domingo, 24 de novembro de 2013

As mudanças no poder global e as perspectivas da América Latina


Temos defendido a tese de que desde os anos 1970 entramos em um contexto de crise civilizatória do capitalismo e da hegemonia dos Estados Unidos. Trata-se de uma crise estrutural e não de um colapso. 

Por Carlos Eduardo Martins*, no blog da Boitempo




A crise estrutural é longa, lenta, permite ampla margem de autonomia para que a grande burguesia dos países centrais e seus Estados estabeleçam estratégias de reação e contenção do descenso, podendo passar à ofensiva, ainda que no longo prazo, o custo de manutenção de seu status quo seja cada vez mais alto e a balança de poder lhes tenda a ser cada vez mais desfavorável.

Assim desde os anos 1970, características estruturais profundas vêm se desenvolvendo no capitalismo central: a financeirização da economia, a queda das taxas de investimento, altos níveis de desemprego, o aumento explosivo da dívida pública, a presença de importantes déficits comerciais, a transferência do dinamismo econômico e a relocalização para o leste asiático dos fluxos interacionais de capital, a perda de importância relativa das potências marítimas na economia mundial em detrimento da expansão dos regionalismos e dos hinterlands nas periferias e semiperiferias.

Estas tendências parecem estar vinculadas à emergência e difusão da revolução científico-técnica. Esta torna o conhecimento a principal força produtiva e eleva dramaticamente o valor da força de trabalho, levando o capital a substituir o circuito produtivo do capital pelo financeiro e a estender aos centros a superexploração do trabalho, que era uma característica secular e específica das periferias, para pagar ao trabalhador preços inferiores ao valor de sua força de trabalho.

A queda da taxa de lucro nos anos 1970, a saída de capitais dos Estados Unidos, a ruptura da paridade dólar/ouro e a desvalorização da moeda estadunidense foram respondidas na década de 1980 com a ofensiva neoliberal dos governos Reagan e Bush pai. A drástica elevação das taxas de juros, a criação de um mercado de títulos da dívida pública organizado desde o Estado e a abertura comercial/financeira substituíram o pleno emprego por um desemprego elevado, reduziram drasticamente os salários, e duplicaram a relação da dívida pública/PIB, que saltou de 33% para 64% entre 1979-92.

Tal reorientação da política monetária nos Estados Unidos incidiu sobre a dívida externa contratada a taxa de juros flutuantes pelos países do terceiro mundo e América Latina, asfixiando os projetos de modernização acelerada e desenvolvimento industrial em curso. Todavia não impediu o deslocamento do eixo de crescimento econômico para o Leste asiático. A entrada da economia mundial em um período de expansão de longo prazo a partir 1994 aumentou a exposição da economia estadunidense à concorrência internacional oriunda dos novos centros dinâmicos (Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Taiwan e China) colocando em cheque a diplomacia do dólar forte e as altas taxas de juros. A reordenação da economia estadunidense envolveu a queda taxas de juros, a redução dos gastos militares e a valorização do Marco alemão e de forma mais intensa do Iene japonês para conter os déficits comerciais dos Estados Unidos, reduzindo a necessidade de desvalorização do Dólar. O governo Clinton aproveitando-se do fim da URSS e da segunda guerra fria, cortou os gastos militares para garantir os gastos sociais, ameaçados por uma dívida pública que não se vinculava ao crescimento da economia, e gerou superávits fiscais planejando abatê-la em um período de 13 anos. Impulsionou o enfoque trilateral buscando diminuir os custos com a preservação da segurança da ordem mundial sobre os Estados Unidos.

Entretanto, o mundo havia se tornado demasiado complexo para a gestão trilateral. Com a segunda rodada de elevação do Iene, no início da década de 1990, após os acordos do Plaza de 1985, a China desvaloriza o Yuan estabelecendo paridade fixa com o Dólar, impulsionando o déficit comercial estadunidense e tornando-se sua principal responsável. De outro lado, o uso dos superávits primários para pagar os juros da dívida e reduzi-la paulatinamente, não produzia resultados imediatos e abriu o espaço à ofensiva republicana que acusava o peso excessivo dos impostos, reivindicando sua devolução imediata aos contribuintes. A fraude na votação na Flórida permitiu a volta dos republicanos ao poder por meio do governo de George W. Bush e com ele uma nova ofensiva do complexo industrial militar estadunidense apoiada pelo conjunto da burguesia estadunidense. Esta queria evitar a redução da financeirização do Estado, o reestabelecimento da plenitude do circuito produtivo do capital e a volta ao pleno emprego com suas pressões negativas sobre a taxa de mais-valia e de lucro no contexto da revolução científico-técnica.

