sábado, 13 de agosto de 2011

Para Odete Rocha, só a Prefeitura interessa em 2012


Por Aluysio, em 12-08-2011 - 20h34

Diferente da vereadora petista Odisséia Carvalho e do médico Makhoul Moussalém (ainda sem partido), a professora Odete Rocha não trabalha com a possibilidade de se candidatar à Câmara Municipal, como alternativa à eleição majoritária de 2012. Neste sentido, ela não confirmou, no entanto, as informações passadas aqui pelo jornalista e blogueiro Saulo Pessanha, dando conta de que, a partir de pesquisas, Sérgio Cabral (PMDB) já a teria escolhido como o nome de oposição com mais chances no enfrentamento contra a prefeita Rosinha (ainda no PMDB). Segundo Odete, isso teria que ser confirmado pelo próprio governador, em reunião com a Frente Democrática de Oposição anunciada aqui desde o dia 19 de julho, mas com data ainda a marcar. Com várias críticas à gestão Rosinha, a pré-candidata comunista aposta na busca, entre os próprios campistas, de uma equipe técnica para se governar melhor o município.

Folha da Manhã – Junto com a vereadora petista Odisséia Carvalho, você foi a integrante da Frente Democrática de Oposição mais presente nos encontros com lideranças no Rio de Janeiro. Quais foram os frutos reais das reuniões com o deputado André Corrêa (PPS), o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o deputado Paulo Melo (PMDB) e o presidente do PMDB Jorge Picciani?
Odete Rocha – Gostaria de ressaltar que a agenda realizada com essas lideranças do Estado tem um aspecto positivo na medida em que ficou clara a existência de uma oposição organizada em Campos, que discute um projeto em comum, mesmo dadas as diferenças na formação de cada partido, mas que vem discutindo um projeto consequente para uma cidade que daqui a algum tempo comportará um grau de desenvolvimento que, se não tratado com a devida justeza, terá desdobramentos imprevisíveis e até irreversíveis. Outro aspecto é que, na busca desses apoios, a Frente encontrou eco. E se houve eco é porque estamos no caminho certo.

Folha – Desde o encontro com Paulo Melo, foi anunciado um encontro com o governador Sérgio Cabral, ao qual seriam convidados todos os parlamentares fluminenses dos partidos que compõem a Frente. Por que ele ainda não foi marcado? Quando será?
Odete – Tudo que estava ao alcance da Frente Democrática nesse sentido foi feito, na medida que tomamos todos os encaminhamentos. Estamos aguardando que a reunião com o governador Sérgio Cabral aconteça o mais breve possível. Acreditamos que o encontro ainda não aconteceu por algum problema de agenda.

Folha – Na reunião com Picciani, ele limitou em três as candidaturas dos partidos que integram a Frente, para que estas pudessem contar com o apoio de Cabral. Concorda com esse limite? Como definir essas três candidaturas em comum acordo entre todas as legendas?
Odete – É importante salientar que a discussão do número de candidaturas partiu da Frente Democrática. Na reunião com Picciani, onde apresentamos uma pauta escrita, este ponto, de fato, cabia nela. O número de candidaturas da Frente Democrática faz parte de um debate político, de uma avaliação do quadro municipal, buscando não uma pulverização de votos, mas uma estratégia que nos conduza ao segundo turno. Como a decisão foi conjunta, fica claro que esse também é o nosso pensamento. O caminho que a Frente vem traçando é de ter parâmetros sobre o potencial de cada nome apresentado como pré-candidato. No nosso entender, o pragmatismo eleitoral vai apontar quem, de acordo com as pesquisas eleitorais, terá condições concretas de disputa.

Folha – Enquanto Rosinha esteve cassada e uma nova eleição chegou a ser marcada, você e o PV de Andral pareciam próximos da coligação. Agora, consta nos bastidores que os verdes terão candidatura própria à Prefeitura em 2012. Há ainda essa possibilidade de composição?
Odete – Olha, nós entendemos que política não caminha em linha reta. E até 2012 muita coisa pode acontecer. Respeitaremos as decisões do PV, mas confesso que ter o Andral caminhando ao nosso lado seria uma boa composição política.

