quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Orlando Silva: “Vou honrar a história do PCdoB na Câmara de SP”

O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, irá assumir a vaga deixada pelo vereador Netinho Paula na Câmara Municipal de São Paulo. Netinho será indicado nesta quarta-feira (28) pelo prefeito eleito da capital, Fernando Haddad, para a nova Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.

Por Mariana Viel, da Redação do Vermelho


Em entrevista ao Portal Vermelho, Orlando afirmou que será uma honra e um desafio enorme representar o PCdoB no Legislativo Municipal. “Nosso Partido ganha a cada dia mais relevância na vida política brasileira e espero honrar a trajetória e a história do PCdoB – que é feita com gente comprometida com o Brasil.”

Com 19.739 votos, Orlando conquistou a primeira suplência da chapa comunista da capital nas eleições municipais de outubro deste ano. “Hoje cedo o prefeito Haddad me telefonou para comemorar a responsabilidade que terei como representante do Partido na Câmara. Falou que confia muito no meu trabalho e que meu mandato irá dar suporte ao seu governo. Estou feliz e consciente da importância que é representar o Partido na Câmara de São Paulo.”

Orlando começou sua trajetória no movimento estudantil em Salvador e foi eleito em 1995 o primeiro presidente negro da União Nacional dos Estudantes (UNE). Formado em Direito na Universidade Católica de Salvador, em 2006 ele foi nomeado ministro do Esporte pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele foi um dos grandes responsáveis por trazer a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 para o Brasil. Em 2011, Orlando foi vítima de uma caluniosa campanha da mídia que tentou envolver seu nome em supostas irregularidades no Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte.

Em 12 de junho deste ano, a Comissão de Ética da Presidência da República arquivou a denúncia contra Orlando por “absoluta falta de provas”. Na época, ele afirmou que essa foi a “primeira vitória na cruzada em defesa da justiça e da verdade”.

“O mandato na Câmara é um caminho para eu retomar a minha atividade política pública e renovar os compromissos que sempre tive com o meu Partido e com o meu país. Tenho a responsabilidade de honrar os votos das pessoas que, enfrentando toda a onda da mídia, apoiaram, votaram e se mobilizaram. Vamos dar uma resposta com muito trabalho, dedicação e esforço para que possamos demonstrar a capacidade que temos para fazer uma cidade e um país melhor”.

Orlando assegura que será o porta-voz do PCdoB na cidade de São Paulo e que seu mandato terá uma identidade muito forte com os trabalhadores, a juventude e com os movimentos sociais. “Além do Esporte e da Educação, eu diria que os movimentos são uma marca importante da minha trajetória e também serão uma marca do meu mandato.”

Ele comentou ainda a indicação do vereador Netinho de Paula para a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Segundo ele, a criação da pasta irá abrir o caminho para fomentação de políticas públicas na capital. “O ex-presidente Lula criou o Ministério, mas as principais cidades do país e os governos estaduais não têm uma Secretaria própria para tratar desse tema. Para nós é importante que São Paulo saia na frente, numa posição de vanguarda.”

“O PCdoB em São Paulo tem uma particularidade porque tem uma marca muito forte no trabalho com a juventude e com as mulheres e vai se configurando também como um Partido que tem muitas lideranças negras. Aqui em São Paulo o nosso vereador Netinho é negro, eu sou negro, o presidente municipal do PCdoB, Wander Geraldo, é negro, a nossa deputada Leci Brandão é negra. Isso para nós é uma coisa boa porque vai dando a nosso Partido a cara do povo brasileiro.”




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

GOLPE DE 64, AINDA TRAZ SOFRIMENTO E DOR!!!!!


"O dia que durou 21 anos" aborda atuação dos EUA no golpe de 64


Que os Estados Unidos da América contribuíram com o golpe militar de 1964 no Brasil todos sabem. Mas o documentário O dia que durou 21 anos, dirigido por Camilo Tavares, explicita isso com uma contundência inédita no Brasil.


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John Kennedy e o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon / Foto: Divulgação
O trabalho de pesquisa de três anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson. As conversas mostram o passo a passo do golpe e o reconhecimento dele.

O documentário introduz o contexto vivido no Brasil desde João Goulart e suas tentativas de aplicação das chamadas Reformas de Base, até a reação estadunidense ao encaixá-lo como um comunista semelhante a Fidel Castro. Com forte participação dos embaixadores no Brasil, de institutos – como o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) – o golpe é tratado no filme de maneira direta, expondo os interesses econômicos dos EUA no Brasil e o investimento financeiro aplicado para, por exemplo, comprar parlamentares brasileiros.

Historiadores e personalidades conduzem a narrativa, com ajuda de fotos da época animadas, áudios, imagens de documentos e filmagens do período. Um trabalho de fôlego, que preenche a 7ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul com conteúdo, contribuindo para a construção das história do país. O documentário buscará a distribuição comercial para abril de 2013.

Veja entrevista com Camilo e confira a programação da Mostra no site (www.cinedireitoshumanos.org.br):

Carta Maior: Por que escolheu dar o enfoque do documentário na atuação norte-americana no golpe de 64? 
Camilo Tavares: A riqueza do material encontrado nos levou a esta opção. Tanto os telegramas da CIA, como as conversas da Casa Branca, assim como os incríveis programas de TV produzidos pela CBS (em 1961) para convencer a opinião pública dos EUA.

