segunda-feira, 6 de agosto de 2012

González Varela: Um Marx desconhecido; A Ideologia alemã


Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Por Nicolás González Varela*


“Eu próprio não tenho uma compilação de meus trabalhos, que foram escritos em diferentes idiomas e impressos em diferentes lugares. A maioria deles já não se encontra nas livrarias” (Karl Marx a N. F. Danielson, 7/10/1868).

“Três chefes comunistas alemães, entre os quais o conhecido Marx, estão preparando edição em oito volumes sobre o Comunismo, doutrina, conexões e situação na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra. Tudo a partir de documentos. Os outros dois colaboradores são Engels e Hess, comunistas conhecidos” (Informe secreto da Polícia Prussiana, Paris, 17/2/1846).
Boris Nicolaïevski, grande biógrafo de Marx, reconhecia em 1937 que, de cada mil socialistas, talvez só um tenha lido, de cabo a rabo, algum livro de Marx; e de cada mil antissocialistas, nenhum.

E o pior, concluía, é que Marx já não estava na moda. Quarenta anos antes, um grande teórico e militante, falo de Labriola, ao participar não conhecido debate sobre o valor científico da obra de Marx em 1897, (a chamada “primeira crise do marxismo”, e cujos principais interlocutores eram ninguém menos que George Sorel, Eduard Bernstein e Benedetto Croce)[1] perguntava-se ingenuamente se “os escritos de Marx e Engels… foram lidos integralmente por alguém externo ao grupo de amigos e adeptos próximos, isto é, dos seguidores e intérpretes diretos dos próprios autores?... Acrescente-se a isso a raridade de muitos dos referidos escritos, e até a impossibilidade de encontrar alguns deles.” E concluía profético se “este ambiente literário”, esta situação hermenêutica adversa, não seria um dos culpados pela má assimilação, a aparente decadência e crise do pensamento de Marx. Com pessimismo, recapitulava, em frase profética: “Ler todos os escritos dos fundadores do socialismo científico resultou, até agora, em privilégio de iniciados.”[2]

Já o fundador do anarcossindicalismo Georges Sorel, com quem Labriola troca ideias, havia chegado a conclusões semelhantes em balanço parcial da penetração do marxismo sob as condições materiais da Europa não início do século 20. Segundo Sorel e pelo mesmo motivo: “as teses marxistas não foram, em geral, bem compreendidas na França e na Inglaterra pelos escritores que se ocupam das questões sociais”.[3] Parafraseando Frossard, poder-se-ia dizer que a maioria dos marxistas não conhecem os escritos de Marx melhor do que os católicos conhecem a Summa de Santo Tomás de Aquino. Labriola perguntava-se a propósito da “crise” ou decadência de Marx, “como nos pode surpreender (...) que muitos e muitos escritores, sobretudo publicistas, tenham-se sentido tentados a tomar críticas de adversários, ou citações incidentais, ou inferências temerárias baseadas em trechos esparsos, ou vagas lembranças, os elementos necessários para construírem um Marxismo que eles mesmos inventavam a seu modo? (...) O Materialismo Histórico – que em certo sentido é todo o Marxismo – passou (...) por uma infinidade de equívocos, más interpretações, alterações grotescas, disfarces estranhos e invenções gratuitas (...) que teriam de ser obstáculo para quem quisesse construir para si uma cultura socialista.”

Nikolaïevski e Labriola, mas não só eles, estavam convencidos de que Marx teria para sempre o destino de má recepção, que começava na difusão e irradiação de seus escritos. Labriola falava de outro obstáculo, ainda mais profundo e perigoso, do qual nos ocupamos aqui: a raridade dos escritos de Marx e a impossibilidade de encontrarem-se edições confiáveis. De fato, nem só edições confiáveis, mas, mais simplesmente, obras publicadas!

O leitor responsável que se interessasse por Marx sofreria, segundo Labriola, dificuldades mais extremas que as enfrentadas por filólogos e historiadores que tenham de estudar documentos da Antiguidade. E perguntava, por experiência própria: “Haverá muita gente não mundo que tenha suficiente paciência para procurar, por anos a fio, um exemplar de Miséria da Filosofia (...) ou desse livro singular que é A Sagrada Família; gente disposta a suportar, para encontrar um exemplar da Nova Gazeta Renana, mas fadigas que as que os filólogos e historiadores enfrentam para ler e estudar documentos do Egito antigo?”[4]

Em resumo: cumprindo a profecia de Labriola, acontece hoje no mundo, com Marx, o que aconteceu com Byron em meados do século 20: só se encontram seus livros em bibliotecas de leitores excêntricos, não especialistas ou antiquados. Para o grande público, incluindo-se a Noblesse d’État do mandarinato acadêmico, o nome de Karl Marx significa hoje bem pouco. Hoje, setembro de 2011, não se encontram no mercado editorial de língua espanhola edições críticas de Marx e Engels, a meritória edição dos Werke a cargo da equipe de Manuel Sacristán ficou incompleta[5] e a única exceção é a edição em andamento (embora hoje interrompida), de parte das Werke, na editora Fondo de Cultura Económica, FCE, do México, graças ao trabalho do falecido Wenceslao Roces.[6]

Mas é lícito perguntar o que permanece vivo e o que morreu Marx, embora a pergunta possa ser puramente retórica ou dispare automaticamente a vulgata do Dia-Mat. A resposta seca e solene do pós-modernismo e da filosofia analítica é amplamente conhecida: o marxismo está decididamente fora de época, é “inatual”, como “grande narrativa” não consegue explicar-se sequer ele mesmo; e é obra fatalmente datada. Não passa de uma filosofia a mais, das que nos deixou o século 20 e, como tal, definitivamente marcada pelo próprio tempo. Sepultar Marx com todas as honras é dever, nem tanto intelectual, mas arqueológico, trabalho de antiquariato. Nada há que valha a pena resgatar nessas páginas infectadas de hegelianismo e providencialismo, como insiste, pela milésima vez, o neopositivista Mario Bunge.[7]

Labriola (e Sorel) constatavam uma dificuldade fática que nasceu com o próprio marxismo, que a carrega como estigma até nossos dias: as enormes dificuldades para estabelecer e editar, com critérios científicos atualizados, as suas obras completas. Labriola reclamava do SPD da época, detentor dos manuscritos (Nachlass), que “seria dever do partido alemão dar edição completa e crítica a todos os escritos de Marx e Engels; quero dizer, edição acompanhada em cada caso de prólogos descritivos e declarativos, índices de referência, notas e remissões (...).

