domingo, 1 de dezembro de 2013

Paulo Victor Melo: A imprensa e a violência contra a mulher


Já virou lugar comum. Ao tratar de casos de violência contra a mulher e assassinatos de mulheres, a imprensa sergipana (certamente, essa é uma tendência nacional da nossa mídia) refere-se aos agressores como “companheiros” ou “ex-companheiros”. 

Por Paulo Victor Melo* 


Não conheço um veículo de comunicação sequer que tenha essa como uma orientação editorial explícita, mas é algo que pode ser facilmente verificado nas matérias dos mais diversos jornais, revistas, sites, blogs, emissoras de televisão e rádio.

Dados do recente estudo Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil, elaborado pelo IPEA, demonstram que aproximadamente 15 mulheres são mortas, por dia, em decorrência da violência doméstica (em média, uma mulher a cada uma hora e meia). Outros números ajudam a revelar a gravidade desse tipo de violência: a cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil. Na última década, mais de 43 mil mulheres foram assassinadas no país, sendo 61% mulheres negras. 48% de todas as assassinadas nos últimos dez anos tinham apenas até oito anos de estudo.

Em geral, mostram os dados, essas agressões e crimes são cometidos por namorados e maridos. Sim, pessoas do convívio das mulheres. Mas não companheiros. A palavra companheiro tem origem no latim e significa “aquele que divide o pão com outro”. Cara aos partidos políticos de esquerda, aos movimentos sociais e sindicais, a expressão “companheiro” pode ser sintetizada por “aquele com quem compartilhamos lutas e sonhos”. Mas para compartilhar sonhos e lutas, é preciso – acima de tudo - igualdade e respeito aos direitos do outro. Justamente o que falta aos homens que agridem e matam mulheres.

Assim, é possível compreender que o uso banalizado do termo “companheiro” pela imprensa nas situações de violência contra a mulher esconde algo maior: o machismo. Sim, ao noticiar agressões físicas, morais, sexuais e psicológicas contra as mulheres, a nossa mídia insiste em camuflar o machismo. Em matérias, artigos de opinião, editoriais ou entrevistas, crimes de conotação machista são travestidos de supostas motivações passionais. Por mais que entidades e coletivos de direitos das mulheres se manifestem, parece que a imprensa ainda não aprendeu: não é o amor que mata, mas o machismo, a crença de que a mulher é inferior, é subalterna, logo deve ser violentada e, caso resista ou desobedeça, assassinada.

25 de Novembro marca a passagem do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, um importante momento de reflexão sobre a necessidade do combate ao machismo que mata mulheres todos os dias em nosso país.

Um momento importante também para os/as trabalhadores/as da comunicação refletirem sobre o seu fazer profissional quando o assunto é violência contra a mulher. Deixar de chamar os agressores e assassinos de mulheres de “companheiros” ou “ex-companheiros” pode ser o primeiro passo para uma nova postura da imprensa. Outros também são necessários e urgentes: respeitar os direitos das mulheres, em especial na preservação de sua imagem, garantir à mulher a voz (ou o silêncio) quando ela assim o quiser, desconstruir visões estereotipadas das mulheres que - em determinada medida - reforçam a violência de gênero, e ir além do senso comum do “crime passional”, buscando as raízes que identifiquem as causas da violência. São alguns caminhos para que tenhamos uma imprensa “companheira” das mulheres. 

*Paulo Victor Melo é jornalista, mestrando em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal de Sergipe e coordenador do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

Fonte: Portal Infonet



Espécie brasileira de coral combate superbactéria hospitalar


Uma das bactérias mais importantes causadora de infecções relacionadas à assistência a saúde (IrAS) e que atinge os pulmões – a Klebsiella pneumoniae (KPC) – acaba de ganhar um combatente inusitado e promissor: o coral orelha-de-elefante (Phyllogorgia dilatata).