Acredita que no Brasil há uma percepção comum dessa participação ativa dos presidentes norte-americanos no golpe? Há muito pouco conhecimento do assunto. Este foi um dos objetivos do filme. Nossa meta é que o filme que teve patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras, Sabesp e Cesp, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público jovem que precisa conhecer melhor nossa história. E também do público adulto em geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses dos EUA em nosso país.

O documentário traz uma série de documentos secretos do governo dos EUA e da CIA, além de gravações entre embaixadores e os presidentes dos EUA. Como foi o processo de pesquisa? Quanto tempo durou, como foram adquiridos esses materiais e como foi organizado? A divulgação desse material é considerada inédita no Brasil? 
Sim é inédita no sentido do volume de informações. Tivemos apoio de historiadores muito antenados como Carlos Fico (UFRJ) que pesquisou os arquivos e publicou dois livros sobre o assunto, Peter Kornbluh (NARA_Washington) e da jornalista e escritora Denise Assis que fez a pesquisa do IPES e IBAD. A Pequi Filmes, minha produtora, arcou um árduo e custoso trabalho de 3 anos para levantar todo o material de arquivo. Aliás temos um rico material suficiente para novas series de TV ou filmes longa-metragem das relações Brasil, EUA e América Latina.

O documentário traz também dois aspectos interessantes: a insistência do interesse financeiro dos governos norte-americanos em apoiar o golpe militar e a suposta falta de controle de pessoas que apoiaram o golpe mas não concordavam com torturas, prisões e outras medidas autoritárias. Acredita que os objetivos norte-americanos foram atingidos ou em algum momento houve um descompasso com os interesses dos militares brasileiros? Os militares brasileiros fizeram exatamente o que os americanos queriam. Entregaram nosso mercado para os EUA e adotaram o modelo de desenvolvimento financiado pelas empresas americanas, que hoje são as grandes empresas do Brasil nos setores estratégicos da economia. A primeira medida do Presidente Castelo Branco ao assumir foi acabar com a lei que limitava a remessa de lucros excessivos das empresas americanas ao EUA. Ou seja abriu as portas, como diz a música do Raul Seixas: "a solução é alugar o Brasil". E aliás como será que está esta lei de remessa de lucros atualmente?

Foram colhidos depoimentos de militares. Com que objetivo buscou isso?
Este foi o grande desafio: ouvir a voz dos militares como o Ministro Jarbas Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e também dos militares que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira Lima.

Qual papel o documentário em si e o cinema em geral podem ter para a promoção dos direitos humanos no Brasil? 
Considero essencial.

Fonte: Carta Maior


SER PROFESSOR

Verdades da Profissão de Professor
Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal r
emunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
... um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Paulo Freire

Lutar contra as ameaças a CLT

O capitalismo ataca o povo trabalhador em todas as formas seja com guerras, com ditaduras, com pseudas-democracias, mas a forma, mais presente, é o arrocho salarial e o ataque a direitos sociais e trabalhistas.
TODOS ALERTAS E PRONTOS PARA RESISTIR!!!!

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199550&id_secao=1

Racismo

Pouco a comemorar e muito a ser cobrado!!!!

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199240&id_secao=1

Seja solidário!

Estamos fazendo uma campanha de “Natal” em benefício ao “ASILO DE CAMBUCI” que se sustenta com a colaboração dos amigos que conhecem o trabalho ali realizado.
O brinde solicitado é: um lençol de solteiro com uma fronha, de tecido de algodão, com elástico ou uma toalha de banho.
Pode ser entregue na própria Instituição.
Desde já agradecemos mais uma vez sua colaboração que para nós é de enorme importância. Que Deus traga suas bênçãos de PAZ para você e sua família. Desejamos um Feliz Natal com harmonia e muito amor.
Neusa Hélia

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

González Varela: Um Marx desconhecido; A Ideologia alemã


Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Por Nicolás González Varela*


“Eu próprio não tenho uma compilação de meus trabalhos, que foram escritos em diferentes idiomas e impressos em diferentes lugares. A maioria deles já não se encontra nas livrarias” (Karl Marx a N. F. Danielson, 7/10/1868).

“Três chefes comunistas alemães, entre os quais o conhecido Marx, estão preparando edição em oito volumes sobre o Comunismo, doutrina, conexões e situação na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra. Tudo a partir de documentos. Os outros dois colaboradores são Engels e Hess, comunistas conhecidos” (Informe secreto da Polícia Prussiana, Paris, 17/2/1846).
Boris Nicolaïevski, grande biógrafo de Marx, reconhecia em 1937 que, de cada mil socialistas, talvez só um tenha lido, de cabo a rabo, algum livro de Marx; e de cada mil antissocialistas, nenhum.