Folha – Em entrevista ao blog Opiniões (aqui), republicada na Folha, o médico Makhoul Moussalem a elogiou e disse ver com bons olhos a possibilidade de vocês dois caminharem juntos em outro pleito, a exemplo do que já fizeram em 2006. Mesmo que Makhoul ainda não tenha se definido entre PMDB e PT, como enxerga essa alternativa?
Odete – Dr. Makhoul é para mim muito mais do que um aliado político. Com ele, caminhamos em 2006, e, em 2008, foi de extrema importância o apoio dele à nossa candidatura. Temos um diálogo franco e fraterno, conhecemos os limites um do outro, o que torna o caminho político mais fácil. Mas como ele ainda não definiu seu futuro político, seria prematuro da minha parte ter uma posição neste momento.

Folha – Assim como Odisséia e o próprio Makhoul deixaram a possibilidade em aberto, há chance de que você abra mão da disputa majoritária para concorrer à Câmara? Caso sejam mesmo aprovadas as 25 cadeiras na próxima Legislatura, como parece ser a vontade de Garotinho, seria uma disputa menos difícil? Qual número de vereadores você julga ideal para Campos?
Odete – Na nossa opinião, o aumento de cadeiras na Câmara, ao contrário do que possa parecer, tornará a disputa muito mais acirrada, visto que o número de candidatos será muito grande. Mas não é este desafio que nos afasta dessa possibilidade. Nossa candidatura se apresenta de forma natural, que vem sendo construída há algum tempo. As pesquisas apontam o acerto que há neste processo de construção.

Folha – Quer você concorra ou não ao Legislativo, como estão as nominatas do PCdoB em Campos? Não só em relação ao seu partido, qual a importância terá para a oposição ampliar proporcionalmente suas quatro cadeiras entre as atuais 17?
Odete – Estamos construindo uma nominata equilibrada, mas que possibilite eleger vereadores, o que é, inclusive, uma grande tarefa do PCdoB em Campos. O aumento de cadeiras, no nosso entender, mesmo tornando a eleição mais difícil, vai contribuir para que haja uma renovação significativa no Legislativo. Pelo menos é isso o que esperamos e torcemos. Lógico que vai depender do eleitor.

Folha – Entre os nomes que surgem como pré-candidatos da oposição, você, Arnaldo Vianna (PDT) e Makhoul têm um residual já consolidado, pelas eleições majoritárias recentes que disputaram. Concorda com isso e com a perspectiva de que será o potencial de crescimento, a partir da rejeição de cada um, o melhor indicador das chances contra Rosinha?
Odete – Até 2012, muita coisa vai acontecer. Entretanto, deve ser considerado o acúmulo eleitoral de cada pré-candidato e também a possibilidade de crescimento. Mas é preciso fazer um trabalho político consistente para que o cacife eleitoral não só se mantenha, mas possa crescer. E nesse aspecto considero que quem tem menos rejeição junto ao eleitorado, tem mais chances de ampliar seu potencial eleitoral.

Folha – Baseado nessas possibilidades de crescimento, o jornalista Saulo Pessanha disse não só que você seria o nome mais viável eleitoralmente da oposição, como seria esta a conclusão já feita por Sérgio Cabral. Existe realmente essa indicação, com base em pesquisa, e esse entendimento por parte do governador?
Odete – Difícil responder essa pergunta, porque ainda estamos aguardando que aconteça a reunião com o governador Sérgio Cabral.

Folha – Em seus artigos na Folha, você vinha pautando suas críticas ao governo Rosinha, principalmente, na área da educação. No último, voltou as baterias às denúncias de paralisação de obras? Quais são, em seu entender, as principais deficiências da administração campista? Quais os motivos? Como fazer para melhorá-las?
Odete – Na Saúde, por mais que se anuncie aos quatro cantos que vai muito bem, as filas continuam acontecendo, deixando milhares de pessoas sem consultas diariamente. Além disso, faltam medicamentos para atender à população. Na educação, o quadro é desolador. São profissionais mal pagos, que convivem com péssimas condições de trabalho, sem falar que, até o fim do primeiro semestre, os alunos não tinham recebido todo o material escolar. Outro problema é a falta de oportunidades de trabalho. Podemos enumerar ainda a falta de infra-estrutura, que não dá qualidade de vida para a população, e o trânsito, principalmente na área central, que está cada dia mais caótico. Esses problemas e tantos outros poderiam ser resolvidos com duas simples medidas que devem caber ao gestor público: planejamento e bom uso dos recursos. Até porque, recursos a Prefeitura de Campos tem de sobra. Afinal, o orçamento deste ano é de nada menos que R$ 1,9 bilhão, e o do ano que vem, de R$ 2 bilhões.

