolver a identidade comunista e aprofundar os conhecimentos teóricos do marxismo-leninismo e do socialismo científico, ajudar os militantes a aperfeiçoarem os métodos de trabalho e de direção, refinarem o estilo revolucionário de trabalho, cultivarem a disciplina, a crítica e a autocrítica, a capacidade de fazer política, concertar alianças e ligar-se com as massas.

Atuando dessa maneira iremos no bom caminho quanto à aplicação da orientação de abrir as portas do partido, que não pode ser confundida apenas com a abertura das listas eleitorais a personalidades não comunistas. Devemos direcionar nossos esforços aos lutadores do povo, suas lideranças naturais, a fim de preparar e organizar o prtido para o combate político e social, pois é de conflitos e não de ação política e social moderada, o cenário que temos diante de nós.

Pressuposto de uma política de quadros contemporânea é a política, a ideologia e a teoria do PCdoB. A política de construção partidária não é administrativa, tecnocrática, nem liberal, pois a organização à qual esses quadros vão servir e dirigir têm uma natureza própria e definida. Trata-se de uma política de quadros para um partido comunista, de trabalhadores e das massas populares, portador de uma ideologia revolucionária de classe e científica, o marxismo-leninismo, cuja missão histórica é o comunismo, e o objetivo programático é o socialismo no Brasil, com todas as transições e caminhos peculiares e intermediários que esta luta comporta.

É falsa a idéia de que esta identidade é ultrapassada, que o marxismo-leninismo e o socialismo científico são conceitos caducos, que apresentar o PCdoB nesses termos atrapalha o esforço de expansão das fileiras e estreita o arco das nossas relações e alianças. Como dizia o camarada João Amazonas, a política e a ideologia da classe operária estão no posto de comando de todas as nossas ações, a estratégia condiciona a tática, os princípios informam, animam e formatam a renovação.

É por isso que todo esforço no sentido da renovação se entrelaça com a defesa dos princípios, com o combate ao pragmatismo, ao liberalismo, ao oportunismo corrosivos e à tendência a diluir o Partido. A justa opinião de que não há modelo de partido desvinculado dos desafios da época e de que a organização se subordina à política, não pode ser confundida com a visão de um partido apenas para a tática, visão bernsteiniana, sempre rediviva, de que “o movimento é tudo, o objetivo final, nada”. As indispensáveis flexões táticas, políticas amplas de alianças, ações conjunturais com alvo preciso estão ligadas e subordinam-se à estratégia, à luta pelo socialismo no Brasil, que somente será vitoriosa com a luta árdua contra as classes dominantes entreguistas e retrógradas, com o acrescido papel dos trabalhadores e seus aliados, o que pressupõe a existência de um partido comunista revolucionário, de classe e de combate.

José Reinaldo Carvalho, Jornalista. Diretor de Comunicação do Cebrapaz e membro da Comissão Política do CC do PCdoB.

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