E o pior, concluía, é que Marx já não estava na moda. Quarenta anos antes, um grande teórico e militante, falo de Labriola, ao participar não conhecido debate sobre o valor científico da obra de Marx em 1897, (a chamada “primeira crise do marxismo”, e cujos principais interlocutores eram ninguém menos que George Sorel, Eduard Bernstein e Benedetto Croce)[1] perguntava-se ingenuamente se “os escritos de Marx e Engels… foram lidos integralmente por alguém externo ao grupo de amigos e adeptos próximos, isto é, dos seguidores e intérpretes diretos dos próprios autores?... Acrescente-se a isso a raridade de muitos dos referidos escritos, e até a impossibilidade de encontrar alguns deles.” E concluía profético se “este ambiente literário”, esta situação hermenêutica adversa, não seria um dos culpados pela má assimilação, a aparente decadência e crise do pensamento de Marx. Com pessimismo, recapitulava, em frase profética: “Ler todos os escritos dos fundadores do socialismo científico resultou, até agora, em privilégio de iniciados.”[2]

Já o fundador do anarcossindicalismo Georges Sorel, com quem Labriola troca ideias, havia chegado a conclusões semelhantes em balanço parcial da penetração do marxismo sob as condições materiais da Europa não início do século 20. Segundo Sorel e pelo mesmo motivo: “as teses marxistas não foram, em geral, bem compreendidas na França e na Inglaterra pelos escritores que se ocupam das questões sociais”.[3] Parafraseando Frossard, poder-se-ia dizer que a maioria dos marxistas não conhecem os escritos de Marx melhor do que os católicos conhecem a Summa de Santo Tomás de Aquino. Labriola perguntava-se a propósito da “crise” ou decadência de Marx, “como nos pode surpreender (...) que muitos e muitos escritores, sobretudo publicistas, tenham-se sentido tentados a tomar críticas de adversários, ou citações incidentais, ou inferências temerárias baseadas em trechos esparsos, ou vagas lembranças, os elementos necessários para construírem um Marxismo que eles mesmos inventavam a seu modo? (...) O Materialismo Histórico – que em certo sentido é todo o Marxismo – passou (...) por uma infinidade de equívocos, más interpretações, alterações grotescas, disfarces estranhos e invenções gratuitas (...) que teriam de ser obstáculo para quem quisesse construir para si uma cultura socialista.”

Nikolaïevski e Labriola, mas não só eles, estavam convencidos de que Marx teria para sempre o destino de má recepção, que começava na difusão e irradiação de seus escritos. Labriola falava de outro obstáculo, ainda mais profundo e perigoso, do qual nos ocupamos aqui: a raridade dos escritos de Marx e a impossibilidade de encontrarem-se edições confiáveis. De fato, nem só edições confiáveis, mas, mais simplesmente, obras publicadas!

O leitor responsável que se interessasse por Marx sofreria, segundo Labriola, dificuldades mais extremas que as enfrentadas por filólogos e historiadores que tenham de estudar documentos da Antiguidade. E perguntava, por experiência própria: “Haverá muita gente não mundo que tenha suficiente paciência para procurar, por anos a fio, um exemplar de Miséria da Filosofia (...) ou desse livro singular que é A Sagrada Família; gente disposta a suportar, para encontrar um exemplar da Nova Gazeta Renana, mas fadigas que as que os filólogos e historiadores enfrentam para ler e estudar documentos do Egito antigo?”[4]

Em resumo: cumprindo a profecia de Labriola, acontece hoje no mundo, com Marx, o que aconteceu com Byron em meados do século 20: só se encontram seus livros em bibliotecas de leitores excêntricos, não especialistas ou antiquados. Para o grande público, incluindo-se a Noblesse d’État do mandarinato acadêmico, o nome de Karl Marx significa hoje bem pouco. Hoje, setembro de 2011, não se encontram no mercado editorial de língua espanhola edições críticas de Marx e Engels, a meritória edição dos Werke a cargo da equipe de Manuel Sacristán ficou incompleta[5] e a única exceção é a edição em andamento (embora hoje interrompida), de parte das Werke, na editora Fondo de Cultura Económica, FCE, do México, graças ao trabalho do falecido Wenceslao Roces.[6]

Mas é lícito perguntar o que permanece vivo e o que morreu Marx, embora a pergunta possa ser puramente retórica ou dispare automaticamente a vulgata do Dia-Mat. A resposta seca e solene do pós-modernismo e da filosofia analítica é amplamente conhecida: o marxismo está decididamente fora de época, é “inatual”, como “grande narrativa” não consegue explicar-se sequer ele mesmo; e é obra fatalmente datada. Não passa de uma filosofia a mais, das que nos deixou o século 20 e, como tal, definitivamente marcada pelo próprio tempo. Sepultar Marx com todas as honras é dever, nem tanto intelectual, mas arqueológico, trabalho de antiquariato. Nada há que valha a pena resgatar nessas páginas infectadas de hegelianismo e providencialismo, como insiste, pela milésima vez, o neopositivista Mario Bunge.[7]

Labriola (e Sorel) constatavam uma dificuldade fática que nasceu com o próprio marxismo, que a carrega como estigma até nossos dias: as enormes dificuldades para estabelecer e editar, com critérios científicos atualizados, as suas obras completas. Labriola reclamava do SPD da época, detentor dos manuscritos (Nachlass), que “seria dever do partido alemão dar edição completa e crítica a todos os escritos de Marx e Engels; quero dizer, edição acompanhada em cada caso de prólogos descritivos e declarativos, índices de referência, notas e remissões (...).