Coral Orelha de elefante no Recife de Fora – mostra biodiversidade e cobertura. Foto: Coral Vivo

A espécie, que ocorre na costa do Brasil, é a primeira nas águas do Atlântico Sul a ser identificada com essa característica antimicrobiana para controle desse tipo de microrganismo encontrado em ambiente hospitalar. Com o título: “Identification of a Novel Antimicrobial Peptide from Brazilian Coast Coral Phyllogorgiadilatata”, a novidade está publicada na mais recente edição da “Protein & Peptide Letters”.

Esse estudo – que avaliou a ação das biomoléculas extraídas e purificadas do coral – é liderado por pesquisadores da Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), em parceria com o Museu Nacional/UFRJ, e faz parte da Rede de Pesquisas Coral Vivo, patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, e pelo Arraial d’Ajuda Eco Parque. Os cientistas destacam que cepas dessas bactérias têm desenvolvido resistência à maioria dos antibióticos existentes atualmente, causando milhares de mortes por infecções em ambientes hospitalares.

“Percebemos que este pode ser um candidato promissor a novo antibiótico para atuar contra bactérias resistentes aos fármacos disponibilizados até agora”, informa a bióloga molecular e professora da UCB, Simoni Campos Dias. Essa superbactéria, objeto da pesquisa, chegou ao Brasil em 2005. Pelo menos 106 pessoas morreram no Brasil infectados por ela, entre 2011 e 2012, segundo dados mais recentes do Ministério da Saúde – o que destaca a importância dessa pesquisa. Como esses animais vivem fixos no mar e sobrevivem à alta competitividade dos ambientes marinhos, eles possuem barreiras químicas que conseguiram destruir essa superbactéria pulmonar.

O coral orelha-de-elefante é encontrado em abundância na costa brasileira e nas ilhas oceânicas distribuídas desde o Maranhão até Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Não há relatos na literatura sobre peptídeos antibacterianos extraídos desta espécie. O estudo conclui que as biomoléculas extraídas e purificadas do orelha-de-elefante também conseguiram controlar o crescimento daStaphylococcus aureus e da Shigella flexneri, consideradas bactérias importantes nas infecções adquiridas em ambiente hospitalar, e que apresentam cepas resistentes a muitos antibióticos usados com frequência nas unidades de saúde.

Escolha da espécie
De acordo com o coordenador geral do Projeto Coral Vivo e professor do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, o biólogo Clovis Castro, foram selecionadas seis espécies de corais que tinham potencial para a pesquisa. “Como esses animais sobrevivem à alta competitividade dos ambientes marinhos, eles possuem barreiras químicas como, por exemplo, os peptídeos antimicrobianos”, relata Castro. Além do extrato bruto da Phyllogorgia dilatata, foram avaliados: Carijoa riisei, Muriceopsis sulphurea, Neospongodes atlantica, Palythoa caribeorum e Plexaurellagrandiflora.

“Nos resultados preliminares, percebemos que a Phyllogorgia dilatata tinha potencial consideravelmente mais alto do que as demais, por isso aprofundamos os experimentos somente com ela”, explica a pesquisadora Loiane Alves de Lima, que teve a pesquisa como tese de seu mestrado na UCB.

Próximas etapas

As substâncias são encontradas em quantidades extremamente pequenas no coral. A bióloga Simoni Campos Dias explica que o próximo passo será descobrir se esse peptídeo é derivado do próprio coral ou se pertence às bactérias e outros micro-organismos que vivem em associação com ele. “Começamos a investigar também as moléculas de outros animais marinhos do Caribe, visto que os resultados desse estudo apresentaram alto potencial de defesa”, completa.