Folha – Um problema do qual o governo Rosinha se ressente, embora só seja admitido nos bastidores, é a escassez de nomes para compor tecnicamente o governo. Se o grupo deles, que já governou o Estado do Rio duas vezes, padece desse problema, como você, ou outro nome da oposição, montaria uma equipe apta a lidar com as demandas de Campos e região, ampliadas pelo Porto do Açu e o Complexo Logístico de Barra do Furado?
Odete – De maneira alguma há escassez de bons nomes para compor tecnicamente um governo em Campos. Existe muita, mas muita gente competente e séria neste município. O problema está na escolha, que se reflete no tipo de governo que se pretende fazer. Pensar que num município com quase 500 mil habitantes não tenha gente capaz de conduzir de forma decente e competente uma administração é, no mínimo, menosprezar e subestimar a inteligência, a competência e a seriedade do nosso povo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Homenagem de Neruda ao Partido Comunista do Brasil


Por Pablo Neruda *

Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros,
quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,
que levei anos e anos no coração para dizer-vos, pensamentos
e saudações. Saudações das neves andinas,
saudações do Oceano Pacífico, palavras que me disseram
ao passar os operários, os mineiros, os pedreiros, todos
os povoadores de minha pátria longínqua.
Que me disse a neve, a nuvem, a bandeira?
Que segredo me disse o marinheiro?
Que me disse a menina pequenina dando-me espigas?

Uma mensagem tinham. Era: Cumprimenta Prestes.
Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.
Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.
E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-t
e nos conta amanhã o que viste.

Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeado
por um mar de corações vitoriosos.
Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viração
das bandeiras livres de seu povo.

Me lembro em Paris, há alguns anos, uma noite
falei à multidão, fui pedir auxílio
para a Espanha Republicana, para o povo em sua luta.
A Espanha estava cheia de ruínas e de glória.
Os franceses ouviam o meu apelo em silêncio.
Pedi-lhes ajuda em nome de tudo o que existe
e lhes disse: Os novos heróis, os que na Espanha lutam, morrem,
Modesto, Líster, Pasionaria, Lorca,
são filhos dos heróis da América, são irmãos
de Bolívar, de O' Higgins, de San Martín, de Prestes.
E quando disse o nome de Prestes foi como um rumor imenso.
no ar da França: Paris o saudava.
Velhos operários de olhos úmidos
olhavam para o futuro do Brasil e para a Espanha.

Vou contar-vos outra pequena história.

Junto às grandes minas de carvão, que avançam sob o mar,
no Chile, no frio porto de Talcahuano,
chegou uma vez, faz tempos, um cargueiro soviético.

(O Chile não mantinha ainda relações
com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Por isso a polícia estúpida
proibiu que os marinheiros russos descessem,
e que os chilenos subissem).
Quando a noite chegou
vieram aos milhares os mineiros, das grandes minas,
homens, mulheres, meninos, e das colinas,
com suas pequenas lâmpadas mineiras,
a noite toda fizeram sinais, acendendo e apagando,
para o navio que vinha dos portos soviéticos.

Aquela noite escura teve estrelas:
as estrelas humanas, as lâmpadas do povo.
Também hoje, de todos os rincões
da nossa América, do México livre, do Peru sedento,
de Cuba, da Argentina populosa,
do Uruguai, refúgio de irmãos asilados,
o povo te saúda, Prestes, com suas pequenas lâmpadas
em que brilham as altas esperanças do homem.
Por isso me mandaram, pelo vento da América,
para que te olhasse e logo lhes contasse
como eras, que dizia o seu capitão calado
por tantos anos duros de solidão e sombra.

Vou dizer-lhe que não guardas ódio.
Que só desejas que a tua pátria viva.
E que a liberdade cresça no fundo do Brasil como árvore eterna.

Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,
carregadas por estes anos entre a pele e a alma,
sangue, dores, triunfos, o que devem se dizer
o poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.

Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.

Um grande silêncio peço de terras e varões.

Peço silêncio à América da neve ao pampa.

Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.

Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.

Poema lido por Pablo Neruda no Comício do Partido Comunista do Brasil em julho de 1945 no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Retirado do livro “Canto Geral” (1950), 5ª edição brasileira, São Paulo, Difel, 1982.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A vida desmente os “Princípios Editoriais” da Globo


No momento em que o programa Fantástico divulgava os “Princípios Editoriais das Organizações Globo”, que consistem num conjunto de regras para a prática do jornalismo nas redações sob o comando da família Marinho (entre elas noticiários de TV, o jornal O Globo e a revista Época), o jornalista Rodrigo Vianna fazia uma denúncia extremamente grave que compromete a qualidade e a ética do jornalismo praticado na TV Globo.

Rodrigo recebera informação de fonte fidedigna de que a orientação a ser adotada para com o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, era a de dar apenas notícias negativas e só divulgar a tese de que sua escolha gera “turbulência” entre os militares.

A denúncia coloca sob suspeita as declarações de “boa intenção” dos “Princípios Editoriais” e confirma as práticas manipuladoras das Organizações Globo, uma rede nacional de televisão que nasceu em 1965 sob as bênçãos da ditadura militar de 1964.

O item “manipulação jornalística” na folha corrida da Globo é extenso e vale lembrar alguns deles. Em 1982, ela foi pivô de uma tentativa de fraude para impedir a vitória de Leonel Brizola para o governo do Rio de Janeiro, tendo sido parte fundamental no rumoroso “caso Proconsult”, que envolvia a manipulação da contagem dos votos naquela eleição.

Em 1984, o vexame foi tentar esconder a campanha pelas “Diretas Já” com o esforço patético de noticiar o comício que ocorreu na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro daquele ano (que reuniu mais de 300 mil pessoas), como comemoração do aniversário da cidade! "A cidade de São Paulo festeja os 430 anos de fundação", proclamou o Jornal Nacional...

No final da década de 1980, a manipulação ajudou a derrotar Lula e eleger Fernando Collor de Mello para a presidência da República. O truque consistiu em editar de forma favorável ao candidato da direita o debate ocorrido na emissora em 14 de dezembro de 1989. Era o “antiLula” em andamento, que permaneceu nos anos seguintes pautando o noticiário da emissora, chegando a nossos dias.

E que se manifestou, mais tarde, na tentativa de emporcalhar a campanha de Lula, em 2006, num conluio entre jornalistas da Globo e policiais em busca de notoriedade no episódio dos “aloprados”. A farsa, que envolvia a foto manipulada de pacotes de dinheiro, para aumentar sua dimensão visual, foi prontamente denunciada e desmontada por jornalistas que não se coadunam com a manipulação do noticiário.

Na eleição de 2010, a tomada de partido claramente a favor do tucano José Serra ficou nítida na entrevista feita com Dilma Rousseff no Jornal Nacional, no início da campanha eleitoral, durante a qual William Bonner chegou a perder a compostura ante uma candidata que não se curvava às pressões e alegações do “sábio” da telinha.

São apenas alguns episódios de uma extensa lista de manipulações e desrespeito ao direito público à informação cometidos por esse padrão de jornalismo de baixa qualidade exposto claramente, no final de 2005, quando um grupo de professores de comunicação visitou a redação do Jornal Nacional e assistiu, estarrecido, à maneira como as notícias são escolhidas para publicação. O critério usado por William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, era escolher as notícias que ele considerava ao alcance do entendimento de “Homer”, o apelido desrespeitoso dado ao espectador médio da Globo. Homer é o imbecilizado, preguiçoso e pouco inteligente pai da família Simpsons, um desenho animado norte-americano. E sua escolha como parâmetro indica a avaliação preconceituosa e depreciativa que a direção do jornalismo da Globo faz de seus espectadores.

O desrespeito à verdade e o uso de versões favoráveis aos interesses não confessados dos próprios veículos transparece ainda em “reportagens”, como a publicação requentada de denúncias falsas contra a Agência Nacional do Petróleo (ANP) pela revista Época, há duas semanas. Motivo da republicação mentirosa, ofensiva e desrespeitosa: foi uma retaliação (revanche?) da revista por não ter sido incluída pela ANP na campanha publicitária que comemorou os altos índices de não adulteração dos combustíveis alcançados pela fiscalização da agência, e que beneficia os consumidores.