E é preciso acrescentar os escritos já publicados em livro ou opúsculos, artigos de jornal, manifestos, circulares, programas e todas as cartas que, por serem de interesse público e geral, tenham importância política ou científica”. E concluía, taxativo: “Não se trata de selecionar: é preciso por ao alcance dos leitores toda a obra científica e política, toda a produção literária dos dois fundadores (...) inclusive os escritos de ocasião. E não se trata tampouco de reunir um Corpus iuris, nem de redigir um Testamentum juxta canonem receptum, mas de recolher os escritos com cuidado e para que os escritos possam falar diretamente a quem tenha ganas de lê-los”. Trata-se simplesmente de Marx poder falar diretamente...

Marx reconhecia que a própria vida o havia impedido de escrever conforme o cânone da arte de faire le livre, razão pela qual sua literatura eram fragmentos de uma ciência e de uma política em eterno devir.

O marxismo, se há algo que se possa chamar assim, era eminentemente um sistema aberto. Labriola destacara com suficiente clareza não só os critérios editoriais de uma política editorial, mas os problemas materiais objetivos que a difusão implicava, tanto da obra exotérica como dos manuscritos de Marx (e Engels).

Um dos erros mais significativos da difusão da obra marxiana e, portanto, de uma das causas que ajudam a explicar os desvios de interpretação foi o deslocamento entre os níveis diacrônicos e sincrônicos dos manuscritos, o que levou a uma desarticulação entre os componentes biográficos, cronológicos e doxográficos, que constituem, desde Teofrasto, o instrumental filológico mínimo necessário para que se alcance compreensão satisfatória de uma obra. Labriola já havia reconhecido a necessidade de, para que se entendam plenamente os textos, ser necessário relacioná-los biograficamente (na biografia, encontrar-se-iam ao mesmo tempo “a pegada e a trilha, o índice e o reflexo” da gênese de Marx). Mas no caso de Marx, essa disrupção anômala entre os dois níveis deveu-se, na maior parte, nem tanto ao seu estilo particular, mas, mais, à constante manipulação política que sofreram seus escritos, por carrascos executores circunstanciais.

O percurso tortuoso, entre errático e movido pelo acaso, que é a história editorial dos escritos de Marx só é comparável à coleção de coincidências afortunadas, fantásticas, triviais e quase inacreditáveis graças às quais se salvaram, para a posteridade, muitos dos escritos de Aristóteles. Como no caso de Marx, seus escritos sofreram as inclemências dos interesses políticos e os caprichos culturais, em cada mudança na forma de atenção. E, como Aristóteles, os manuscritos de Marx guardam uma peculiaridade muito especial: a maior parte são anotações, esboços, notas e memoranda, produto de uma técnica de trabalho intelectual limitada pela extrema pobreza e as repetidas emigrações políticas.

Mas no caso de Marx acrescenta-se uma condição a mais: o próprio marxismo (melhor dizer, os marxismos) nasceu, desenvolveu-se e profissionalizou-se em escola (e, em seguida, em ideologia oficial e legitimadora de um estado) quando a obra de Marx ainda não era toda ela acessível e, inclusive, quando partes importantes de seu corpus eram inéditas (e ainda são) ou, mesmo, eram inencontráveis. O êxito (?) do marxismo como ideologia de partido e ortodoxia de estado (como ciência da legitimação do DiaMat) precedeu em décadas a divulgação científica e exaustiva dos escritos completos dos fundadores.

Um dos casos mais extremos (embora não seja o único) é o texto conhecido como Die Deutsche Ideologie, A Ideologia alemã*, escrito a três mãos por Friedrich Engels, Moritz Hess e Karl Marx entre 1845 e 1846, e onde, para muitos especialistas, pela primeira vez estabelece-se o que se poderia chamar de materialismo histórico coerente e fundamentado.[8] E, embora a marxologia mais prestigiosa geralmente admita a importância desse escrito, inclusive a marxologia acadêmica (a começar por Althusser, Balibar etc.), é obra muito pouco lida em toda sua extensão, mal editada e de péssima difusão.[9] Fora do âmbito da marxologia, reina a indiferença, o desconhecimento total ou, diretamente, o desprezo que brota da ignorância. [10] Como diziam os antigos romanos: Pro captu lectoris habent sua fata libelli (o destino dos livros acontece segundo as capacidades e possibilidades do leitor). Também no caso de um pensador clássico, como Marx.

*****

Para dar-nos uma medida da importância que o próprio autor atribuía a esse trabalho de 1845-1846, é preciso fazer um pequeno desvio para atualizar a história pouco conhecida das primeiras obras escolhidas editadas de Karl Marx. A difusão da obra de Marx já era problema, ainda em vida do autor. As únicas edições em livro, de trabalhos da mesma época em que escreveu A Ideologia alemã, a frutífera década dos 1840, são produto de uma tentativa frustrada de editar ‘obras escolhidas’ primitivas, chamadas pomposamente Gesammelte Aufsätze von Karl Marx, resultado da exaltação editorial de um camarada, o médico e publicista Hermann Heinrich Becker (que Marx apelidou de “Becker, o vermelho” [der rot Becker])[11] aparição fantasmática ocorrida em abril e maio de 1851.[12]

Franz Erdmann Mehring, o historiador e político que pouco adiante fundaria a Liga Espartaco, com Rosa Luxemburg, relatava em seu trabalho biográfico clássico que “Marx pôs-se em comunicação com Hermann Becker para a edição de suas obras completas e, adiante, de uma revista trimestral a aparecer em Lieja; Becker fixara residência em Colônia, onde gerenciava uma pequena empresa editorial.”[13] O projeto de edição, em dois tomos, cada um com cerca de 400 páginas, em 25 cadernos costurados, tinha fundo eminentemente político, ação ligada a uma tática de partido (propagandistische Tätigkeit), ligada estreitamente à propaganda e difusão das ideias da famosa Liga dos Comunistas [Der Bund des Kommunisten], organização que se tratava de reconstruir na Alemanha.