Somente terá efeito no organismo humano com a biomolécula isolada criteriosamente e processada: “Após longo processamento do fármaco descoberto no coral, o composto será clonado dentro de levedura, para que seja possível produzir o princípio ativo em grande quantidade. Assim, o medicamento poderá ser fabricado”, resume o professor da Universidade Católica de Brasília, Octávio Luiz Franco, que faz parte da equipe de pesquisadores. Ele conta que isso pode levar uns 10 anos, porque serão necessárias mais pesquisas e testes no organismo humano e aprovação dos órgãos competentes. E alerta: “O extrato em si, sem o processamento adequado, poderia causar danos maiores do que a bactéria causadora da infecção hospitalar”.

Esse é um dos estudos sobre novos combatentes para as temidas superbactérias liderados pelos pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB), que já pesquisaram outros peptídeos com atividade antimicrobiana extraídas de plantas e animais, por exemplo. A pesquisa com os corais brasileiros foi financiada pela Universidade Católica de Brasília (UCB), CNPq, CAPES e Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, e faz parte da Rede de Pesquisas Coral Vivo, que é patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, e pelo Arraial d’Ajuda Eco Parque. Participaram cientistas da UCB, do Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Ceará, e da University de La Habana, de Cuba.

Curiosidade

O coral orelha-de-elefante está na atual cédula de R$ 100. Ele foi indicado para o Banco Central e Casa da Moeda pelos pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ e do Projeto Coral Vivo, assim como as demais espécies marinhas que acompanham a garoupa na nota. A edição 12 do informativo “Coral Vivo Notícias” publicou matéria com as imagens cedidas pelo Projeto e suas respectivas localizações. Confira aqui.

Projeto Coral Vivo

O Projeto Coral Vivo faz parte da Rede BIOMAR (Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha), que reúne também os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz. Todos patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil, atuando nas áreas de proteção e pesquisa das espécies e dos habitats relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também pelo co-patrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e realizadas pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN).

Fonte: Site Coral Vivo


Edson França: o PCdoB contribui na luta pela igualdade racial


Na Plenária do 13º Congresso Nacional do PCdoB, realizada entre os dias 14 a 16 de novembro de 2013, Edson França*, recém-eleito membro da direção do Comitê Central, em sua intervenção reflete sobre a contribuição teórica e política do PCdoB ao processo de igualdade racial em curso. 

Leia a intervenção abaixo:


Camaradas,
São várias lições que podemos tirar da experiência dos 10 anos das forças progressistas na Presidência da República, debatemos no processo de construção do nosso 13º Congresso e estamos coroando com êxito a discussão, convictos que não esgotamos todas as variáveis políticas que dão significados no campo econômico, político, social, cultural e os impactos na subjetividade popular dessa experiência ainda em curso. Precisaremos de um tempo histórico para que possamos estudar e compreender com maior profundidade o significado de Lula, Dilma e a frente de esquerda - na qual o PCdoB é força fundamental – na condução dos rumos da nação.

Na questão racial há claros avanços, apesar da dura resistência racista e conservadora sintetizada na voz da oligarquia midiática representada pela Revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão, Organizações Globo que unidas militaram contra todos os avanços das políticas de igualdade racial e social implantadas nos últimos anos. 

São férteis os exemplos da virtuosidade em matéria de políticas de igualdade racial que o país está verificando:

• Esgotamos as dúvidas e os questionamentos sobre a legalidade e legitimidade das ações afirmativas com o pronunciamento do STF na ADPF movida pelo DEM (partido símbolo da oligarquia e coronelismo que o povo quer enterrar) contra as cotas raciais nas universidades públicas. Para o STF as cotas são constitucionais e legítimas, podemos através delas incluir negros e pobres nas melhores universidades públicas brasileiras, bem como podemos lançar mãos de várias iniciativas com vista a mitigar as desigualdades decorrentes dos agravos do racismo.

• Instituímos a mais densa rede institucional de igualdade racial do planeta - essa rede compreende a soma dos conselhos, assessorias, coordenadorias, secretarias de igualdade racial nos âmbitos municipais, estaduais e federal - consolidando a dimensão antirracismo no pacto federativo. Embora as estruturas de igualdade racial em prefeituras e governos não seja fato novo e careçam de recursos orçamentários e fortalecimento institucional, inegavelmente houve acentuado crescimento em tamanho e importância nos últimos 10 anos.