E é preciso acrescentar os escritos já publicados em livro ou opúsculos, artigos de jornal, manifestos, circulares, programas e todas as cartas que, por serem de interesse público e geral, tenham importância política ou científica”. E concluía, taxativo: “Não se trata de selecionar: é preciso por ao alcance dos leitores toda a obra científica e política, toda a produção literária dos dois fundadores (...) inclusive os escritos de ocasião. E não se trata tampouco de reunir um Corpus iuris, nem de redigir um Testamentum juxta canonem receptum, mas de recolher os escritos com cuidado e para que os escritos possam falar diretamente a quem tenha ganas de lê-los”. Trata-se simplesmente de Marx poder falar diretamente...

Marx reconhecia que a própria vida o havia impedido de escrever conforme o cânone da arte de faire le livre, razão pela qual sua literatura eram fragmentos de uma ciência e de uma política em eterno devir.

O marxismo, se há algo que se possa chamar assim, era eminentemente um sistema aberto. Labriola destacara com suficiente clareza não só os critérios editoriais de uma política editorial, mas os problemas materiais objetivos que a difusão implicava, tanto da obra exotérica como dos manuscritos de Marx (e Engels).

Um dos erros mais significativos da difusão da obra marxiana e, portanto, de uma das causas que ajudam a explicar os desvios de interpretação foi o deslocamento entre os níveis diacrônicos e sincrônicos dos manuscritos, o que levou a uma desarticulação entre os componentes biográficos, cronológicos e doxográficos, que constituem, desde Teofrasto, o instrumental filológico mínimo necessário para que se alcance compreensão satisfatória de uma obra. Labriola já havia reconhecido a necessidade de, para que se entendam plenamente os textos, ser necessário relacioná-los biograficamente (na biografia, encontrar-se-iam ao mesmo tempo “a pegada e a trilha, o índice e o reflexo” da gênese de Marx). Mas no caso de Marx, essa disrupção anômala entre os dois níveis deveu-se, na maior parte, nem tanto ao seu estilo particular, mas, mais, à constante manipulação política que sofreram seus escritos, por carrascos executores circunstanciais.

O percurso tortuoso, entre errático e movido pelo acaso, que é a história editorial dos escritos de Marx só é comparável à coleção de coincidências afortunadas, fantásticas, triviais e quase inacreditáveis graças às quais se salvaram, para a posteridade, muitos dos escritos de Aristóteles. Como no caso de Marx, seus escritos sofreram as inclemências dos interesses políticos e os caprichos culturais, em cada mudança na forma de atenção. E, como Aristóteles, os manuscritos de Marx guardam uma peculiaridade muito especial: a maior parte são anotações, esboços, notas e memoranda, produto de uma técnica de trabalho intelectual limitada pela extrema pobreza e as repetidas emigrações políticas.

Mas no caso de Marx acrescenta-se uma condição a mais: o próprio marxismo (melhor dizer, os marxismos) nasceu, desenvolveu-se e profissionalizou-se em escola (e, em seguida, em ideologia oficial e legitimadora de um estado) quando a obra de Marx ainda não era toda ela acessível e, inclusive, quando partes importantes de seu corpus eram inéditas (e ainda são) ou, mesmo, eram inencontráveis. O êxito (?) do marxismo como ideologia de partido e ortodoxia de estado (como ciência da legitimação do DiaMat) precedeu em décadas a divulgação científica e exaustiva dos escritos completos dos fundadores.

Um dos casos mais extremos (embora não seja o único) é o texto conhecido como Die Deutsche Ideologie, A Ideologia alemã*, escrito a três mãos por Friedrich Engels, Moritz Hess e Karl Marx entre 1845 e 1846, e onde, para muitos especialistas, pela primeira vez estabelece-se o que se poderia chamar de materialismo histórico coerente e fundamentado.[8] E, embora a marxologia mais prestigiosa geralmente admita a importância desse escrito, inclusive a marxologia acadêmica (a começar por Althusser, Balibar etc.), é obra muito pouco lida em toda sua extensão, mal editada e de péssima difusão.[9] Fora do âmbito da marxologia, reina a indiferença, o desconhecimento total ou, diretamente, o desprezo que brota da ignorância. [10] Como diziam os antigos romanos: Pro captu lectoris habent sua fata libelli (o destino dos livros acontece segundo as capacidades e possibilidades do leitor). Também no caso de um pensador clássico, como Marx.

*****

Para dar-nos uma medida da importância que o próprio autor atribuía a esse trabalho de 1845-1846, é preciso fazer um pequeno desvio para atualizar a história pouco conhecida das primeiras obras escolhidas editadas de Karl Marx. A difusão da obra de Marx já era problema, ainda em vida do autor. As únicas edições em livro, de trabalhos da mesma época em que escreveu A Ideologia alemã, a frutífera década dos 1840, são produto de uma tentativa frustrada de editar ‘obras escolhidas’ primitivas, chamadas pomposamente Gesammelte Aufsätze von Karl Marx, resultado da exaltação editorial de um camarada, o médico e publicista Hermann Heinrich Becker (que Marx apelidou de “Becker, o vermelho” [der rot Becker])[11] aparição fantasmática ocorrida em abril e maio de 1851.[12]

Franz Erdmann Mehring, o historiador e político que pouco adiante fundaria a Liga Espartaco, com Rosa Luxemburg, relatava em seu trabalho biográfico clássico que “Marx pôs-se em comunicação com Hermann Becker para a edição de suas obras completas e, adiante, de uma revista trimestral a aparecer em Lieja; Becker fixara residência em Colônia, onde gerenciava uma pequena empresa editorial.”[13] O projeto de edição, em dois tomos, cada um com cerca de 400 páginas, em 25 cadernos costurados, tinha fundo eminentemente político, ação ligada a uma tática de partido (propagandistische Tätigkeit), ligada estreitamente à propaganda e difusão das ideias da famosa Liga dos Comunistas [Der Bund des Kommunisten], organização que se tratava de reconstruir na Alemanha.