A queda nos juros e a contenção da dívida pública durante o governo Clinton deslocaram as pressões para acumulação de capital fictício aos mercados privados, concentrando-se nas empresas .com e no Nasdak, levando ao estouro da bolha no final da década de 1990 e a crise de 2000-01. A estratégia de recuperação do governo George W Bush foi a de impulsionar o setor privado transformando rapidamente o superávit alcançado no final do governo Clinton em déficit público. Para isso, reduziu impostos e direcionou a expansão dos gastos públicos para o complexo industrial-militar, impulsionando novamente a expansão da dívida pública.

Mas nova ofensiva do complexo-militar exigiu um choque cultural e simbólico. Os mortos e feridos no Vietnã deixaram marcas profundas numa população que já não aceitava arriscar sua vida, de parentes e amigos por questões longínquas que não a afetavam diretamente. Os democratas, por sua vez, haviam mudado seu enfoque em relação aos gastos militares para defender o welfare contra o warfare num contexto de drenagem do orçamento público para o setor financeiro. O pretexto para esta nova ofensiva foi o 11 de setembro. A criação simbólica do terrorismo como uma ameaça externa capaz de se internalizar de forma imediata e destruir a vida de estadunidenses, deu respaldo provisório à mudança de prioridades: o warfare e a segurança ganharam prioridade e os falcões conquistaram posições chaves no Estado. O Estado norte-americano e o complexo industrial militar criavam assim seu novo inimigo externo, como fizeram após o fim da 2ª guerra mundial, estabelecendo as bases da guerra fria.

A queda dos juros reais iniciada no governo Clinton aprofundou-se no governo de George W. Bush, em função do ajuste ao Kondratiev expansivo e das pressões da concorrência internacional oriundas deste. Não obstante a retomada moderada e constante no aumento da dívida pública, criou-se uma nova onda especulativa de títulos privados e securitizações, que se articulou ao mercado de bens raízes e colapsou em 2008-09. O estouro desta última bolha teve efeitos drásticos sobre a economia estadunidense em razão da sua extensão, da política de saneamento praticada e da debilidade macroeconômica do Estado norte-americano, muito mais profunda que em 2000-01: A política de compra dos títulos privados pelo Estado para garantir sua liquidez praticada pelos governos George W. Bush e Obama, ainda em curso, já implicou gastos de aproximadamente US$ 3 trilhões; a profunda recessão incidiu sobre déficits públicos estruturais associados a baixíssimo nível de tributação, multiplicando-os; ao tempo que em que os altíssimos níveis de desemprego implicaram gastos sociais extras em função da legislação de proteção ao trabalhador.

A injeção de liquidez na economia estadunidense não implicou, entretanto, o aumento significativo de suas taxas de investimento, ainda que a desvalorização do Dólar tenha propiciado a redução da dependência das importações de petróleo e sua substituição parcial pela produção interna convencional ou pela alternativa vinculada ao gás de xisto. Mas esta redução impactou a balança comercial dos Estados Unidos diminuindo significativamente seus déficits, para o que contribuiu também a profundidade da recessão que ali se estabeleceu.

Que efeitos e possibilidades a trajetória dos Estados Unidos e a nova balança de poder mundial geram sobre a América Latina?

A trajetória dos EUA e seus efeitos sobre a América Latina

A emergência de uma crise de longo prazo com epicentro nos Estados Unidos e Europa Ocidental nos anos 1970 favoreceu inicialmente à América Latina. O redirecionamento dos fluxos de capitais à região articulou-se seja com os projetos de modernização acelerada, como o da ditadura brasileira, seja com os experimentos neoliberais em curso, como o das ditaduras chilena e argentina, financiando a importação de máquinas e equipamentos ou o consumo suntuário. A drástica elevação das taxas de juros nos Estados Unidos, a partir de 1979, estrangulou estes experimentos e multiplicou a dívida externa da região, mergulhando-a em forte recessão na década de 1980.