Aquelas primitivas obras escolhidas de Marx tinham o apoio institucional do Comitê Central da Liga em Colônia [Kölner Zentralbehörde], que previa um sistema de assinaturas antes da publicação. No mesmo projeto, Marx concebera o lançamento de uma coleção popular de literatura socialista em pequenos fascículos (plano de difusão de pensadores socialistas que já tentara por em prática em 1845), e incluía obras de Babeuf, Buonarotti, Holbach, Fourier, Owen, Helvetius, Saint-Simon, Cabet, Considérant e Proudhon.

No folheto explicativo que acompanhava essas obras escolhidas primitivas de Marx, nos pacotes distribuídos para as livrarias, assinado pelo editor da compilação – o próprio Becker –, lia-se que a obra de Karl Marx estava dispersa em folhetos, panfletos, periódicos já desaparecidos e livros já não encontráveis nas livrarias, motivo pelo qual a edição em livro era importante serviço, ao oferecer aos leitores a produção escrita de Marx na última década: “o primeiro volume recolhe as contribuições de Marx publicadas na revista Anekdota de Ruge, na antiga Rheinische Zeitung (inclusive artigos sobre a liberdade de imprensa, leis sobre roubo de madeira, a situação dos camponeses do Mosela, etc.), nos Deutsch-französischen Jahrbüchern, no Westphaelische Dampfboot, em Gesellschaftsspiegel, etc. e uma série de monografias publicadas antes da revolução de março de 1848, mas por desgraça (sic!) ainda plenamente atuais.”[14]

O único e primeiro volume, que afinal ficou reduzido a 80 páginas, continha textos de Marx desde dezembro de 1841, o primeiro era Bemerkungen über die neue preußische Zensurinstruktion [Observações sobre as Novas Instruções do Governo Prussiano acerca da Censura], publicado na revistaAnekdota zur neuesten deutschen Philosophie und Publicistik[15] dos jovens hegelianos. A inclusão desse artigo é sintomática. Não é acaso que Marx tenha escolhido, não primeira publicação impressa [16], mas seu primeiro escrito como propagandista democrata-revolucionário defendendo a liberdade de imprensa burguesa clássica, contra o reacionário estado prussiano.

Nesse artigo, já criticava o “aparente Liberalismo” (Scheinliberalismus) da forma-estado burguesa, com bagagem filosófica que remetia declaradamente a Spinoza, Kant e Fichte, desmascarando a ilusão política de crer que os defeitos institucionais objetivos (objektiven Fehler, como a tendência a restringir a informação crítica livre) do Estado, na realidade, sua essência, pudessem ser corrigidos apenas mudando os censores.

Nenhuma “boa” lei, nenhuma “boa” intenção subjetiva – diz Marx ali – pode alterar a essência de um estado burguês. Além disso, num extraordinário parágrafo concentrado, Marx descreve em linguajar popular o método dialético de investigação da Verdade (Untersuchung der Wahrheit), que tem de ser, ele mesmo, verdadeiro: Zur Wahrheit gehört nicht nur das Resultat, sondern auch der Weg, “não só o resultado constitui a Verdade, também o caminho.” Destaca que o caráter do objeto (Charakter des Gegenstandes) que se investiga, nesse caso o estado burguês, exerce influência decisiva sobre a própria investigação. A investigação verdadeira “é” a Verdade desmembrada, cujos membros dispersos agrupam-se e condensam o resultado, nada mais, nada menos, que uma versão ainda tosca e primitiva do modo de investigação, o Forschungswiese, como aparece explicado no prólogo de O Capital.

O projeto editorial incluía, além dos artigos jornalísticos da etapa radical-liberal nos Anekdota e no diárioRheinische Zeitung, alguns do frustrado projeto parisiense dos Anuários Franco-Alemães; e artigos do “órgão da Democracia” criado por Engels e Marx, a Neue Rheinisches Zeitung. Para o segundo tomo, que não chegou a nascer, estava previsto publicar artigos da revista política que Engels e Moritz Hess editaram, Espelho da Sociedade,[17] e pensou-se em traduzir para o alemão algumas monografias de Marx, como o livro contra Proudhon, Misère de la philosophie[18], e o capítulo IV de A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas, intitulado “Karl Grün: ‘Die soziale Bewegung in Frankreich und Belgien’ (Darmstadt 1845) oder Die Geschichtschreibung des wahren Sozialismus” ["Karl Grün: ‘O Movimento Social na França e na Bélgica” (New York, 1845) ou a historiografia do socialismo verdadeiro].[19]