Aquelas primitivas obras escolhidas de Marx tinham o apoio institucional do Comitê Central da Liga em Colônia [Kölner Zentralbehörde], que previa um sistema de assinaturas antes da publicação. No mesmo projeto, Marx concebera o lançamento de uma coleção popular de literatura socialista em pequenos fascículos (plano de difusão de pensadores socialistas que já tentara por em prática em 1845), e incluía obras de Babeuf, Buonarotti, Holbach, Fourier, Owen, Helvetius, Saint-Simon, Cabet, Considérant e Proudhon.

No folheto explicativo que acompanhava essas obras escolhidas primitivas de Marx, nos pacotes distribuídos para as livrarias, assinado pelo editor da compilação – o próprio Becker –, lia-se que a obra de Karl Marx estava dispersa em folhetos, panfletos, periódicos já desaparecidos e livros já não encontráveis nas livrarias, motivo pelo qual a edição em livro era importante serviço, ao oferecer aos leitores a produção escrita de Marx na última década: “o primeiro volume recolhe as contribuições de Marx publicadas na revista Anekdota de Ruge, na antiga Rheinische Zeitung (inclusive artigos sobre a liberdade de imprensa, leis sobre roubo de madeira, a situação dos camponeses do Mosela, etc.), nos Deutsch-französischen Jahrbüchern, no Westphaelische Dampfboot, em Gesellschaftsspiegel, etc. e uma série de monografias publicadas antes da revolução de março de 1848, mas por desgraça (sic!) ainda plenamente atuais.”[14]

O único e primeiro volume, que afinal ficou reduzido a 80 páginas, continha textos de Marx desde dezembro de 1841, o primeiro era Bemerkungen über die neue preußische Zensurinstruktion [Observações sobre as Novas Instruções do Governo Prussiano acerca da Censura], publicado na revistaAnekdota zur neuesten deutschen Philosophie und Publicistik[15] dos jovens hegelianos. A inclusão desse artigo é sintomática. Não é acaso que Marx tenha escolhido, não primeira publicação impressa [16], mas seu primeiro escrito como propagandista democrata-revolucionário defendendo a liberdade de imprensa burguesa clássica, contra o reacionário estado prussiano.

Nesse artigo, já criticava o “aparente Liberalismo” (Scheinliberalismus) da forma-estado burguesa, com bagagem filosófica que remetia declaradamente a Spinoza, Kant e Fichte, desmascarando a ilusão política de crer que os defeitos institucionais objetivos (objektiven Fehler, como a tendência a restringir a informação crítica livre) do Estado, na realidade, sua essência, pudessem ser corrigidos apenas mudando os censores.

Nenhuma “boa” lei, nenhuma “boa” intenção subjetiva – diz Marx ali – pode alterar a essência de um estado burguês. Além disso, num extraordinário parágrafo concentrado, Marx descreve em linguajar popular o método dialético de investigação da Verdade (Untersuchung der Wahrheit), que tem de ser, ele mesmo, verdadeiro: Zur Wahrheit gehört nicht nur das Resultat, sondern auch der Weg, “não só o resultado constitui a Verdade, também o caminho.” Destaca que o caráter do objeto (Charakter des Gegenstandes) que se investiga, nesse caso o estado burguês, exerce influência decisiva sobre a própria investigação. A investigação verdadeira “é” a Verdade desmembrada, cujos membros dispersos agrupam-se e condensam o resultado, nada mais, nada menos, que uma versão ainda tosca e primitiva do modo de investigação, o Forschungswiese, como aparece explicado no prólogo de O Capital.

O projeto editorial incluía, além dos artigos jornalísticos da etapa radical-liberal nos Anekdota e no diárioRheinische Zeitung, alguns do frustrado projeto parisiense dos Anuários Franco-Alemães; e artigos do “órgão da Democracia” criado por Engels e Marx, a Neue Rheinisches Zeitung. Para o segundo tomo, que não chegou a nascer, estava previsto publicar artigos da revista política que Engels e Moritz Hess editaram, Espelho da Sociedade,[17] e pensou-se em traduzir para o alemão algumas monografias de Marx, como o livro contra Proudhon, Misère de la philosophie[18], e o capítulo IV de A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas, intitulado “Karl Grün: ‘Die soziale Bewegung in Frankreich und Belgien’ (Darmstadt 1845) oder Die Geschichtschreibung des wahren Sozialismus” ["Karl Grün: ‘O Movimento Social na França e na Bélgica” (New York, 1845) ou a historiografia do socialismo verdadeiro].[19]

Embora a tiragem pensada inicialmente fosse muito ambiciosa (15 mil exemplares), só se imprimiram umas poucas cópias, a repressão contra os comunistas em Colônia, o próprio Becker foi preso em maio de 1851, e o confisco de exemplares pela Polícia fizeram com que poucos livros fossem distribuídos na cidade e arredores. Ainda em meados de 1851, Marx pensava editar uma versão ampliada desses escritos, incluindo um possível terceiro tomo, cada um com 75 páginas, tendo o dirigente Ferdinand Lassalle operado na intermediação.[20]
Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Em primeiro lugar, que, para as tarefas políticas-revolucionárias pendentes na Alemanha pós-1848, o próprio Marx identificou, de sua obra anterior, tanto teórica como de publicista, quais os textos que eram e quais não eram pertinentes. Em segundo lugar, é evidente que se o próprio Marx pretendia publicar, com o consenso da própria Liga dos Comunistas, textos aparentemente “defasados” de sua etapa de liberal de esquerda, aí está uma evidência de uma (talvez) profunda continuidade (apesar das sucessivas rupturas teóricas) na autoconsciência de Marx entre seu pensamento esquerdo-hegeliano (logo feuerbachiano) e o Comunismo reflexivo da década dos 1850s.

As ideias marxianas entre 1841 e 1844 continuavam atuais, e continuavam plenamente operativas e funcionais associadas à nova dimensão daKritik. Não se deve esquecer que, nessa altura, Marx já escrevera não só “Lohnarbeit und Kapital” [Trabalho Assalariado e Capital] [21] no diário democrático-revolucionario Neue Rheinisches Zeitung, mas também já publicara, com Engels, o Manifesto Comunista. E, nessa continuidade em sua filosofia prática, Marx reconhecia o valor autônomo e de consolidação teórica de A Ideologia alemã de 1845-1846.