A subordinação dos Estados latino-americanos às suas burguesias dependentes levou-os a formar grandes superávits comerciais totalmente esterilizados com o pagamento de juros e amortizações da dívida externa, aumentando significativamente as taxas de pobreza e desindustrializando a região. Iniciou-se também na região a financeirização das burguesias dependentes em função da criação de uma dívida interna que trocava títulos por dólar, oriundo das exportações, financiando os pagamentos internacionais. A crise aguda da dívida externa foi provisoriamente solucionada com o plano Brady que, em troca da desvalorização do principal e da redução das taxas de juros, impôs as regras do consenso de Washington: abertura comercial e financeira, sobrevalorização cambial, privatização e desregulamentação dos mercados de trabalho. Aprofundaram-se a desindustrialização, a periferização da região, os níveis de desigualdades internos, a precarização do mercado de trabalho, as taxas de superexploração e os desequilíbrios do balanço de pagamentos. Estes passam a ser financiados com ingressos de capitais estrangeiros, a partir da liquidação dos superávits comerciais e geração de déficits na balança comercial.

A inversão cíclica das entradas de capital a partir de 1998 colocou em crise as experiências neoliberais da década de 1990. As esquerdas e centro-esquerdas ressurgem e retomam sua ofensiva na América Latina e Caribe a partir deste contexto. As sucessivas vitórias eleitorais em Venezuela, Bolivia, Equador, Brasil, Argentina, Uruguai Paraguai, Chile, Nicarágua e Honduras registram seu forte avanço entre 1999-2008. Em linhas gerais, malgrado suas diferenças internas, podemos inscrevê-las em dois grandes padrões:

O nacionalismo popular com forte viés integracionista e anti-imperialista, articulado a um capitalismo de Estado que nacionaliza parcialmente recursos estratégicos (mineração, petróleo, eletricidade, metalurgia, água, abastecimento, telecomunicações, bancos, aeroportos, portos e serviços públicos), impõe forte desvalorização da dívida externa, avança com certa intensidade na reforma agrária e refunda o Estado introduzindo a democracia participativa por meio de assembleias constituintes que se vinculam a forte mobilização popular. Busca-se transitar para democracias sociais e soberanas e espaços supranacionais no continente sul-americano, América Latina e Caribe, capazes de descolonizar o poder interno, estabelecer o controle sobre os recursos renováveis e não-renováveis, afirmar o desenvolvimento produtivo e científico-tecnológico, garantir a sustentabilidade ambiental, e promover a atuação da região em favor da multipolaridade e democratização das relações internacionais;

A terceira via que conserva diversos fundamentos macroeconômicos do neoliberalismo (protagonismo do capital fictício, financeirização da dívida pública, austeridade fiscal dirigida ao pagamento de juros, câmbio flutuante, concessão de serviços de infraestrutura e da exploração de recursos estratégicos ao setor privado nacional ou estrangeiro), combinando-os com políticas de renda mínima e políticas externas centristas. Estas se aproximam de várias forças internacionais, utilizando a multilateralidade e a capacidade de negociar conflitos para fortalecer sua ascensão e margem de atuação na arena internacional. O maior exemplo é o Brasil que se engaja até certo ponto na aliança com o bolivarianismo e com os poderes hegemônicos tradicionais – como os Estados Unidos e principais potências da Europa Ocidental –articulando-se ainda com o BRICS e o IBAS. Assim se, de um lado, promove o desenvolvimento lento e moderado da Unasul, de outro, aceita a participação destacada na Minustah e reforça o caixa do FMI por meio da compra em 10 US$ bilhões dos Direitos Especiais de Saque (DES), durante a crise de 2008-10, buscando apoio entre as potências tradicionais para integrar o Conselho de Segurança da ONU como membro permanente ou legitimidade para ampliar seu poder decisório no FMI e Banco Mundial, ambas as iniciativas até aqui sem qualquer efeito concreto.

A ascensão das esquerdas e centro-esquerdas no cenário político da região conjugou-se com uma conjuntura internacional propicia. A entrada da China como destacada parceira comercial da América Latina, a partir da primeira década do século XXI, reverteu a secular deterioração dos preços dos produtos primários frente aos manufaturados e impulsionou os saldos comerciais da região, favorecendo a formação de inéditos saldos em conta corrente, entre 2003-07. Este foi particularmente o caso dos países do Mercosul, cujos saldos comerciais, articulados a fortes desvalorizações cambiais, foram suficientes por si só para gerar superávits na balança de transações correntes entre 2002-08, enquanto que para o conjunto da América Latina e Caribe, os saldos na balança de transações correntes dependeram ainda do resultado favorável nas transferências unilaterais, resultantes das remessas de imigrantes principalmente para os Estados Unidos.

