"A Globo quer impedir uma segunda opinião
sobre a audiência em tevê. Ela só quer o Ibope. O que isso
significa para a democracia brasileira?", dispara o jornalista
Paulo Henrique Amorim, que também cita notícia dada pelo Instituto
de Mídia Alternativa Barão de Itararé, sobre blogueiros
perseguidos na Justiça por prefeitos, vereadores e empresários
suspeitos de corrupção.
E ainda pensam que o copo determina a
qualidade do vinho.
Este ansioso blogueiro participou de
seminário promovido pela Ajuris, a Associação dos Juízes do Rio
Grande do Sul e o blog Carta Maior, na quinta-feira da semana passada
(dia 3 de nov 11). Entre os expositores, o desembargador Claudio
Baldino Maciel, Pascual Serrano (do site Rebelión, da Espanha),
Juremir Machado, Breno Altman (Altercom), prof. Venicio Lima, Bia
Barbosa (Intervozes), deputada Luiza Erundina (líder da Frente
Parlamentar pela Democratização da Comunicação, e membro da
Comissão de Ciência e Tecnologia, que não consegue discutir a
renovação das concessões das redes de televisão), e o ex-ministro
Franklin Martins.
A seguir, trechos – não literais –
da exposição deste ansioso blogueiro:
A Globo tem um
pouco menos que 50% da audiência da televisão brasileira. E mais do
70% de toda a verba da publicidade da televisão brasileira. A
televisão detém 50% de toda a publicidade brasileira.
Do
tijolinho para vender uma moto usada em Joboatão ao break do Jornal
Nacional. Tudo somado, a TV fica com 50%.
Logo, a Globo, a
família Marinho, com 50% da audiência e 70% da verba, põe no bolso
R$ 0,35 de cada R$ 1 investido na publicidade da sexta (ou quinta)
economia do mundo. A Globo é uma empresa fechada, que explora uma
concessão de serviço público, o espaço eletromagnético, que
pertence ao povo brasileiro. Póóóde ?
Agora, a Globo quer
impedir uma segunda opinião sobre a audiência em tevê. Ela só
quer o Ibope.
O que isso significa para a democracia brasileira?
Em 1998, na eleição para governador de São Paulo, o Ibope, aqui
também chamado de Globope, fechou para o cliente Paulo Maluf, uma
pesquisa que o colocava à frente da Marta Suplicy. Essa mesma
pesquisa o Jornal Nacional divulgou na sexta-feira, na antevéspera
da eleição no primeiro turno. Com Maluf na frente da Marta. Só
que, na sexta-feira, a Marta já tinha ultrapassado o Maluf e ela é
que ia para o segundo turno com Mario Covas. Com o Globope do Jornal
Nacional, muitos eleitores da Marta preferiram o "voto útil”
e votaram no Covas, para derrotar o Maluf. Maluf foi para o segundo
turno com Covas e assim Covas se elegeu governador de São Paulo.
Na
segunda-feira, este ansioso blogueiro, apresentador do Jornal da
Band, entrevistou o deputado federal mais votado, José Genoino, do
PT. E nos bastidores avisou que ia perguntar sobre a patranha do
Globope contra a Marta. Genoino reagiu enfaticamente: não, sobre
isso eu não falo!
Na Argentina – ah!, que inveja da
Argentina! – a Cristina Kirchner comprou o "Brasileirão” da
Globo (Clarin) e exibiu no horário nobre da TV Educativa. E
distribuiu o sinal para que outras emissoras exibissem quando lhes
desse na telha. Aí, a Cristina descobriu que o Ibope argentino dava
para o "Brasileirão” da TV Educativa uma audiência muito
menor do que quando era da Globo (Clarin).
O que fez a Cristina?
(Ah!, que inveja da Cristina!) Rompeu o contrato com o Ibope e pôs
uma empresa independente, supervisionada por acadêmicos de diversas
universidades, para medir a audiência. O Ibope da TV Educativa ficou
parecido com o que o "Brasileirão” dava na Globo
(Clarin).
Sabe quem era o Ibope da Argentina? O Ibope do Brasil! O
mesmo! Só que lá era conhecido como Ibopín…
O nobre
deputado gaúcho Henrique Fontana (PT), relator do projeto da Reforma
Política, informa que, com menos de R$ 500 mil, não se elege um
deputado estadual no Rio Grande do Sul. E com menos de R$ 1 milhão
ninguém se elege deputado federal (Por isso ele defende o
financiamento publico exclusivo, mas o PSDB e o PMDB são contra por
que preferem o Caixa Dois, que é a alternativa ao financiamento
público?). E o que tem o Globope com isso? Porque se um partido sai
mal nas pesquisas do inicio da campanha, babau. Não tem
grana.
Globope e Datafalha, que dão invariavelmente o "Cerra"
na frente nas pesquisas iniciais, são uma chave para abrir o cofre
dos financiadores: empreiteiros, industria farmacêutica, educação
privada, tabaco … O que isso tem a ver com a democracia?
Tudo!