“Durante o verão (de 1845)” – recorda Jenny Westphalen, esposa, corretora e copista de Marx – “Engels elaborou com Karl uma crítica à filosofia alemã. O estímulo externo foi o surgimento de Der Einzige und sein Eigentum [aprox. “O ego e o seu próprio” (NTs)] (de Max Stirner). Acabou sendo obra volumosa e seria publicada na Westfalia.”[22] Numa autointerpretação do Marx maduro, o famoso Vorwort à Zur Kritik der Politischen Ökonomie [Prefácio à Crítica da Economia Política] de 1859, fica clara a enorme importância atribuída ao passo teórico dado entre 1844-1846 e em especial o papel que aí desempenhavaA Ideologia Alemã:

“Comecei em Paris a investigação [da anatomia da sociedade civil], prosseguindo em Bruxelas, para onde havia emigrado como consequência da ordem de expulsão do Sr. Guizot. O resultado geral que obtive e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode ser assim formulado brevemente. Na produção social de sua existência, os homens estabelecem determinadas relações, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção (Produktionsverhältnisse) que correspondem a um determinado estado evolutivo de suas forças (...).

O modo de produção da vida material determina (bedingen) o processo social, político e intelectual da vida em geral. (...) Com Friedrich Engels, com quem tenho mantido constante intercâmbio epistolar de ideias (...) e também quando se estabeleceu em Bruxelas na primavera de 1845, resolvemos elaborar conjuntamente a oposição de nossos pontos de vista contra o ponto de vista ideológico da filosofia alemã, ou, de fato, acertar contas com nossa antiga consciência filosófica. Este propósito levou-se a cabo na forma de uma crítica à filosofia pós-hegeliana.

O manuscrito, dois grossos volumes in-octavo, já havia chegado havia muito tempo ao local onde devia ser editado, na Westfalia, quando recebemos a notícia de que uma mudança de condições não permitia a impressão. Deixamos o manuscrito entregue à roedora crítica dos ratos, ainda de melhor grado porque já alcançáramos nosso objetivo principal: compreendermos, nós mesmos (Selbstverständigung), a questão.”[23]

Resulta claro e evidente que esta ruptura, esta nova Ansicht [visão], este revolucionário ponto de vista, só pode ser entendido em sua magnitude, se compreendermos o significado de A Ideologia alemã. Em suma: si voltamos ao “futuro anterior” do próprio Marx.

[Continua]