Isso permitiu à América Latina atravessar o período cíclico de retração dos ingressos de capital estrangeiro na conta financeira com facilidade. Sobretudo porque os ingressos oriundos da balança comercial ou das remessas de imigrantes são muito mais sólidos para a composição das reservas, uma vez que não geram futuras remessas de lucros ou repatriações sob diversas formas aos proprietários não residentes, como é o caso do capital estrangeiro. Elevaram-se as reservas da região que reduziu sua dívida externa. Esta conjuntura propiciou capacidade de empreendimento às esquerdas que ascendiam aos Estados nacionais. Desenharam-se os fundamentos de um novo projeto de integração regional cuja principal expressão é a UNASUL. Mencionou-se a possibilidade de um fundo de estabilização, de uma moeda regional constituída a partir de uma cesta de moedas locais e de um banco de desenvolvimento. Destes projetos apenas o Banco do Sul foi adiante. Todavia o seu alcance permanece muito limitado pelos fundos relativamente restritos de que dispõe e pelo retardo na entrada brasileira, que aguarda aprovação pelo Congresso Nacional.

Todavia a partir de 2009 esta situação favorável começa a se inverter. O restabelecimento do período cíclico de entradas do capital estrangeiro – que no Brasil se inicia em 2007 – eleva fortemente as remessas de lucro e o pagamento de serviços na região que ultrapassam o resultado positivo da balança comercial e as remessas de imigrantes, que atingem seu pico em 2006. O equilíbrio do balanço de pagamentos passa a depender fortemente da entrada de capitais estrangeiros.

Venezuela e Argentina passam a sofrer ataques especulativos contra a moeda que pressionam fortemente para a sua desvalorização. Os saldos em conta corrente que compensaram durante o governo Chávez as massivas fugas de capital, reduzem-se e são pressionados negativamente pela reestruturação da economia estadunidense. Esta, ao desvalorizar o Dólar, estimula a produção nacional de petróleo e desenvolve a substituição do petróleo pelo gás de xisto atingindo negativamente a balança comercial da economia venezuelana. Na Argentina, a balança comercial atinge um pico em 2009 e, desde então, a balança de transações correntes é deteriorada pela expansão das remessas de lucros e pagamentos de serviços, expondo o país a ataques especulativos na conta financeira. No Brasil, os resultados fortemente negativos na conta corrente, a partir de 2008, têm sido cobertos com fortes entradas de capital estrangeiro dotando o país da maioria absoluta das reservas da América do Sul, mas tornando-o vulnerável às inversões cíclicas de entradas de capital estrangeiro, caso estas se estabeleçam em futuro próximo. As articulações para o estabelecimento de fundo de estabilização e de um Banco do BRICS, as reservas acumuladas e os recursos do Pré-sal lhe garantem mais folego financeiro, mas dificilmente invulnerabilidade. Muito provavelmente a inversão cíclica se dará ainda na década de 2010, ao passo que as operações do campo de Libra se iniciarão em 2020, em contexto que poderá ser o de uma desaceleração econômica de longo prazo, afetando os preços do barril de petróleo.

A década de 2010 não será tão generosa economicamente com a América Latina como a de 2000. A ofensiva das esquerdas que se iniciou em 1999 parece ter chegado a um ponto de limite a partir da crise de 2008-09. Ainda que as esquerdas não tenham sido derrotadas eleitoralmente – em 2009/10, o candidato da Concertación no Chile era democrata-cristão –, os golpes de Estado em Honduras e no Paraguai e a redução das margens eleitorais na vitória de Maduro após a desvalorização do Bolívar acendem um sinal de alerta. Para que não se convertam no inicio de uma inflexão regressiva é importante avançar, acelerando o tempo político da integração e a ofensiva contra a oligarquia internacional e nacional que ameaça impulsionar processos de desestabilização financeira em períodos críticos. Torna-se fundamental caminhar na direção de uma arquitetura financeira regional capaz de garantir as reservas monetárias dos países da região e a construção dos fundamentos de uma estrutura produtiva soberana. Para isso há que se superar nesta década, os limites do capitalismo de Estado e de uma esquerda de terceira via.

*Carlos Eduardo Martins é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor adjunto e chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ), coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e pesquisador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen). É autor de Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina (2011) e um dos coordenadores da Latinoamericana: Enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção em 2007) e co-organizador de A América Latina e os desafios da globalização (2009), ambos publicados pela Boitempo.



Congresso promove concurso de curtas sobre a Lei Maria da Penha



Estão abertas, até o dia 15 de dezembro, as inscrições para a segunda edição do Concurso de Curta Documentário sobre a Lei Maria da Penha. Com o tema "Violência contra a mulher, o que você tem a ver com isso? Grave um vídeo. Compartilhe com o mundo!", a iniciativa tem o objetivo de chamar atenção, de uma forma criativa e inovadora, para o problema da violência de gênero e, ao mesmo tempo, conhecer as impressões da sociedade sobre a lei. 














Os interessados em participar do concurso, que é promovido pelas Procuradorias da Mulher da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em conjunto com a Bancada Feminina e com o apoio do Banco Mundial, têm até 15 de dezembro para se inscrever.

Inscrições


Nesta segunda edição, a iniciativa terá foco na educação e será especialmente voltada aos alunos do ensino médio, com idades entre 14 e 18 anos, de escolas públicas e particulares. 

Para se inscrever, os estudantes deverão produzir um vídeo, de um a cinco minutos, por meio de celular ou câmera digital, e postá-lo no site de carregamento de arquivos do Youtube. As inscrições deverão vir acompanhadas do nome de um professor responsável.

O candidato deverá inserir o link do arquivo no campo correspondente da ficha de inscrição, disponibilizada online no portal do concurso. Cada estudante poderá inscrever apenas um vídeo e as obras deverão ser inéditas.

Educação

Na avaliação da procuradora da Mulher da Câmara, deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), é fundamental que essa discussão chegue às salas de aula. "Temos visto, muitas vezes, as escolas se transformarem num lugar de intolerância, de bullying, de violência, não apenas contra as mulheres, mas contra o que é considerado ‘fora do padrão'. Com esta iniciativa, esperamos ter a oportunidade de convidar os alunos a refletir sobre as formas de violência e ajudar a educar para o respeito às mulheres e à diversidade", afirma.

A deputada Jô Morais (PCdoB-MG), que presidiu a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional destinada a investigar a situação de violência contra a mulher no Brasil, observa que uma das propostas finais da CPMI foi exatamente a de incorporar o tema no currículo do ensino médio. "É no banco das escolas que se torna possível construir uma cultura de respeito e paz, sobretudo no âmbito doméstico. Daí a importância de que o concurso envolva alunas e alunos", avalia.

50 mil assassinatos

Apesar das conquistas alcançadas com a Lei Maria da Penha, em vigor há 7 anos e considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das mais avançadas do mundo no combate à violência doméstica contra a mulher, dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) em setembro deste ano revelam que, entre 2001 e 2011, mais de 50 mil mulheres foram assassinadas no Brasil.

São cerca de 5 mil mortes por ano, 15 por dia e uma mulher assassinada a cada uma hora e meia. Nesse cenário, mulheres negras, com idade entre 20 e 39 anos e baixa escolaridade, são as maiores vítimas.

Neste mês, a Secretaria de Políticas para as Mulheres divulgou que o Ligue 180, serviço para denúncias de violência contra as mulheres, já era acessado por mais de 56% dos municípios brasileiros. Os dados mostram que o número de atendimentos, desde a criação da lei, em 2006, ultrapassava o total de 3 milhões (3.364.633).

Ainda segundo dados da secretaria, a Lei Maria da Penha havia propiciado, até 2011, a realização de 281.302 medidas protetivas; 196.023 inquéritos; 99.891 ações penais; e 677.087 procedimentos judiciais, nas varas exclusivas de violência doméstica e familiar contra a mulher; além de 30 mil prisões; 26.269 flagrantes e 4 mil prisões preventivas.

Premiação

O concurso premiará seis alunos - um por região e outro por júri popular - e seis professores responsáveis pelos trabalhos, com um tablet para cada e a vinda a Brasília para participar da cerimônia de premiação, prevista para ocorrer no Dia Internacional da Mulher no Congresso Nacional, em março de 2014.