Embora a tiragem pensada inicialmente fosse muito ambiciosa (15 mil exemplares), só se imprimiram umas poucas cópias, a repressão contra os comunistas em Colônia, o próprio Becker foi preso em maio de 1851, e o confisco de exemplares pela Polícia fizeram com que poucos livros fossem distribuídos na cidade e arredores. Ainda em meados de 1851, Marx pensava editar uma versão ampliada desses escritos, incluindo um possível terceiro tomo, cada um com 75 páginas, tendo o dirigente Ferdinand Lassalle operado na intermediação.[20]
Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Em primeiro lugar, que, para as tarefas políticas-revolucionárias pendentes na Alemanha pós-1848, o próprio Marx identificou, de sua obra anterior, tanto teórica como de publicista, quais os textos que eram e quais não eram pertinentes. Em segundo lugar, é evidente que se o próprio Marx pretendia publicar, com o consenso da própria Liga dos Comunistas, textos aparentemente “defasados” de sua etapa de liberal de esquerda, aí está uma evidência de uma (talvez) profunda continuidade (apesar das sucessivas rupturas teóricas) na autoconsciência de Marx entre seu pensamento esquerdo-hegeliano (logo feuerbachiano) e o Comunismo reflexivo da década dos 1850s.

As ideias marxianas entre 1841 e 1844 continuavam atuais, e continuavam plenamente operativas e funcionais associadas à nova dimensão daKritik. Não se deve esquecer que, nessa altura, Marx já escrevera não só “Lohnarbeit und Kapital” [Trabalho Assalariado e Capital] [21] no diário democrático-revolucionario Neue Rheinisches Zeitung, mas também já publicara, com Engels, o Manifesto Comunista. E, nessa continuidade em sua filosofia prática, Marx reconhecia o valor autônomo e de consolidação teórica de A Ideologia alemã de 1845-1846.

“Durante o verão (de 1845)” – recorda Jenny Westphalen, esposa, corretora e copista de Marx – “Engels elaborou com Karl uma crítica à filosofia alemã. O estímulo externo foi o surgimento de Der Einzige und sein Eigentum [aprox. “O ego e o seu próprio” (NTs)] (de Max Stirner). Acabou sendo obra volumosa e seria publicada na Westfalia.”[22] Numa autointerpretação do Marx maduro, o famoso Vorwort à Zur Kritik der Politischen Ökonomie [Prefácio à Crítica da Economia Política] de 1859, fica clara a enorme importância atribuída ao passo teórico dado entre 1844-1846 e em especial o papel que aí desempenhavaA Ideologia Alemã:

“Comecei em Paris a investigação [da anatomia da sociedade civil], prosseguindo em Bruxelas, para onde havia emigrado como consequência da ordem de expulsão do Sr. Guizot. O resultado geral que obtive e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode ser assim formulado brevemente. Na produção social de sua existência, os homens estabelecem determinadas relações, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção (Produktionsverhältnisse) que correspondem a um determinado estado evolutivo de suas forças (...).

O modo de produção da vida material determina (bedingen) o processo social, político e intelectual da vida em geral. (...) Com Friedrich Engels, com quem tenho mantido constante intercâmbio epistolar de ideias (...) e também quando se estabeleceu em Bruxelas na primavera de 1845, resolvemos elaborar conjuntamente a oposição de nossos pontos de vista contra o ponto de vista ideológico da filosofia alemã, ou, de fato, acertar contas com nossa antiga consciência filosófica. Este propósito levou-se a cabo na forma de uma crítica à filosofia pós-hegeliana.

O manuscrito, dois grossos volumes in-octavo, já havia chegado havia muito tempo ao local onde devia ser editado, na Westfalia, quando recebemos a notícia de que uma mudança de condições não permitia a impressão. Deixamos o manuscrito entregue à roedora crítica dos ratos, ainda de melhor grado porque já alcançáramos nosso objetivo principal: compreendermos, nós mesmos (Selbstverständigung), a questão.”[23]

Resulta claro e evidente que esta ruptura, esta nova Ansicht [visão], este revolucionário ponto de vista, só pode ser entendido em sua magnitude, se compreendermos o significado de A Ideologia alemã. Em suma: si voltamos ao “futuro anterior” do próprio Marx.

[Continua]