NOTAS

[1] A conhecida como “primeira crise do marxismo”, hoje quase completamente esquecida, foi iniciada por um artigo do advogado G. Masaryk nos números 177-179 do jornal vienense Die Zeit, no qual o autor simplesmente constatava as diferenças teórico-práticas internas na social-democracia alemã e austríaca, em especial entre os pais fundadores e seus epígonos, concluindo que tais diferenças deviam-se ao caráter eclético do próprio marxismo, sistema sincrético; e que Das Kapital não passava de mera transcrição, em termos econômicos, do Fausto de Göethe. Da crise “no” marxismo da social-democracia de língua alemã, reformistas como Bernstein et altri, sem mais nem menos, extraíram uma crise “do” marxismo.
[2] LABRIOLA, Antonio. Discorrendo di socialismo e di filosofia, carta II (esp.) “Socialismo y Filosofía”, Madrid: Alianza editorial, 1969, p. 41, com tradução e prólogo de Manuel Sacristán.
[3] SOREL, Georges. “Préface” in LABRIOLA, Antonio. Essais sur la conception matérialiste de l'histoire, Paris: V. Giard & E. Brière, libraires-éditeurs, 1897, pp. 1-20.
[4] LABRIOLA, Antonio, ibidem, p. 41.
[5] Em 1975, Sacristán projetou uma edição crítica em espanhol da obra escolhida de Marx e Engels em 68 volumes, com o título de Obras completas de Marx e Engels (OME), sob o selo de Editorial Grijalbo. Desse projeto, só 11 volumes viram a luz, dentre os quais as traduções de Sacristán de O Capital, livros 1 e 2 e o Anti-Duhring. Sacristán dizia com razão, sobre publicar o Marx desconhecido que “quando me encarregaram de começar a traduzir as obras de Marx e Engels (que por certo foram suspensas, porque já não há mercado suficiente) era justo que me pedissem um Capital, porque, se traduziam obras completas, claro que também editariam O Capital. Mas o que, na minha opinião, estava errado, era entenderem que a primeira coisa a publicar, imediatamente, teria de ser O Capital. Entendo que, antes, teriam de publicar a parte inédita, a saber, o epistolário completo. Não me atrevo a dizer que eles, que são comerciantes, não tenham razão, mas a situação é absurda.” (In ARNAL, López, S.; DE LA FUENTE, P. Acerca de Manuel Sacristán, Barcelona: Destino, 1996, p. 168. Sobre a figura decisiva de Sacristán, ver ARNAL, López, S., “Aristas esenciales de un pensador poliédrico (I). Manuel Sacristán (1925-1985), a los 25 años de su fallecimiento”. In: Papeles de relaciones ecosociales e cambio global, n. 109, 2010, pp. 23-44.
[6] Tradução de uma seleção da edição de MARX, K.; ENGELS, F., Werke, editada por Dietz Verlag de Berlin-DDR, segundo a versão de 1958; em palavras de Roces: “Esta edição, que não é das obras completas (MEGA), mas das Obras Fundamentais (Werke), constará de vinte e tantos volumes. Já se publicaram dois, da juventude de Marx e de Engels; publicaram-se os três tomos das Teorias da Mais-valia. Agora aparecerão O Capital e os escritos econômicos menores e também a nova edição dosGrundrisse.” Sobre a figura de Roces: RIVAYA, Benjamín, “Comunismo e compromiso intelectual: Wenceslao Roces”. In Papeles de la FIM, n. 14, Fundación de Investigaciones Marxistas, Madrid, 2000. Roces foi pioneiro, ao fundar e dirigir uma empresa de difusão marxista ainda na IIa. República espanhola, a “Biblioteca Carlos Marx” da Editorial Cenit, da qual chegaram a publicar-se dez volumes grandes, entre os quais o primeiro tomo de O Capital em dois volumes e o Anti-Dühring de Engels.
[7] Remetemos o leitor à nossa crítica à centésima milésima tentativa de tratar Marx e Engels como cachorro morto, do físico Mario Bunge: “O Dr. Bunge sobre Engels. Los escombros ideológicos do Neopositivismo”, on-line em Rebelión: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=98168
[8] ESSBACH, Wolfgang. Die Bedeutung Max Stirners für die Genese des historischen Materialismus(1978) , u.d.T. Gegenzüge, Materialis, Frankfurt am Main, 1982.
[9] Balibar, por exemplo, assinala, rápida e erradamente, que “em 1845, Marx, refugiado em Bruxelas, trabalhava em colaboração com Engels na elaboração de uma concepção filosófica materialista da istória, da qual quer fazer a base de um socialismo proletário autônomo (“Tesis sobre Feuerbach, A Ideologia Alemana, manuscritos publicados tras a muerte de Marx e Engels”)”. In: BALIBAR, Étienne. Cinco Ensayos de Materialismo Histórico, Barcelona: Editorial Laia, 1976, p. 20. Malgré lui: não só se equivoca ao considerá-las obra independentes, mas também no momento em que foram publicadas, muito antes da morte de Engels e Marx. Em momento algum Engels ou Marx utilizan, nesses anos, nem o termo “concepção filosófica materialista da História”, nem “socialismo proletário autônomo”.
[10] O caso do célebre filósofo liberal britânico Isaiah Berlin, o qual, em livro de encomenda sobre Marx, escreve, sobre A Ideologia Alemã, o seguinte: “Stirner é demoradamente discutido. Sob o título de ‘São Max”, é perseguido ao longo de 500 páginas de sarcasmo grosseiro e insultos”. In: Karl Marx: His Life and Environment, Thornton Butterworth, London, 1939, Chapter VI, “Historical Materialism”, p. 143. Berlin erra até no ano da composição: “A exposição mais extensa da teoria acontece num trabalho que compôs com Engels em 1846, intitulado Ideologia Alemã” (ibidem, p. 118).
[11] DOHM, Bernhard; TAUBERT, Inge. “Engels über den roten Becker. Ein unbekannter Brief von Friedrich Engels”, In: Beiträge zur Geschichte der Arbeiterbewegung. 1973, Heft 5, pp. 807-814.
[12] MARX, Karl. Gesammelte Aufsatze von Karl Marx, herausgegeben von Hermann Becker. I. Heft, Koln, 1851. O conteúdo dessa primeira edição de escritos de Marx encontra-se em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, Werke, Artikel, Entwrfe Juli 1849 bis Juni 1851, Abt. 1: Werke, Artikel, Entwürfe, Bd. 10, Akademie Verlag, Berlin, 1977, pp. 493-497. Tratava-se do primeiro volume projetado; o segundo nunca foi publicado, porque Becker foi preso dia 19/6/ 1851, acusado de ser comunista e conspirar contra o estado; foi julgado no famoso processo dos comunistas (Kölner Kommunistenprozess), em 1852, e condenado a cinco anos de cárcere. Vide carta de Becker a Marx de dezembro de 1850. In: AA.VV. Der Bund der Kommunisten. Dokumente und Materialen. Band 2, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1982, Dokumente 570, pp. 357-358.
[13] MEHRING, E., Franz. Karl Marx: Die Geschichte seines Lebens, 1918, p. 209. Esp. Carlos Marx. Historia de su Vida, México: Editorial Grijalbo, 1957, p. 227-228.
[14] Textual: “Marx's Arbeiten sind theils in besonderen Flugschriften, theils in periodischen Schriften erschienen, jetzt aber meistens gar nicht mehr zu bekommen, wenigstens im Buchhandel ganz vergriffen. Der Herausgeber glaubt deßhalb, dem Publikum einen Dienst zu erweisen, wenn er mit Bewilligung des Verfassers diese Arbeiten, welche gerade ein Decennium umfassen, zusammenstellt und wieder zugänglich macht. [...] Der erste Band wird Marx's Beiträge zu den ‘Anekdota’ von Ruge, der (alten) ‘Rheinischen Zeitung’ (namentlich über Preßfreiheit, Holzdiebstahlsgesetz, Lage der Moselbauern usw.), den ‘deutsch-französischen Jahrbüchern’, dem ‘Westf. Dampfboote’, dem ‘Gesellschaftsspiegel’ usw. und eine Reihe von Monographien enthalten, die vor der Märzrevolution erschienen, aber leider noch heute passen.” In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, ibidem, p. 496.
[15] É o segundo artigo público conhecido de Marx, escrito entre janeiro e fevereiro de 1842, aparecido anonimamente (“De um renano”) como artigo nos Anekdota…, tomo I, ano 1843. A revista era órgão puro da esquerda hegeliana, sob a direção de Arnold Ruge. Agora, em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich;Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976. pp. 3-25. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 149-169.
[16] Quer dizer, o artigo “Luther als Schiedsrichter zwischen Strauß und Feuerbach” (“Lutero, árbitro entre Strauss e Feuerbach”), escrito em janeiro de 1842 e publicado anonimamente (“Alguém que não é berlinense”) nos Anekdota…, tomo II, 1843. Agora em en: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 26-27. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 147-148.
[17] Gesellschaftsspiegel. Organ zur Vertretung der besitzlosen Volksklassen und zur Beleuchtung der gesellschaftlichen Zustände der Gegenwart era revosta de tendência (wahrsozialistischen) político-teórica de intervenção nas classes trabalhadoras e de coinvestigação da questão social. Foi editada entre 1845-1846 na região natal de Engels, Elberfeld. Vide SILBERNER, Edmund, “Der ‘Kommunistenrabbi’ und der ‘Gesellschaftsspiegel’”. In Archiv für Sozialgeschichte, (1963), Band 3, pp. 87-102. Marx contribuiu com um artigo sobre o suicídio no capitalismo, em 1846: “Peuchet: Vom Selbstmord”. InGesellschaftsspiegel; zweiter Band, Heft VII, Elberfeld, Januar 1846, pp. 14-26. Agora em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx-Engels Gesamtausgabe, MEGA, I Abt., Band 3, Moskau-Berlin, 1932, pp. 391-407. Em esp. Marx, Karl; Sobre o Suicidio, ed. e tradução a cargo de Nicolás González Varela, Montesinos, Mataró (no prelo). Sobre o artigo de Marx, nos permitimos remeter o leitor a nosso artigoon-line: “Karl Marx en Bruselas (1845-1848): suicidio e cuestión femenina en o Capitalismo” (http://www.rebelion.org/noticias/2006/10/38534.pdf).
[18] Escrito en francês entre dezembro de 1846 e abril de 1847: Misère de la philosophie. Réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon, C.G. Vogler, Brüssel-A. Frank, Paris, 1847. (...) A melhor tradução ao espanhol ainda é Miseria de la Filosofía, Buenos Aires: Editorial Signos, 1970.
[19] In: ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 5–530.
[20] Vide carta de Lassalle a Marx de 26/6/1851 e suas conversas com o editor Scheller, de Düsseldorf.
[21] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, pp. 397-423. Esp.Trabajo Asalariado y Capital, Barcelona: Ed. Nova Terra, 1970.
[22] Westhpalen, Jenny; “Kurze Umrisse eines bewegten Lebens”. In: AA. VV. Mohr und General. Erinnerungen an Marx und Engels, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1964, p. 192.
[23] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, p. 8 e 10. Esp. MARX, Karl. Contribución al a Crítica de la Economia Política, México: Siglo XXI, 1980, p. 4 e 6.