Este passado (e presente) jornalístico desmente os “Princípios Editoriais” anunciados pela Globo, cuja leitura atenta não autoriza a conclusão de que as coisas possam mudar. Esta declaração de boas intenções proclama a necessidade de “isenção, correção e agilidade” como base do bom jornalismo, mas ela é desmentida em alguns pontos vitais. Por exemplo, repetindo o guru máximo desse tipo de jornalismo, o decadente e fragilizado Rupert Murdoch, assegura que “pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos, autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e líderes empresariais, entre outros – por definição, abdicam em larga medida de seu direito à privacidade”, uma pretensão que só encontra amparo na dos donos da mídia, e não na legislação. Além disso, defende o “uso de microcâmeras e gravadores escondidos” como legítimo, desde que seja “o único método capaz de registrar condutas ilícitas, criminosas ou contrárias ao interesse público”.

É sempre bom lembrar, neste particular, que nem os tribunais acatam “provas” obtidas de forma ilegal como escutas clandestinas e métodos semelhantes. Outro ponto: a Globo se declara apartidária, independente e laica, e defensora intransigente da democracia, da livre iniciativa e da liberdade de expressão. E embute, neste ponto, a rejeição de qualquer regulamentação da mídia ao dizer ser imperioso defender o “modelo de jornalismo de que trata este documento” contra “qualquer tentativa de controle estatal ou paraestatal”.

É uma declaração que pode indicar o motivo que levou a Globo a adotar seus “Princípios Editoriais”. Num mundo em que crescem as exigências democráticas de regulamentação da mídia, em que mesmo Rupert Murdoch, o magnata que levou sua escandalização ao paroxismo, está fragilizado e assiste à ruína de seu poder, há um sabor de autodefesa no movimento feito pela Globo. Que conflita com a exigência de democratização dos meios de comunicação: a regulamentação da mídia não é uma tarefa que cabe aos próprios veículos ou a seus proprietários. Ela é uma tarefa que cabe à sociedade e implica o reconhecimento por jornalistas e os donos da mídia de que também devem submeter-se às leis, da mesma maneira que todos os demais cidadãos.

www.vermelho.org.br

sábado, 6 de agosto de 2011

PCdoB debate quadro político nacional e internacional


A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) realiza nesta sexta-feira (5) um debate sobre o quadro político nacional e internacional. Durante intervenção, o presidente Nacional do PCdoB, Renato Rabelo falou sobre a segunda fase aguda da atual crise do sistema capitalista.

Segundo Rabelo, a primeira fase aguda de agravamento geral da crise sistêmica, surgida em 2008, gerou uma monumental crise econômica e financeira - vivida nesses dois últimos anos. O presidente Nacional do PCdoB reforça que não ter sido encontrada “saída” para sua superação, a crise “se desdobrou e se disseminou, desde o núcleo da estrutura do sistema”.

Leia abaixo a íntegra da intervenção de Renato Rabelo:

A segunda fase aguda da crise atual do sistema capitalista

O mundo vive a grande crise capitalista iniciada em finais de 2007/2008. Essa crise sistêmica, global, se desenrola em múltiplos desdobramentos. Os ideólogos capitalistas repetem análises superadas, que são incapazes de explicar os impasses sucessivos do curso econômico advindo da crise e encontrar os caminhos de saída. Muitos concluíam que a crise já ia se dissipando, demonstrando os limites da sua teoria econômica.