NOTAS

[1] A conhecida como “primeira crise do marxismo”, hoje quase completamente esquecida, foi iniciada por um artigo do advogado G. Masaryk nos números 177-179 do jornal vienense Die Zeit, no qual o autor simplesmente constatava as diferenças teórico-práticas internas na social-democracia alemã e austríaca, em especial entre os pais fundadores e seus epígonos, concluindo que tais diferenças deviam-se ao caráter eclético do próprio marxismo, sistema sincrético; e que Das Kapital não passava de mera transcrição, em termos econômicos, do Fausto de Göethe. Da crise “no” marxismo da social-democracia de língua alemã, reformistas como Bernstein et altri, sem mais nem menos, extraíram uma crise “do” marxismo.
[2] LABRIOLA, Antonio. Discorrendo di socialismo e di filosofia, carta II (esp.) “Socialismo y Filosofía”, Madrid: Alianza editorial, 1969, p. 41, com tradução e prólogo de Manuel Sacristán.
[3] SOREL, Georges. “Préface” in LABRIOLA, Antonio. Essais sur la conception matérialiste de l'histoire, Paris: V. Giard & E. Brière, libraires-éditeurs, 1897, pp. 1-20.
[4] LABRIOLA, Antonio, ibidem, p. 41.
[5] Em 1975, Sacristán projetou uma edição crítica em espanhol da obra escolhida de Marx e Engels em 68 volumes, com o título de Obras completas de Marx e Engels (OME), sob o selo de Editorial Grijalbo. Desse projeto, só 11 volumes viram a luz, dentre os quais as traduções de Sacristán de O Capital, livros 1 e 2 e o Anti-Duhring. Sacristán dizia com razão, sobre publicar o Marx desconhecido que “quando me encarregaram de começar a traduzir as obras de Marx e Engels (que por certo foram suspensas, porque já não há mercado suficiente) era justo que me pedissem um Capital, porque, se traduziam obras completas, claro que também editariam O Capital. Mas o que, na minha opinião, estava errado, era entenderem que a primeira coisa a publicar, imediatamente, teria de ser O Capital. Entendo que, antes, teriam de publicar a parte inédita, a saber, o epistolário completo. Não me atrevo a dizer que eles, que são comerciantes, não tenham razão, mas a situação é absurda.” (In ARNAL, López, S.; DE LA FUENTE, P. Acerca de Manuel Sacristán, Barcelona: Destino, 1996, p. 168. Sobre a figura decisiva de Sacristán, ver ARNAL, López, S., “Aristas esenciales de un pensador poliédrico (I). Manuel Sacristán (1925-1985), a los 25 años de su fallecimiento”. In: Papeles de relaciones ecosociales e cambio global, n. 109, 2010, pp. 23-44.
[6] Tradução de uma seleção da edição de MARX, K.; ENGELS, F., Werke, editada por Dietz Verlag de Berlin-DDR, segundo a versão de 1958; em palavras de Roces: “Esta edição, que não é das obras completas (MEGA), mas das Obras Fundamentais (Werke), constará de vinte e tantos volumes. Já se publicaram dois, da juventude de Marx e de Engels; publicaram-se os três tomos das Teorias da Mais-valia. Agora aparecerão O Capital e os escritos econômicos menores e também a nova edição dosGrundrisse.” Sobre a figura de Roces: RIVAYA, Benjamín, “Comunismo e compromiso intelectual: Wenceslao Roces”. In Papeles de la FIM, n. 14, Fundación de Investigaciones Marxistas, Madrid, 2000. Roces foi pioneiro, ao fundar e dirigir uma empresa de difusão marxista ainda na IIa. República espanhola, a “Biblioteca Carlos Marx” da Editorial Cenit, da qual chegaram a publicar-se dez volumes grandes, entre os quais o primeiro tomo de O Capital em dois volumes e o Anti-Dühring de Engels.
[7] Remetemos o leitor à nossa crítica à centésima milésima tentativa de tratar Marx e Engels como cachorro morto, do físico Mario Bunge: “O Dr. Bunge sobre Engels. Los escombros ideológicos do Neopositivismo”, on-line em Rebelión: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=98168
[8] ESSBACH, Wolfgang. Die Bedeutung Max Stirners für die Genese des historischen Materialismus(1978) , u.d.T. Gegenzüge, Materialis, Frankfurt am Main, 1982.
[9] Balibar, por exemplo, assinala, rápida e erradamente, que “em 1845, Marx, refugiado em Bruxelas, trabalhava em colaboração com Engels na elaboração de uma concepção filosófica materialista da istória, da qual quer fazer a base de um socialismo proletário autônomo (“Tesis sobre Feuerbach, A Ideologia Alemana, manuscritos publicados tras a muerte de Marx e Engels”)”. In: BALIBAR, Étienne. Cinco Ensayos de Materialismo Histórico, Barcelona: Editorial Laia, 1976, p. 20. Malgré lui: não só se equivoca ao considerá-las obra independentes, mas também no momento em que foram publicadas, muito antes da morte de Engels e Marx. Em momento algum Engels ou Marx utilizan, nesses anos, nem o termo “concepção filosófica materialista da História”, nem “socialismo proletário autônomo”.
[10] O caso do célebre filósofo liberal britânico Isaiah Berlin, o qual, em livro de encomenda sobre Marx, escreve, sobre A Ideologia Alemã, o seguinte: “Stirner é demoradamente discutido. Sob o título de ‘São Max”, é perseguido ao longo de 500 páginas de sarcasmo grosseiro e insultos”. In: Karl Marx: His Life and Environment, Thornton Butterworth, London, 1939, Chapter VI, “Historical Materialism”, p. 143. Berlin erra até no ano da composição: “A exposição mais extensa da teoria acontece num trabalho que compôs com Engels em 1846, intitulado Ideologia Alemã” (ibidem, p. 118).