*****************************************

* Em português do Brasil: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. [1845-1846] Trad.: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. Prefácio: Emir Sader. São Paulo: Boitempo Editorial. 2007, 616 p.

*Nicolás González Varela é jornalista e escritor.

Fonte: Fundação Maurício Grabois

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Brasil vai produzir vacina contra quatro doenças de uma única vez

3 de Agosto de 2012 - 17h37

O Brasil vai produzir vacina tetraviral que protege contra quatro doenças de uma única vez - contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora). O acordo que prevê a produção da vacina será assinado neste sábado (4), no Rio de Janeiro, e prevê a transferência de tecnologia do laboratório público Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para o laboratório privado GlaxoSmithKline.



Segundo o Ministério da Saúde, a partir de 2013, a vacina tetraviral fará parte do calendário de imunização do Sistema Único de Saúde (SUS).

O ministro Alexandre Padilha disse hoje (3), durante aula inaugural de um curso de medicina na zona leste de São Paulo, que o acordo garante o acesso a medicamentos e vacinas sem depender de outros países. “Podemos tomar como exemplo a pandemia do vírus [Influenza] H1N1, quando a vacina não era produzida no país e não foram feitas doses em quantidade adequada”, justificou o ministro, que irá participar da assinatura do acordo no Auditório Museu da Vida, na sede da Fiocruz.

O ministro destacou que a empresa possui interesse em produzir o medicamento no Brasil por causa do tamanho do mercado consumidor nacional. “Produzir aqui significa distribuir para milhões de pessoas. Atualmente, temos 34 projetos que são parcerias com empresas”, explicou.

No evento, Padilha comentou a tendência de queda das mortes provocadas pela influenza A (H1N1) - gripe suína na Região Sul.“A medida que avançamos no inverno, vai diminuindo a circulação do vírus da gripe. Mas isso não significa que devemos reduzir a vigilância, sobretudo, quanto ao uso do oseltamivir [medicamento de nome comercial Tamiflu]. Umas das razões para a diminuição do número de óbitos foi porque o uso começou a ser mais precoce”, reforçou.

Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 24 de julho de 2012

Foto inédita mostra efeitos da tortura em Vera Sílvia Magalhães


Uma fotografia inédita da ex-militante de esquerda Vera Sílvia Magalhães (1948-2007), tirada em 1970, revela os efeitos da tortura a que foi submetida em um prédio do Exército no Rio de Janeiro.


Vera, que disse ter sido submetida a tortura durante vários dias, aparece na imagem sem conseguir ficar em pé, tendo que ser amparada pelo também prisioneiro Cid Benjamin. A foto, obtida pela Folha, está sob a guarda do Arquivo Nacional em Brasília. 

Militantes da organização política de resistência à ditadura militar MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), Cid e Vera participaram do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em 1969, uma das mais importantes ações urbanas da esquerda armada.

"Não tinha visto essa foto. Eu tinha que segurá-la porque, naqueles dias, ela não conseguia se sustentar em pé, devido às torturas", contou Cid.

Em outra imagem, essa publicada pelos jornais na época, Vera foi fotografada numa cadeira, diferentemente dos demais presos. As fotografias foram tiradas momentos antes de o grupo ter sido trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, também sequestrado por forças de resistência à ditadura.

Do Rio de Janeiro, o grupo seguiu para a Argélia. Parte regressou clandestina ao Brasil, e alguns acabaram mortos pela ditadura militar. No exílio, Vera estudou sociologia na França. Retornou ao Brasil em 1979, após a aprovação da Lei da Anistia. 

Torturas

Em depoimento prestado à Câmara dos Deputados em 2003, Vera confirmou que as torturas a impediram de ficar em pé pouco antes de ser levada para Argélia. 

Ainda no depoimento à Câmara, Vera classificou a tortura que sofreu como "inteiramente desmesurada". "Fui a única torturada na Sexta-Feira Santa na Polícia do Exército. E eles me disseram: 'Você vai ser torturada como homem, como Jesus Cristo'", contou Vera.

Ela disse que "nunca mais se recuperou fisicamente". "Para uma mulher, acho que exageraram mesmo. Fiquei cheia de sequelas, cheia de problemas." Vera morreu em 2007, vítima de câncer.


Fonte: Folha de S.Paulo


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pesquisadores: material arqueológico no Solar do Colégio


Cachimbos, ossos, moedas, porcelanas entre outros materiais dos séculos XVIII e XIX, foram encontrados pelos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e o Museu Histórico Nacional no Solar do Colégio, onde funciona o Arquivo Público Municipal Waldir de Carvalho administrado pela Prefeitura de Campos através da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. O projeto intitulado “Café com açúcar: Escravidão  em área de açúcar e café no Sudeste rural”.