Os trabalhos selecionados pela Comissão Julgadora serão exibidos nos veículos de comunicação da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Ministério da Educação e nas redes de comunicação dos parceiros, como o Banco Mundial, além de disponibilizados no portal www.curtamariadapenha.com.br.

Fonte: Agência Câmara



Campos dos Goytacazes: Estupros crescem na região













O número de casos de estupros superou o de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) no Brasil em 2012, segundo o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Na região Norte Fluminense os dados se confirmam. De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), os registros de estupro aumentaram 80% em 2013. Segundo a Polícia Militar, a maioria dos casos acontece dentro de casa ou com pessoas próximas à vítima. Em Campos, entre janeiro e abril deste ano os casos aumentaram 186% em relação ao mesmo período do ano passado, diz o ISP, mas sem revelar números.
Guarus, bairro com o maior número de ocorrências, teve um crescimento de janeiro a abril desse ano de 185% em relação ao mesmo período de 2012 neste tipo de violência. Os casos são levados para a 146ª Delegacia de Polícia (DP) de Guarus. O  delegado titular Carlos Augusto Guimarães confirma esse aumento e ao mesmo tempo explica que muitos casos não entram para as estatísticas porque as vítimas têm vergonha de denunciar. 
Já na 134ª Delegacia de Pólícia (DP) do Centro as denúncias de casos de estupros aumentaram em 13,5% segundo dados do ISP. A Folha não conseguiu falar com o delegado titular da DP, Geraldo Rangel sobre o assunto.  
No caso das mulheres, na área de segurança pública a orientação é para elas tomem alguns cuidados, como evitar frequentar locais com pouca movimentação e saírem sozinhas durante a noite. “Até porque a polícia não está em todos os lugares”, chegou a dizer um policial militar.
Em março deste ano foi inaugurada, na 146ª DP, de Guarus, o Núcleo de Defesa da Mulher, que conta com duas policiais especializadas para atender as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência, essa é a primeira unidade no Norte do Estado. Ainda aguarda-se a inauguração da Delegacia da Mulher. Segundo a assessoria da Polícia Civil, ela será inaugurada em dezembro. O atraso é devido à adaptação da Delegacia, construída em cima da 134ª DP do Centro, às regras de acessibilidade.
Em São João da Barra, os números também são alarmantes. Foram 24 casos até agora em 2013 contra cinco em todo o ano de 2012, um aumento de 380%. Um dado que chama a atenção no município é o de estupro de vulneráveis, onde as vítimas são menores de idade. Só no primeiro semestre deste ano foram sete casos, onde cinco pessoas foram detidas. Os números são do Instituro de Defesa dos Diretos Humanos e Cidadania (IDHEA).
De acordo com a Polícia Civil o aumento de número de casos descobertos pela polícia se justifica pelas campanhas de conscientização que fazem com que mais pessoas denunciem esse tipo de crime. A pena para quem comente este tipo de crime é de 6 a 10 anos de prisão.
Larissa Jasbick
Fotos: Rodrigo Silveira

sábado, 23 de novembro de 2013

Royalties: Campos vai receber R$ 56 milhões

Estou aqui imaginando, para onde vai esta grana toda? Não está na saúde! Não está na educação! Não tem transparência! 


Os royalties referentes à produção de petróleo do mês de setembro serão depositados na próxima segunda-feira nas contas bancárias de municípios e estados produtores. Campos receberá R$ 56.259.351,77, valor 2,83% inferior ao repassado pelo Tesouro Nacional no mês de outubro. Entre royalties e participação especial, o município já recebeu em 2013 R$ 1.254.513.079,65.
A queda no depósito de novembro, em relação ao mês anterior, também é registrada por outros municípios da Bacia de Campos. Macaé recebe segunda-feira R$ 42.022.137,34, o que representa uma redução de 2,17%. Para Quissamã serão repassados R$ 7.660.171,74, enquanto em outubro foram pagos
R$ 7.897.760,79. Já São João da Barra registra acréscimo de 3,94% este mês, quando serão depositados R$ 10.602.440,24.
Os repasses serão feitos pelo Tesouro Nacional com base nas antigas regras de distribuição dos royalties do petróleo, mas os valores dos depósitos futuros podem ser comprometidos, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida favoravelmente à nova Lei dos Royalties. A Corte ainda não tem data para analisar as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adin) ajuizadas pelos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, e, ainda, pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) questionando os novos critérios de partilha. Por enquanto, os efeitos da nova lei estão suspensos por uma liminar concedida pela relatora das ações, a ministra Cármen Lúcia Rocha.
Novidade — Está previsto para o mês de dezembro o início de operação da plataforma P-55, no Campo de Roncador, o que promoverá um aumento nos repasses de royalties aos municípios produtores de petróleo da Bacia de Campos.
Com 52 mil toneladas e 10 mil metros quadrados de área, a plataforma P-55 é a maior unidade semissubmersível construída no Brasil e terá capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo e tratar quatro milhões de metros cúbicos de gás por dia.
Joseli Matias