[11] DOHM, Bernhard; TAUBERT, Inge. “Engels über den roten Becker. Ein unbekannter Brief von Friedrich Engels”, In: Beiträge zur Geschichte der Arbeiterbewegung. 1973, Heft 5, pp. 807-814.
[12] MARX, Karl. Gesammelte Aufsatze von Karl Marx, herausgegeben von Hermann Becker. I. Heft, Koln, 1851. O conteúdo dessa primeira edição de escritos de Marx encontra-se em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, Werke, Artikel, Entwrfe Juli 1849 bis Juni 1851, Abt. 1: Werke, Artikel, Entwürfe, Bd. 10, Akademie Verlag, Berlin, 1977, pp. 493-497. Tratava-se do primeiro volume projetado; o segundo nunca foi publicado, porque Becker foi preso dia 19/6/ 1851, acusado de ser comunista e conspirar contra o estado; foi julgado no famoso processo dos comunistas (Kölner Kommunistenprozess), em 1852, e condenado a cinco anos de cárcere. Vide carta de Becker a Marx de dezembro de 1850. In: AA.VV. Der Bund der Kommunisten. Dokumente und Materialen. Band 2, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1982, Dokumente 570, pp. 357-358.
[13] MEHRING, E., Franz. Karl Marx: Die Geschichte seines Lebens, 1918, p. 209. Esp. Carlos Marx. Historia de su Vida, México: Editorial Grijalbo, 1957, p. 227-228.
[14] Textual: “Marx's Arbeiten sind theils in besonderen Flugschriften, theils in periodischen Schriften erschienen, jetzt aber meistens gar nicht mehr zu bekommen, wenigstens im Buchhandel ganz vergriffen. Der Herausgeber glaubt deßhalb, dem Publikum einen Dienst zu erweisen, wenn er mit Bewilligung des Verfassers diese Arbeiten, welche gerade ein Decennium umfassen, zusammenstellt und wieder zugänglich macht. [...] Der erste Band wird Marx's Beiträge zu den ‘Anekdota’ von Ruge, der (alten) ‘Rheinischen Zeitung’ (namentlich über Preßfreiheit, Holzdiebstahlsgesetz, Lage der Moselbauern usw.), den ‘deutsch-französischen Jahrbüchern’, dem ‘Westf. Dampfboote’, dem ‘Gesellschaftsspiegel’ usw. und eine Reihe von Monographien enthalten, die vor der Märzrevolution erschienen, aber leider noch heute passen.” In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, ibidem, p. 496.
[15] É o segundo artigo público conhecido de Marx, escrito entre janeiro e fevereiro de 1842, aparecido anonimamente (“De um renano”) como artigo nos Anekdota…, tomo I, ano 1843. A revista era órgão puro da esquerda hegeliana, sob a direção de Arnold Ruge. Agora, em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich;Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976. pp. 3-25. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 149-169.
[16] Quer dizer, o artigo “Luther als Schiedsrichter zwischen Strauß und Feuerbach” (“Lutero, árbitro entre Strauss e Feuerbach”), escrito em janeiro de 1842 e publicado anonimamente (“Alguém que não é berlinense”) nos Anekdota…, tomo II, 1843. Agora em en: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 26-27. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 147-148.
[17] Gesellschaftsspiegel. Organ zur Vertretung der besitzlosen Volksklassen und zur Beleuchtung der gesellschaftlichen Zustände der Gegenwart era revosta de tendência (wahrsozialistischen) político-teórica de intervenção nas classes trabalhadoras e de coinvestigação da questão social. Foi editada entre 1845-1846 na região natal de Engels, Elberfeld. Vide SILBERNER, Edmund, “Der ‘Kommunistenrabbi’ und der ‘Gesellschaftsspiegel’”. In Archiv für Sozialgeschichte, (1963), Band 3, pp. 87-102. Marx contribuiu com um artigo sobre o suicídio no capitalismo, em 1846: “Peuchet: Vom Selbstmord”. InGesellschaftsspiegel; zweiter Band, Heft VII, Elberfeld, Januar 1846, pp. 14-26. Agora em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx-Engels Gesamtausgabe, MEGA, I Abt., Band 3, Moskau-Berlin, 1932, pp. 391-407. Em esp. Marx, Karl; Sobre o Suicidio, ed. e tradução a cargo de Nicolás González Varela, Montesinos, Mataró (no prelo). Sobre o artigo de Marx, nos permitimos remeter o leitor a nosso artigoon-line: “Karl Marx en Bruselas (1845-1848): suicidio e cuestión femenina en o Capitalismo” (http://www.rebelion.org/noticias/2006/10/38534.pdf).
[18] Escrito en francês entre dezembro de 1846 e abril de 1847: Misère de la philosophie. Réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon, C.G. Vogler, Brüssel-A. Frank, Paris, 1847. (...) A melhor tradução ao espanhol ainda é Miseria de la Filosofía, Buenos Aires: Editorial Signos, 1970.
[19] In: ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 5–530.
[20] Vide carta de Lassalle a Marx de 26/6/1851 e suas conversas com o editor Scheller, de Düsseldorf.
[21] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, pp. 397-423. Esp.Trabajo Asalariado y Capital, Barcelona: Ed. Nova Terra, 1970.
[22] Westhpalen, Jenny; “Kurze Umrisse eines bewegten Lebens”. In: AA. VV. Mohr und General. Erinnerungen an Marx und Engels, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1964, p. 192.
[23] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, p. 8 e 10. Esp. MARX, Karl. Contribución al a Crítica de la Economia Política, México: Siglo XXI, 1980, p. 4 e 6.

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* Em português do Brasil: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. [1845-1846] Trad.: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. Prefácio: Emir Sader. São Paulo: Boitempo Editorial. 2007, 616 p.

*Nicolás González Varela é jornalista e escritor.

Fonte: Fundação Maurício Grabois