• Aperfeiçoamos o ordenamento jurídico brasileiro em matéria antidiscriminatória. A aprovação da Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino da África e da Cultura Afrobrasileira nas escolas, do Estatuto da Igualdade Racial e da Lei que institui cotas nas universidades públicas federais somadas aos preceitos constitucionais, leis e decretos presidenciais existentes ou recém-promulgados coloca o Brasil na dianteira em relação a legislação de proteção e promoção social de população racialmente discriminada e marginalizada socioeconomicamente. 

• O investimento em políticas sociais foi capaz de promover a ascensão de mais de 36 milhões de brasileiros da condição de miséria, dentre eles, 78% são negros. Isso prova o imenso fosso, a brutal desigualdade entre negros e brancos encontrado em 2003. 

A soma dessas iniciativas logrou inúmeras resultantes dentre elas destaco um vertiginoso incremento da classe média negra. Um governo que tenha beneficiado de maneira particular a população negra é um fato inédito na história brasileira. Está aberto um novo cenário no campo da igualdade racial com essa nova classe média, trata-se de uma parcela de brasileiros com grande potencial de influenciar seu entorno; otimistas com o futuro, com o país e com seus governantes (segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Data Popular); tem novas demandas; está distanciada da influência dos pensamentos progressistas e dos partidos e em busca de referenciais negros que simbolizem competência e sucesso – lugar que o PCdoB navega com segurança.

No entanto, as assimetrias sociais, políticas e econômicas resultantes de 500 anos de opressão não se debelam em 10 anos, por mais esforços e energias investidos. O racismo ainda resiste, seus nefastos efeitos como a desigualdade salarial entre negros e brancos (36% segundo DIEESE); sub-representação de negros em espaços de decisão e poder (a população equivalem 50,6% dos brasileiros e 8,3% dos congressistas, segundo pesquisa da UNEGRO de 2011) e o espantoso índice de homicídio que tem vitimizado a juventude negra (o índice de mortes violentas de jovens negros foi de 72, para cada 100 mil habitantes; enquanto entre os jovens brancos foi de 28,3 por 100 mil habitantes, segundo Mapa da Violência) sintetizam a força do racismo no Brasil, há muito que se fazer para superá-lo. 

O PCdoB, desde o primeiro momento, tem dado contribuição teórica e política ao processo de igualdade racial em curso, por isso sua responsabilidade aprofundar a luta contra o racismo nunca se esgota, precisamos estreitar relação com essa nova classe média negra ascendente e manter a luta para ascensão social da grande massa vitimada pelo racismo e pela opressão de classe. Para isso, é fundamental a realização da 1ª Conferência Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB e instituição de uma Secretaria Nacional de Combate ao Racismo com vista a atualizar nossa reflexão sobre o tema e organizar o coletivo partidário aos novos desafios impostos na luta contra o racismo. 

*Edson França é presidente nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro).

Roberto Amaral: José Genoino vive Geni


É este ser humano que, para gáudio de seus torturadores, sofre o mais escandaloso linchamento moral a que um homem público brasileiro jamais foi submetido.

Por Roberto Amaral*, na Carta Capital


  José Genoino, preso e torturado após a guerrilha do Araguaia
José Genoino, preso e torturado após a guerrilha do Araguaia
De sua vida conheço pouco. O suficiente, porém, para respeitá-lo e nutrir profundo desprezo pelos que tentam depredar sua história e sua honra.

Filho de camponês no interior do interior do Ceará, em pleno semiárido nordestino, conheceu na carne, cedo, a as forças telúricas que o sertanejo pobre precisa arregimentar para sobreviver. Menino ainda, trabalharia com o pai como “cassaco” nas frentes de trabalho do DNOCS, carregando pedra e abrindo à força da enxada estradas de terra, pretexto para dar sobrevida aos flagelados da seca de 1958.