De acordo com o arqueólogo Luiz Claudio Symanski, cerca de 10 a 15 pesquisadores estão buscando no local artefatos dos trabalhos dos escravos nos séculos XVIII e XIX, na Senzala, na cerâmica de produção local e nas redondezas. “Estamos buscando fragmentos de peças inglesas e portuguesas, ornamentos e colares, além de restos de animais como porcos, animais silvestres”, disse o arqueólogo.

- Aqui é o começo de um projeto que vamos fazer no interior do Rio de Janeiro, terra do açúcar, e em São Paulo, que é grande produtor de café. Optamos por este local, já que é importantíssimo para a história. Vamos descobrir como viviam as comunidades durante a escravidão e após a abolição – completa, acrescentando que os trabalhos prosseguem até o dia 30 de Julho, com previsão de retorno no primeiro semestre de 2013.

A estudante de Ciências Sociais, Luara Antunes, de 21 anos, ficou encantada com a beleza do Solar. “É inexplicável. Aqui, estamos descobrindo como eram as relações de poder entre as duas classes sociais, o escravo e os senhores. A diferença de consumo já que podiam ganhar seu próprio dinheiro. A pesquisa com o moradores do entorno do Solar vai acrescentar  nos estudos, fazendo  a ligação passado- presente”, destaca.

Riquezas históricas - A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, informa que os moradores e visitantes podem ter acesso às riquezas históricas de Campos através de jornais, registros e documentos da Câmara Municipal de Campos e da Prefeitura de Campos no Arquivo Público. Exposição de fotos sobre a Memória do Solar além do laboratório de restauração de acervo, sendo o único do interior do Estado do Rio de Janeiro. “A política cultural implementada pela prefeitura está resgatando a memória da cidade através do Museu Histórico de Campos e do Solar do Colégio onde a população, a cada dia, está podendo conhecer o que marcou a terra dos índios goitacazes”, disse a presidente.

O Arquivo Público Municipal Waldir de Carvalho funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h, na Estrada Sergio Vianna Barroso n° 3060. Maiores informações pelo telefone 2733-9999.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O bóson de Higgs e o conhecimento da matéria



5 de Julho de 2012 - 18h19
Pesquisadores do Cern Cientistas do Cern comemoram em Genebra (Suíça) o anúncio da descoberta de uma nova partícula

Os cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) anunciaram a mais importante descoberta da física nos últimos 30 anos, um passo importante para o entendimento da estrutura da matéria.

Por José Carlos Ruy



Os físicos do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) comunicaram ontem (4), em Genebra Suíça, um importante passo para a compreensão da estrutura da matéria. Eles podem ter encontrado indícios da existência do chamado bóson de Higgs, uma partícula elementar fundamental para a explicação da existência da matéria mas, até agora sem comprovação empírica.

"Temos uma descoberta", disse Rolf Heuer, diretor-geral do Cern, no seminário onde foram apresentados os resultados mais recentes das pesquisas realizadas com o Grande Colisor de Hádrons (LHC, do nome em inglês Large Hadron Collider), que é uma imensa máquina (um círculo de 27 quilômetros de circunferência), que custou entre seis e dez bilhões de dólares e começou a funcionar em 2008. E que foi construído especialmente para a investigação de partículas elementares.

Alguns físicos consideraram a descoberta anunciada como a mais importante dos últimos 30 anos no mundo da física. O bóson procurado foi descrito teoricamente por Peter Higgs em um artigo publicado em 1964 e desde então os físicos buscam comprovar sua existência através de experimentos. Trata-se da última partícula prevista pelo chamado modelo padrão cuja existência ainda não foi comprovada. O fato de ser infinitamente pequeno em sua massa e durabilidade (ele se transforma em outras partículas num espaço de tempo infinitesimal) são obstáculos quase intransponíveis para isso. Daí a prudência no anúncio e o alerta de que exigirá ainda muita pesquisa, e o uso de muito tempo e dinheiro para dar aos cientistas uma certeza mais efetiva a respeito do anúncio feito ontem.

Prudência científica

Os cientistas do CERN tem algumas certezas, contudo. Mesmo não tendo observado diretamente o bóson devido a seu decaimento (este é o nome que os cientistas dão à transformação de uma partícula em outras), eles sabem que encontraram alguma coisa importante em dois experimentos diferentes do LHC, o ATLAS (A Toroidal LHC Apparatus)e o CMS (Compact Muon Solenoid).

Os resultados são compatíveis com a descrição feita por Higgs há quase cinquenta anos. "Não é um resultado definitivo, mas as chances são muito grandes", explicou o físico brasileiro Sérgio Lietti, pesquisador do Núcleo de Computação Científica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e que participa das pesquisas do Cern.

Outro físico do Cern, o suíço Oliver Buchmueller, explicou que o resultado semelhante obtido de forma independente pelas duas equipes reforça a convicção da descoberta de um novo bóson, mas pondera, com prudência, que ainda é preciso “provar definitivamente que é o que Higgs previu". Esta é também a opinião do norte-americano de Joe Incandela, responsável pelo CMS. Uma partícula foi de fato encontrada, diz ele, mas ainda é cedo para dizer se é ou não o bóson de Higgs ou não. Ele confessou ter “grandes incertezas"; trata-se, disse, de um “resultado preliminar”, embora “muito forte e muito sólido". "Encontramos algo muito profundo, diferente de qualquer outra partícula."

Sua colega, a italiana Fabiola Gianotti, que dirige a experiência com o detector ATLAS, tem opinião semelhante. "Estamos apenas no começo”, disse, pedindo paciência às pessoas, “em especial aos físicos teóricos”, e também classificando os resultados como preliminares mas sólidos.

Evidências estatísticas

Os cientistas afirmam que o bóson observado está dentro das evidências estatísticas (eles chamam de “sigmas de significância” e neste caso atingiu o valor de 4,9, considerado muito alto) que medem a probabilidade dos resultados. O valor alcançado indica, para os cientistas, uma chance de erro apenas um em um milhão. “Não tenho muita dúvida de que, na física de partículas, é o evento mais importante dos últimos 30 anos”, disse o físico Sérgio Novaes, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e que participa da equipe brasileira da pesquisa do CMS. "Acho que é um momento histórico que a gente está vivendo".