O navio não pode afundar! Audiência para o porto de São Francisco do Itabapoana

Mais um "investimento", espero que tenha menos badalação! Menos prejuízos para as comunidades locais! Que haja respeito ao modo de vida local, a sua população! Chega de especulação! Chega de degradação ambiental!














Uma audiência pública está prevista para acontecer no próximo dia 11 de dezembro, às 19h, para discutir a instalação do Terminal Portuário de Uso Privativo em São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense. A convocação para a audiência foi publicada no Diário Oficial do Estado, pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca). O empreendimento Canaã Terminal Portuário Offshore está em fase de licenciamento ambiental junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), e tem início da construção previsto para final de 2014. Na fase de obras, cerca de 1.500 empregos diretos e indiretos devem ser criados no município.
A audiência pública vai acontecer no Salão Ana Festas, localizado na rua Joaquim Mota Sobrinho, no Centro de São Francisco de Itabapoana. Na ocasião, será apresentado o Relatório de Impacto Ambiental (Rima). O gestor do empreendimento, Rogério de Araújo, informou ontem que essa é uma das etapas previstas antes da emissão da licença prévia. “Já apresentamos ao órgão o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Rima. A próxima etapa é a audiência pública, onde o projeto é apresentado”, disse.
Segundo Rogério, a expectativa é de que o porto gere 1,5 mil empregos diretos e indiretos, na fase de obras. Já na fase de operação, cerca de 3 mil empregos devem ser gerados no município. A previsão é de que a construção tenha início no fim de 2014 e o terminal esteja concluído ainda em 2017. O investimento na primeira fase está estimado em R$ 60 milhões.
Rogério de Araújo afirmou que o empreendimento busca parceria com órgãos com objetivo de oferecer qualificação para mão de obra local. Além da geração de empregos, o terminal portuário pode ainda atrair outros empreendimentos para a região, aumentando a renda do município e o desenvolvimento. “O terminal vai trazer a São Francisco condições de se desenvolver. O município perde todo ano em impostos, já que a produção agrícola vai para outros mercados”, ressaltou Rogério.
A arrecadação de SFI em royalties, com o novo terminal portuário, pode chegar a R$ 62 milhões anuais, segundo estimativa do gestor. 


Lohaynne Gregório

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sessão do Congresso que cassou mandato de Jango é anulada


Deputados e senadores aprovaram na madrugada desta quinta-feira (21), em sessão do Congresso Nacional, projeto de resolução que anula a sessão do Congresso de abril de 1964 que declarou vaga a Presidência da República, no mandato de João Goulart. A medida permitiu o estabelecimento da ditadura militar naquele ano e suspendeu o estado democrático de direito no país por 21 anos (1964-1985). 


A proposta sobre a restituição histórica do ex-presidente é de autoria do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que fez um discurso emocionado da tribuna da Câmara. “Foi uma das páginas mais tristes do Brasil. Aquela sessão foi ridícula, estúpida, imoral. Quereremos reconstruir a história verdadeira do país”, afirmou. A matéria segue para promulgação, que deve ocorrer em sessão especial.

Jango estava no Rio Grande do Sul quando os parlamentares o destituíram do cargo. João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, acompanhou a sessão no Congresso. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), um dos que apresentou a proposta junto com Simon, avalia que a medida foi um golpe civil, feito por congressistas, e que deu legalidade a um ato inconstitucional. “Hoje repararemos o gravíssimo pecado que esta Casa cometeu contra a democracia. Hoje votamos a favor da democracia e do Brasil”, declarou.