Daqui a pouco, os parlamentares vão se vestir como
piloto de Fórmula Um: cobertos de patrocinadores. O que isso tem a
ver com uma Ley de Medios? Tudo! A Globo é o elefante na sala da
Democracia.
Nos últimos três anos, caiu a audiência da
Globo. Mas, ela não perde espectador nem um centavo de publicidade
para os concorrentes. Perde para si própria. Perde audiência para
os que vão para a internet e seus diferentes portais; para o cabo e
o satélite e assistem à programação nacional controlada pela
Globo; ou compram o "Brasileirinho” no pay-per-view.
Três
famílias controlam a mídia de um país de 200 milhões de almas. Os
Marinho (e seus donatários, como a RBS), os Frias, e os Mesquita,
que sublocaram o Estadão aos bancos estrangeiros credores.
Essas três famílias e seus donatários controlam tevê, rádio,
jornal, revistas, agencias de notícias e portais na internet. E num
mesmo mercado – e tome propriedade cruzada!
Nenhuma nova
democracia no mundo toleraria essa concentração de poder. "Novas
democracias” são Portugal, Espanha, Argentina, México, Chile,
Uruguai. Essa é uma jabuticaba brasileira. Antonio Carlos Magalhães
dizia: se não saiu no Jornal Nacional não aconteceu. Caetano, antes
de trabalhar na Globo, dizia que assistia ao Jornal Nacional para
saber o que o Jornal Nacional queria que ele pensasse que
aconteceu.
O Ricardo Teixeira diz que enquanto a Globo não
falar mal dele, nada lhe acontecerá. Hoje, fica assim: se não saiu
no Jornal Nacional, NÃO aconteceu. E isso tende a se perpetuar, até
que a televisão morra para dentro de sua própria obsolescência
tecnológica. O presidente Lula não fez e a presidente Dilma não
fará uma Ley de Medios. O ministro Bernardo adiou a discussão sobre
o assunto para 2012.
Para que o PiG (*) não diga que a
discussão ficou prejudicada pelas festas do Natal. Em 2012,
pondera-se, tem o Carnaval, a Semana Santa e as eleições para
prefeito. 2013 fica muito perto da eleição de 2014 e o PiG vai
dizer que é manobra para censurar o PiG. 2014, nem pensar.
Quem
ousará tocar na Globo num ano de eleição!
Aparentemente, o
governo Dilma tem uma visão temotecnicista da liberdade de
expressão. "Temo”, porque teme a Globo. "Tecnicista”,
porque acredita que a banda larga vai promover a democracia.
É
como acreditar que o copo determina a qualidade do vinho. Outro
ingrediente dessa "democracia” brasileira no campo da
liberdade de expressão, é a reprodução, aqui, de manobra que não
deu certo nos Estados Unidos. Calar os independentes com processos
judiciais. Censurar pelo bolso.
Tentar manipular a Justiça. É o
caso da perseguição aos blogs que o Padim Pade Cerra chamou de
"sujos”.
No Instituto de Mídia Alternativa Barão de
Itararé, temos notícia de dezenas de blogueiros perseguidos na
Justiça do interior do Brasil por prefeitos, vereadores e
empresários suspeitos de corrupção. Juca Kfouri é o campeão
nessa prova. Ricardo Teixeira move contra ele 50 ações judiciais.
Nassif, Azenha e Rodrigo Vianna são vítimas da mesma estratégia.
Devo ser o vice-campeão. Costumo afirmar no Conversa Afiada, "diz-me
quem te processa e dir-te-ei quem és”. Ou como dizia o ínclito
presidente Itamar Franco, fundador do Plano Real e do programa de
genéricos, "quem melhor me define são meus inimigos e, não,
meus amigos”.
Sofro, provisoriamente, 40 ações, com a
recente entrada de Paulo Preto no elenco. Treze das ações são de
autoria do banqueiro condenado Daniel Dantas. Também sou homenageado
por Gilmar Mendes (autor de dois HCs em 48 horas para tirar Daniel
Dantas da cadeia), Heráclito Fortes, Eduardo Cunha, Naji Nahas e
outros da mesma estirpe. É uma galeria que me honra. Mas, acima de
tudo, é uma agressão à liberdade de expressão. É a tentativa de
manipular a Justiça para censurar jornalistas pelo bolso. (No caso
deste ansioso blogueiro, a tentativa é inútil.)
Acabo de
voltar do México, onde se acredita que o Partido Revolucionário
Institucional, o PRI, vai voltar ao poder na eleição presidencial
do ano que vem. Segundo o Premio Nobel Mario Vargas Llosa, em
entrevista ao jornal Excelsior, da cidade do México, o PRI
vai voltar ao poder, para fazer um acordo com o narcotráfico. Foi
Vargas Llosa quem disse que, nos 70 anos em que esteve no poder, o
PRI construiu uma "ditadura perfeita”. Por fora, uma
democracia. Por dentro, uma ditadura.
"Ditadura perfeita” –
é o Brasil no campo da liberdade de expressão.
(*) Em
nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa
qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de
televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se
transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa
Golpista.
Fonte: Blog Conversa Afiada