O salário era pago em alimentos e querosene para o lampião.

Pelas mãos de um pároco entusiasmado pela Teoria da Libertação (por onde andará o Padre Salmito?), do qual fôra coroinha, deixa a roça para lutar na cidade grande por melhores oportunidades de sobrevivência digna. Refaz a trajetória atávica de tantos antepassados.

Em Fortaleza, trabalha e estuda à noite em colégios públicos, ingressa na Faculdade de Direito (quando seria aluno de Paulo Bonavides) e é conquistado pelo movimento estudantil, pelo qual se destaca para conhecer a primeira prisão de sua vida severina (severíssima, saberia anos depois): na primeira incursão em defesa da democracia, em uma passeata contra o golpe de 1964 – golpe, relembre-se, maquinado nos quartéis e nos altos círculos do empresariado com destacado dos grandes capitães da grande imprensa brasileira, daquele então e de hoje.

Golpe que, não sabia, naquela altura, o perseguiria até hoje. Quatro anos passados, ainda universitário, é preso no Congresso da UNE em Ibiúna (1968), no interior de São Paulo. Solto, tem a prisão preventiva decretada; sem alternativa, ingressa na clandestinidade e vai travar como lhe permitem as circunstâncias sua luta na resistência à ditadura.

Não sei o que, naquela altura, faziam seus algozes de hoje.

Da luta de massa, ele transita para a resistência armada. Em junho de 1970, filiado ao PCdoB, ingressa na guerrilha do Araguaia. Conhece o inferno e descobrirá que sua vida severina era uma quase-morte. Preso em 1972 pelo Exército Brasileiro, vê-se, clandestino, incógnito, à mercê da humilhação, da ofensa, da degradação física e moral, a ignomínia da tortura a mais insidiosa, implacável, fria, bestial e científica, na qual o pau-de-arara, a “cadeira do dragão” (choques elétricos), o sufocamento, os “telefones” (pancadas nos ouvidos) e os pontapés eram o vestibular do inimaginável em termos de perversão e perversidade.

Foi torturado ainda no Araguaia (e como o foi!), em Brasília e em São Paulo. Preso clandestino, incógnito, verdadeiro sequestrado, sem conhecimento da autoridade judiciária, inteiramente à disposição de seus algozes, sem o amparo sequer da lei de proteção aos animais, invocada nos idos do Estado Novo pelo apóstolo Sobral Pinto na defesa de Prestes. Só não padeceu onde não esteve.

Conheci-o no final dos anos 80 (só em 1977 ele recobraria a liberdade), chefiando eu a assessoria da bancada do PSB na Constituinte liderada pelo inesquecível e saudoso Jamil Haddad, ele um dos mais destacados deputados do PT.

Ex-guerrilheiro, líder radical do Partido Revolucionário Comunista (então uma fração dentro do PT), revela-se conciliador e articulador habilidoso, um dos costuradores de muitas das conquistas que a esquerda brasileira logrou trazer para a “Constituição cidadã”. Torturado por militares, poucos como ele, porém, tanto lutariam pela aproximação entre civis e militares.

Eu o reveria, corajoso, dedicado, na jornada do impeachment contra o ex-presidente Collor, e continuaria acompanhando sua vida parlamentar, voltada à liberdade, à democracia e à defesa da soberania nacional. Distanciava-se do marxismo-leninismo, mas permanecia obcecado pela justiça social, caminhando do esquerdismo para concepções socialdemocratas avançadas. Para o bem das esquerdas em geral, cultivava a crítica de nossas organizações.

No primeiro governo Lula é eleito presidente do PT, em substituição a José Dirceu, e por artes e maquinações que desconheço termina envolvido no chamado escândalo do “mensalão”. Sempre alegando inocência, foi acusado, julgado, condenado e apresentou-se à execução da pena.