O bóson de Higgs foi definido como uma das partículas elementares do chamado modelo padrão, que é dominante entre os físicos para explicar o funcionamento da matéria no mundo infinitamente pequeno do interior do átomo e descrever como as partículas se mantém juntas, dando consistência à matéria. Seria uma espécie de “cola” das partículas, impedindo-as de se dispersarem. Esta consistência, que se manifesta desde este mundo extremamente pequeno, está na base de tudo aquilo que existe no Universo - das estrelas aos planetas e aos seres vivos e toda a realidade material observável.

A busca pela partícula de Higgs é, de fato, a busca pela explicação dos fundamentos da matéria naquela que é hoje a última fronteira da ciência; daí sua importância.

Partícula de Deus?

Os cientistas cercam-se de cuidados. Afinal, o anúncio dos resultados tem um duplo interesse, científico e financeiro. É uma forma de prestar contas dos elevados gastos com a pesquisa e, ao mesmo tempo, uma maneira de tentar seduzir os governos, principalmente europeus, a manter os investimentos. É neste sentido que se deve entender a presença de diplomatas de vários países europeus, convidados para assistirem ao anúncio feito na sede do CERN.

Se há cautela entre os cientistas, o mesmo não se pode dizer de editores e jornalistas que tratam do assunto. A começar pelo próprio apelido dado pela imprensa ao bóson de Higgs: partícula-deus (no Brasil, partícula de Deus). Ele surgiu em 1993 quando o Nobel de física de 1988 Leon Lederman publicou o livro “The God Particle” (A partícula-Deus), sobre o bóson de Higgs. Este título foi dado pela editora, que rejeitou a proposta inicial de Lederman, que era “Goddamn Particle” (em português Partícula maldita).

Os cientistas não gostam deste apelido, mesmo porque a brincadeira distorce completamente o significado da busca pela compreensão mais profunda da matéria. Mas no noticiário científico dos jornais e revistas, o apelido pegou com um fundamento indisfarçavelmente ideológico. A busca pela explicação da existência da matéria que move a ciência exclui por antecipação a interferência de forças sobrenaturais. Ao contrário daquilo que o apelido sugere, a comprovação da existência do bóson de Higgs, ou de outro fenômeno natural semelhante a ele, previsto pela teoria, deixa Deus fora da explicação. A pesquisa significa, neste sentido, um avanço materialista na compreensão da natureza e da matéria, e relega a crença numa entidade sobrenatural e divina à esfera das convicções pessoais e íntimas, não comprováveis pela experiência empírica.

Goyta entra no G2

Com o Aryzão lotado, o Goytacaz não encontrou dificuldade para vencer o Esporte Clube São João da Barra por 3 a 1 e finalmente entrar no G-2 com 30 pontos. 

Os gols do Alvianil foram marcados pelo atacante Saulo, o zagueiro Vladimir e o meia Gilmax. Já o atacante Thiago Trindade descontou para a equipe sanjoanense. O Quissamã segue líder com 35 pontos, mas agora tem o Goyta na vice-liderança, o Audax está em terceiro com 29 pontos e o ECSJB parou nos 27 pontos e caiu para a quarta colocação.




O Goytacaz começou pressionando o ECSJB. Aos 5min quase Wandinho abriu o placar ao mandar uma bomba no travessão, a bola quicou fora do gol e Gilmax cabeceou fraco. Mas no lance seguinte o Goyta abriu o placar. Ruan perde a bola para Wandinho que cruzou na medida para Saulo marcar.

Entretanto aos 16, o ECSJB empatou com Thiago Trindade que aproveitou um cruzamento de Sassá. Porém aos 22, o Goyta fez o segundo com Vladimir de cabeça.

Na segunda etapa, o time da rua do Gás fechou o caixão logo no início. Aos 7, Jocian sofreu falta de Wellington Jacaré, na sequência Gilmax cobrou a falta no ângulo do goleiro Borges que nada pode fazer.

Após o terceiro gol, o ECSJB partiu para cima, mas o Goyta se segurou e saiu com a vitória e na vice-liderança.
05/07/2012 02:03

sábado, 30 de junho de 2012

PCdoB homologa Professora Odete e Andral Tavares para Prefeitura de Campos

Uma grande convenção. Delegados, filiados e militantes estiveram na convenção municipal do PCdoB de Campos realizada na tarde deste sábado (30/06) no SINDIPETRO NF. Confirmaram a candidatura da Professora Odete e Andral Tavares para disputar a prefeitura de Fortaleza.


Pessoas vindas de todas as partes da cidade reforçaram o compromisso e o desejo de ver uma Campos melhor. Em clima festivo e de muita consciência política, o PCdoB apresentou sua chapa majoritária encabeçada pela Professora Odete e homologou também as candidaturas do partido que disputarão uma vaga para a Câmara dos Vereadores de Campos dos Goytacazes.

“Processo vitorioso”

O ato de homologação das candidaturas comunistas encerra um processo vitorioso de debate nas assembleias de base, que envolveu mais de 400 filiados. “Em todos esses encontros, as pessoas puderam pensar e debater sobre as demandas da cidade. Em todos eles, o nome de Odete foi aclamado como sendo o mais preparado para gerir Campos”, ressaltou.

Relembro ainda a pressão que Odete sofreu para abrir mão de sua candidatura, mas “Comunista não foge à luta". 


Mais apoio

Estamos aguardando para as próximas horas apoio de outros partidos para engrossar nossa luta.

“Força que vem do povo”


 Emoção. É a palavra que usarei para definir o vídeo da camarada Odete para os camaradas presentes a Convenção, que neste momento, contava com a presença do companheiro Andral Tavares presidente do PV e candidato a vice-prefeito.

  “Odete não é uma candidata inventada”

São quatro anos de diálogo com a sociedade, são quatro anos apresentando propostas politicas as demais forças politicas.

“Aliança permanente com o povo””

O PCdoB renova e reafirma compromisso com Campos, com a transparência na coisa pública, com a competência administrativa, mas acima de tudo, compromisso com aqueles que mais precisam dos serviços públicos.


Compromissos

Melhorias na Educação e na Saúde são compromissos assumidos por Odete e Andral.


“Confiamos no povo de Campos”

Estamos empolgados e acreditamos que vamos abrir um bom diálogo com o povo, chegou a hora da mudança, vamos caminhar firmes e fortes rumo a vitória.