O período também é marcado por graves violações dos direitos humanos, torturas, desaparecimentos e assassinatos de militantes de partidos de esquerda e movimentos sociais contrários ao regime.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o Legislativo teve a oportunidade histórica de reparar o que chamou de “mancha da história do Brasil”. “Para apreciar a matéria hoje [quinta, 21], há acordo que contou com a participação de praticamente todos os partidos da Casa”, ressaltou.

Único a defender a rejeição da proposta no plenário, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) negou, da tribuna, que a sessão do Congresso Nacional daquela madrugada de 1º de abril para o dia 2 tenha sido ilegal. 

Na última semana, os restos mortais de João Goulart foram levados para Brasília de São Borja (RS), cidade natal de Jango, onde foi realizado o trabalho de exumação. O objetivo é verificar se Jango morreu em decorrência de um ataque cardíaco, como divulgado na época, ou se foi envenenado por ordem da repressão brasileira, conforme alega a família dele. A cerimônia fúnebre na base aérea de Brasília contou com a participação de familiares de João Goulart, da presidenta Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e de ministros e parlamentares.

Exilado no Uruguai e na Argentina, Jango morreu em 1976 na cidade argentina de Mercedes. No Brasil, nesse período, a ditadura não permitiu que ele recebesse as devidas honras fúnebres concedidas a um chefe de Estado.


Fonte: Agência Câmara

Globo dá sinais de que, se farsa ruir, Barbosa vai pagar a conta


Conquistada a condenação dos réus da Ação Penal 470, o chamado mensalão, a Globo agora quer transferir o ônus do golpismo para o STF, mais especificamente para Joaquim Barbosa. Não parece ser por virtude, mas por esperteza, que William Bonner passou um minuto no Jornal Nacional de quarta-feira (20) lendo a notícia: "Divulgada nota de repúdio contra decisão de Joaquim Barbosa".

Por Helena Sthephanowitz*, na Rede Brasil Atual


Os ministros Ricardo Lewandowski (à esq.) e Joaquim Barbosa entram no plenário para julgamento do mensalão |Foto: Roberto Jayme

O manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças políticas e sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos réus do mensalão efetuadas durante o feriado da Proclamação da República, com o ministro Joaquim Barbosa emitindo carta de sentença só 48 horas depois das ordens de prisão.


O locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas sobre o preparo ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o Supremo precisa reagir para não se tornar refém de seu presidente".

A TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio aos réus, muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco deu atenção a reclamações de abusos e erros grotescos cometidos no julgamento. Pelo contrário, endossou e encorajou verdadeiros linchamentos. Por que, então, divulgar esse manifesto, agora?

É o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e Joaquim Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não entendeu que esse julgamento foi político do começo ao fim precisa voltar ao be-a-bá da política. O PT tinha um acerto de contas a fazer com a questão do caixa dois, mas parava por aí no que diz respeito aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas por adversários, que nada encontraram. O resto foi um golpe político, que falhou eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores lambanças jurídicas já produzidas numa corte que deveria ser suprema.

A Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se fossem absolvidos, sofreria a mesma derrota e o mesmo desgaste que sofreu para Leonel Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria endossando para a sociedade a tese da conspiração golpista perpetrada pela mídia oposicionista ao atual governo federal.

A emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de muitos condenados, sabe da inexistência de crimes atribuídos injustamente, e sabe que haverá uma reviravolta aos poucos, inclusive com apoios internacionais. A Globo sabe o que é uma novela e conhece os próximos capítulos desta que ela também é protagonista.

Hoje, em tempos de internet, as verdades desconhecidas do grande público não estão apenas nas gavetas da Rede Globo, como acontecia na ditadura, para serem publicadas somente quando os interesses empresariais de seus donos não fossem afetados. As verdades sobre o mensalão já estão escancaradas e estão sendo disseminadas nas redes sociais. A Globo, o STF e Joaquim Barbosa têm um encontro marcado com essas verdades. E a emissora já sinaliza que, se ela noticiou coisas "erradas", a culpa será atribuída aos "erros" de Joaquim Barbosa e do então procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Joaquim Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de Mefistófeles de Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao demônio por ambições pessoais imediatas. Uma metáfora parecida parece haver na sua relação com a TV Globo. Mas a emissora parece que está cobrando a entrega antes do imaginado.

*é colunista da Rede Brasil Atual