É este ser humano (sim, ser humano!) que, para gáudio de seus torturadores impunes, sofre o mais escandaloso, brutal, injusto linchamento moral a que um homem público brasileiro jamais foi submetido.

Não discuto sua culpa nem o mérito da pena após tão longo e tumultuado julgamento, e sei que sua biografia não absolve os erros do presente. Digo que o linchamento não é pena capitulada em nosso Código Penal. Mais do que o justo clamor da opinião pública ferida em seus brios, cansada de tanta impunidade selecionada e sedenta de punição, vejo, na sua execração, uma difusa vendetta. Mais que os erros que lhe são imputados (dessa ainda não suficientemente esclarecida aventura do “mensalão”), pesa sobre sua imagem de hoje a sombra do guerrilheiro do passado. É a este que se pune. A biografia agrava a pena.

Os que não puderam matá-lo (como fizeram com Rubens Paiva, Stuart Angel, Mário Alves, Manoel Alves Filho, Pedro Pomar, Bérgson Gurjão, Joaquim Câmara, Marighela, Herzog e tantos e tantos heróis), os que foram derrotados com a redemocratização, os que perderam todas as eleições, querem a revanche e avançam covardemente sobre o carcará sem asas, já sem garras, já sem fôlego.

No momento em que escrevo, a presa é um homem abatido, um cardiopata com uma aorta artificial, lutando contra crises de pressão arterial. É o cadáver atrasado que, impacientes, reclamam. É nesse homem que batem, um prisioneiro da Justiça, cumprindo pena como devem cumprir todos os condenados. Quem ganha com isso? Que benefícios aufere nossa sociedade com a prática de tratar o oponente político como inimigo, e inimigo a ser abatido, destruído, dilacerado?

Estranhos tempos. Estranha história.

Maluf caminha lampeiro pelos gabinetes da Corte e o torturador Brilhante Ustra saboreia a aposentadoria que a impunidade lhe facultou. Mas José Genoino Neto, um homem pobre após quase sete mandatos de deputado federal, cumpre pena por corrupção.

Estranhos tempos. Estranha história.

Nesta hora sombria, estendo a mão ao homem José Genoino Neto e nego-a aos que lhe jogam pedras, como na Geni de Chico Buarque. Desprezo os linchadores, como desprezo os que se omitem diante de sua dor.

‘Nenhuma boa ideia merece um cadáver’.
Héctor Erazo, escritor colombiano


*Roberto Amaral é Cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004.
** Título original: Geni

Jogadores de futebol podem fazer greve ainda em 2013


Jogadores do movimento Bom Senso FC e a diretoria do clube pernambucano Náutico chegaram a um acordo na noite de sexta-feira (29) para evitar o que seria a primeira greve da categoria no Brasil. A paralisação não deve acontecer na rodada deste fim de semana, a penúltima do Campeonato Brasileiro, mas uma possível parada ainda este ano não está descartada.


Movimento Bom Senso FC ainda pensa em fazer greve na última rodada do Brasileiro| Foto: AP

O movimento Bom Senso FC, que já conta com a participação de mais de mil jogadores, tem como principal objetivo dos jogadores com o movimento – estabelecer um diálogo com as entidades que comandam o futebol brasileiro – ainda não foi atingido.

Um dos líderes, o zagueiro do Corinthians Paulo André, afirma que o movimento vai continuar com protestos durante os jogos. Eles pedem uma reformulação do calendário - com mais períodos de folga e pré-temporada - e "fair play financeiro" - um conjunto de regras que aumente a responsabilidade na gestão dos clubes.

"Os protestos são uma forma de a gente tentar demonstrar nossa insatisfação com o posicionamento da CBF [Confederação Brasileira de Futebol]", disse Paulo André à BBC Brasil. "Então nas próximas rodadas eles devem aumentar e nós não descartamos uma greve na semana que vem. A gente vai continuar assim até que se esgote o diálogo."

O Náutico, que estava com todos os salários em dia, não conseguiu pagar os direitos de imagem do último mês a todo o time e acabou acertando o valor apenas com parte da equipe.

A atitude desagradou os atletas, que recorreram ao Bom Senso FC para ter o respaldo de todas as equipes da 1ª divisão nacional para uma possível greve no final de semana.

Na quinta (28), o movimento divulgou uma nota oficial de apoio aos jogadores do time pernambucano e deixou clara a ameaça de greve, caso o Náutico não chegasse a um acordo com os atletas sobre o pagamento atrasado até sexta-feira (29).

O problema pontual com os Náutico foi resolvido, mas a possibilidade de greve do Bom Senso ainda não foi descartada.

"Nossa maior dificuldade é essa, no diálogo e na discussão, porque quando a pessoa acredita que você não tem nada a acrescentar ou ela não tem argumentos para falar com você, fica realmente muito complicado você conseguir um produto de maior qualidade", explicou Paulo André.

Com BBC Brasil


Rádio Vermelho debate cultura e desmistificação de estereótipos


"A história demonstra a beleza da fauna e flora da região, além de fazer um alerta sobre como o Velho Chico é tratado", declarou à Rádio Vermelho a escritora Socorro Lacerda, ao falar sobre qual é a contribuição do seu primeiro livro 'O Mistério do Sumiço do Velho Chico'.
 
Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo


O Mistério do Sumiço do Velho Chico 
“O Mistério do Sumiço do Velho Chico” marca estreia literária de Socorro Lacerda. Foto: Clécio Almeida 
 
O livro, que marca a estreia da escritora no rol da literatura infantil, conta a história de Claraluz e do seu empenho em preservar as águas do Rio São Francisco. A trama começa quando a e pequena Claraluz percebe que o rio havia sumido e em seu lugar só havia peixes desesperados que se debatiam em meio a pneus, sacos plásticos e muita sujeira.

Com diversas ilustrações assinadas por Bruno Dante, a autora pontua que a obra que interage com o cenário nordestino e sertanejo do Velho Chico além de fomentar o imaginário para as lendas que povoam a região.


 
 
"Além do alerta sobre como estamos cuidando dos nossos rios, o livro propõe apresentar a beleza caatinga, demonstrando sua riqueza e potencialidade. Em mais, contribui também para romper com estereótipos e preconceitos que permeiam a cultura nordestina", externou a escritora.

Ouça na Rádio Vermelho a íntegra da entrevista:


Destaques do Vermelho

Paul Walker morre em acidente na Califórnia



O ator americano Paul Walker, de 40 anos, morreu em um acidente de carro em Santa Clarita, na Califórnia, Estados Unidos, na tarde de sábado. Um amigo dele, que dirigia o Porsche, também morreu. A informação foi publicada pelo site "TMZ" e confirmada através da página oficial do artista no Facebook.
- É com pesar no coração que nós confirmamos que Paul Walker morreu hoje em um trágico acidente de carro enquanto participava de um evento de caridade para sua organização "Reach Out Worldwide". Ele era um passageiro no carro de um amigo, em que ambos perderam suas vidas. Agradecemos sua paciência enquanto nós também estamos atordoados e tristes em acreditar nesta notícia. Obrigado por manter sua família e amigos em suas orações durante este tempo muito difícil. Faremos o nosso melhor para mantê-los informados para onde enviar condolências - informou a mensagem publicada no início da madrugada deste domingo.
Paul Walker se tornou conhecido em 2001 após interpretar Brian O'Conner no filme Velozes e Furiosos e na sequência + Velozes + Furiosos. Seus outros filmes incluem os sucessos Perseguição - A Estrada da Morte, No Rastro da Bala e Resgate Abaixo de Zero.
Agência O Globo