Por Renato Rabelo*

A primeira fase aguda de agravamento geral da crise sistêmica, surgida em 2008, gerou uma monumental crise econômica e financeira vivida nesses dois últimos anos. A crise não se dissipou não se encontrou a “saída” para sua superação. Mas ao contrário, ela se desdobrou, se disseminou, desde o núcleo da estrutura do sistema. Agora, podemos constatar que em meados deste ano de 2011, surge uma segunda fase aguda de agravamento geral da crise, determinada pelo nível do montante das dívidas dos Estados Unidos e da União Europeia, que está provocando: o risco de uma onda sucessiva de defaults; o derretimento da moeda padrão, o dólar; o conflito generalizado entre moedas (guerra cambial); o acirramento do protecionismo comercial. Tudo isso causando o efeito do “salve-se quem puder”, conseqüências que podem levar à estagnação do crescimento global. As bolsas que funcionam como uma espécie de termômetro -- que medem nesses momentos a intensidade da febre da crise - desabam em todo mundo. Este quadro de intensa desordem econômica e financeira aprofunda um período de grande instabilidade, transbordando no plano político em incertezas, conflitos, ameaças e grandes perigos, num mundo em que prevalece a ordem capitalista-imperialista.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mais uma vez numa hora decisiva, cede às forças ultraconservadoras. Como já prevíamos, o sistema encarnado por estas forças prevalece. Diante do aprofundamento da crise capitalista, na sua fase aguda, os círculos dominantes conservadores imperialistas se tornam mais agressivos e buscam desesperadamente saídas mais antidemocráticas, é a “reação em toda linha”. Obama -- ao aceitar pesados cortes orçamentários, que atingem programas sociais importantes, sem aumento de impostos para os mais ricos -- abre mão de compromissos fundamentais de sua campanha. A sua perda de prestigio é crescente entre a população que almejava as mudanças da situação reinante. E favorece as forças conservadoras e de direita que lutam por barrar seu caminho para a reeleição. Prevalece a lógica qu e aprofunda e alastra o desastre desta grande crise capitalista, porquanto predominam os cortes e a austeridade, que jogam todo ônus da crise nos ombros dos trabalhadores, para salvar os grandes banqueiros e monopólios. Essa tem sido a “saída” que leva a jogar mais combustível no incêndio.

É no contexto de mais um período de agravamento da grande crise -- onde o desastre se irradia, onde a desordem expressa à ação agressiva da defesa desesperada das grandes potencias capitalistas, dos seus grandes banqueiros e monopólios -- que mais exige audácia e independência das nações da chamada periferia do sistema, como é o caso do Brasil. Assim agiu Getúlio Vagas na grande crise de 1929/1930. Assim agiu Luiz Inácio Lula da Silva na fase aguda, em 2008, da grande crise atual, quando se dirigiu a nação para anunciar ao povo que era imprescindível continuar comprando, era preciso sustentar a ampliação do crédito, era preciso avançar no investimento, e não estancá-lo. Esta mobilização visava defender a nossa economia do contágio da recessão que se alastrava.

Agora, da mesma forma, diante de mais um episódio de agravamento geral do curso da grande crise atual, como afirmou a presidente Dilma Rosseff, requer de nossa parte ousadia, e citando Celso Furtado, declarou: “É preciso que sejamos senhores do nosso próprio destino”.

É com esse olhar que avaliamos as novas medidas de política industrial agrupadas no Plano Brasil Maior, recém lançado. Vinha crescendo o clamor em defesa da indústria nacional contra a concorrência estrangeira, entre os empresários e os trabalhadores. O desequilíbrio cambial internacional, expresso na tendência de desvalorização do dólar, somado às deficiências do setor produtivo em relação à inovação, vêm afetando a competitividade da nossa indústria. Portanto, já se exigia a iniciativa que o governo tomou esta semana.

O Plano demonstra esforços através de várias medidas fiscais, creditícias e regulatórias. Entretanto, elas se inserem apenas no aumento de benefícios anteriores. Em face do agravamento agora da crise, medidas ousadas, como afirmou a presidenta Dilma, se impõem. Em conseqüência, temos que ir além das medidas microeconômicas. Torna-se uma exigência impostergável, para defesa da economia e da indústria nacional, medidas soberanas mais efetivas no terreno macroeconômico, que impeçam os fluxos descontrolados do dólar em nosso país, redução e não aumento das taxas de juros, num momento de nova expansão recessiva pela agudização da crise. A grande mobilização conjunta das Centrais Sindicais -- no dia 3 deste mês em São Paulo, reunindo 80 mil trabalhadores no Estádio do Pacaembu, em defesa das suas bandeiras e no esforç o de avançar no projeto nacional de desenvolvimento -- teve esse sentido.

O governo da presidenta Dilma conta com o apoio e simpatia da grande maioria da população. Conta com ampla base de sustentação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Cresce a autoridade da presidenta perante a nação. Portanto, reúne as condições políticas necessárias para aplicação de medidas soberanas, que o momento exige, na construção de uma alternativa que desbrave o caminho para construção de uma grande nação, soberana, justa e solidária.


* Renato Rabelo é presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil